É possível que Maria, 14 anos, tenha conhecido João, 18, na escola. Talvez ela seja do sétimo ano fundamental (antiga sexta série), e ele do segundo ou terceiro ano do ensino médio, após perderem alguns anos. Ficar com um menino do ensino médio pode ter sido uma alternativa aos menos interessantes colegas da mesma idade – as meninas sempre estão à frente dos meninos.
Não é difícil que o olhar de João tenha se encantado pela “novinha”. Quem sabe uma festa da escola, um pagode no bairro. Troca de WhatsApp, comentário na foto do “Face”. Daí para o beijinho, acompanhar até perto de casa. Até que “rolou”. No improviso, na curiosidade, na paixão quente, irresponsável e intensa.
Maria engravida. João é pai.
Embora todo o resto da história, e o nome dos personagens, não passe de exercício criativo de ficção, o final é real e concreto: Maria, 14 anos, é mãe. João, 18 anos, é pai. Dois jovens feirenses que se desentenderam na última semana, tendo entre eles a filha de apenas 6 meses.
Maria chegou por volta das 11h30 à Base Comunitária da Polícia Militar do bairro George Américo, desesperada, pois João lhe tinha tomado a filha, um bebê ainda em amamentação. Para tentar mediar o conflito, quatro policiais militares foram à casa onde estava João, no bairro Campo Limpo: o Sargento Natanael e os soldados Rios, Rafael e Nunes.
“Mas esse não é o instinto policial, que muitas vezes é movido por um sexto sentido inexplicável”
João estava perturbado, choroso, nervoso. “Ninguém vai tirar minha filha de mim”, dizia aos policiais. Após insistirem, João finalmente entrega o bebê aos militares, e se recolhe no interior da casa.
Nesse momento, o problema estava resolvido. O senso comum se aliviaria com o bebê entregue a sua jovem mãe. Era apenas uma briga de casal como tantas que surgem no dia-a-dia de qualquer policial. Cada um no seu canto esfriaria a cabeça, e depois tudo seguiria bem.
Mas esse não é o instinto policial, que muitas vezes é movido por um sexto sentido inexplicável, levando-o a detectar tonalidades muito difusas da ocorrência em que está inserido. Após entregarem o filho a Maria, acalmando-a, o sargento e os três soldados entraram na casa de João, e o encontraram pendurado, com uma corda no pescoço, já em processo de enforcamento.
Os policiais militares seguraram João e cortaram a corda, salvando seus 18 anos de vida. Por pouco.
Em um novo exercício criativo, dessa vez para conceber o futuro, vários caminhos são possíveis para João, Maria e sua filhinha. Alegrias, tristezas, medos, esperanças, tédios ou ânimos.
A boa notícia é que todas as possibilidades estão disponíveis, pois a vida ainda existe. Graças à ação de quatro policiais militares, que nem sempre são percebidos por aquilo que evitaram, pois não existe estatística para o que deixou de ocorrer.
Adorei essa cronica do quase enforcamento. Ótimo texto Danilo. Parabéns! Sou uma feirense vivendo em terras lusofonas.