Das coisas que noto quase extintas hoje em dia, seguem duas: gente sem tatuagem e gente que recrimina um tatuado. Em 2002, quando fiz meu primeiro risco na pele, assustei a família e os colegas de escola. De lá pra cá, já fiz outras. E não somente as reações têm sido diferentes como chego a passar contatos de tatuadores conhecidos a quem me liga ou escreve perguntando. Não apenas isso: tenho visto técnicas mais elaboradas, cores mais diferentes, traços cada vez mais finos, estúdios mais equipados, qualificados e primorosamente decorados. Se tatuagem vicia? Risos. Ainda não consegui parar.
Abaixo, seguem 4 tatuadores feirenses (ou considerados feirenses) bem marcados por aí, por aqui, por acolá.
Sanio
“Ser um bom tatuador em Feira de Santana é simplesmente ir ao parque e poder brincar”. As palavras de Sanio Cleice Magalhães Luz, o conhecido Sanio Tattoo, apontam duas de suas fortes marcas: competência e prazer pelo que faz.
Feirense há 36 anos e tatuador há 11, Sanio é um dos profissionais mais respeitados da cidade. Seu estúdio realiza, por mês, uma média de 200 tatuagens. Entre homens e mulheres, para ele, os homens correspondem a 70% do público feirense tatuado. Embora a preferência de Sanio seja o realismo, ele tatua todos os estilos. Artes relacionadas a tribais e símbolos religiosos, além de frases em homenagens são os interesses recorrentes do público masculino. Já as mulheres, em sua maioria, pedem borboletas, nomes, florais e adereços indianos.
Realizar sonhos, libertar pessoas de traumas, proporcionar elevação da autoestima, viver com mais alegria e ainda poder ser reconhecido nacionalmente são os maiores prazeres que ele sente pela profissão. Realizar, libertar, proporcionar, viver e ser reconhecido. Todos esses poderes foram conquistados com qualidade e profissionalismo, acompanhando a evolução das técnicas e dos materiais de tatuagens (segundo ele, o mercado é milionário), participando de convenções, priorizando as normas de higienização e preparando o melhor ambiente para receber seus clientes: “Sempre procuramos trabalhar dentro das normas e com maior higiene possível, fazendo com que o estúdio de tatuagem atual seja um ambiente completamente confortável, limpo e agradável aos olhos de todos, fazendo, assim, com que a tatuagem seja vista como ela realmente deve ser”. Em seu estúdio, já passaram nomes como Denny, da Timbalada.
Quando lhe perguntei sobre o cenário dos tatuadores feirenses, ressaltou que a cidade conta com um grupo seleto no qual se pode confiar. No entanto, “ainda temos muitos oportunistas se passando por tatuadores, que nem podemos chamá-los de profissionais”. Vão ao parque, mas não acompanham os malabarismos de Sanio.
Sanio está no Instragram e no Facebook.
Sanio Tattoo Tatuagem e Piercing
Av. Getúlio Vargas, 2020, Ponto Central
Feira de Santana – BA
75 3622.8606
KOALA
Entre os tatuadores feirenses mais conhecidos está Rodrigo Moreira de Carvalho. Hoje com 30 anos, há 9 anos vem aperfeiçoando seu traço com apurado equilíbrio, como todo bom “Koala”. Nesse tempo, notou que a sociedade vem encarando a tatuagem de um modo muito mais positivo, e isso se deve à seriedade e ao aperfeiçoamento com que essa arte tem sido conduzida pelos profissionais. O mercado dos materiais de tatuagem, por exemplo, vem crescendo e melhorando suas tecnologias. E por acreditar nisso, Koala busca conhecimento e evolução na arte, de modo a trazer mais benesses para Feira. Segundo ele, infelizmente, o Koala Estúdio é um dos poucos estúdios locais a se preocupar com qualidade e evolução: “Muitos caem de paraquedas no meio, fazem de qualquer jeito e acabam sujando a imagem”. E quando ele fala de qualificação, não se refere somente a técnicas, mas também à biossegurança, higiene etc. Analisa o cenário dos tatuadores feirenses como “fraco, pouco estudo e muito ego”. No sentido oposto está o público feirense, mais criterioso e atento, sobretudo de dois anos pra cá: “Acho que estão percebendo que só existe mau profissional porque tem quem pague e sustente isso.”.
Conhecido pelo primor no realismo colorido, Koala ministra workshops de técnicas de tatuagem realista para tatuadores em todo o Brasil e é o único tatuador da Bahia patrocinado pelas empresas Eletric Ink, Evolution Machines e Reilly Tattoo. Além disso, já recebeu 20 prêmios em convenções brasileiras e, em novembro, representará Feira de Santana numa convenção fora do país. Ainda sobre eventos da área, falou da 1ª Convenção FSA Tattoo, que ocorrerá em 2016, e se mostrou animado em trazer amigos tatuadores para a cidade.
No Koala Estúdio, chega a fazer 80 tatuagens por mês (3 por dia, com horário marcado) e já tatuou celebridades, como o humorista Marcelo Marrom. Koala ouve de muitos a pergunta “Já pensou em sair de Feira?”. A resposta é enfática e garrafal: “NÃO! Dificuldades todos os trabalhos têm. Mas amo minha cidade e tudo que consegui construir aqui.”.
Koala está no Instagram e no Facebook.
Koala Estúdio
Rua Castro Alves, 1354, Centro
Feira de Santana – BA
75 3022.0380
SILVINHO
Joaquim de Oliveira Pereira é o pioneiro da tatuagem em Feira de Santana. Mas é como “Silvinho” que ele é conhecido. “Ah, aquele lá no Edf. Mandacaru?”. Exatamente! Ele mesmo! Em 2002, conheci tudo de uma só vez: Silvinho, suas canções e piadas contadas (cantadas) com o playback do barulhinho da máquina de tatuar. E, assim, a tatuagem me marcou.
Silvinho não lembra exatamente quando começou a tatuar, mas conta que sua inspiração surgiu ao ler numa revista uma matéria sobre Knud Harald Lykke Gregersen, mais conhecido como Lucky Tattoo, o primeiro tatuador profissional no Brasil (Lucky era dinamarquês e, em 1959, aportou em Santos – SP trazendo a primeira máquina de tatuagem para o país).
Aos 48 anos de idade, Silvinho não titubeia ao dizer que, do início do seu trabalho até os dias de hoje, muita coisa mudou, sobretudo a sociedade, que, segundo ele, “ficou menos hipócrita”. Quando o foco é Feira, diz que “hoje existem muitas pessoas que aprenderam a ver a tatuagem como uma arte verdadeira, sem o preconceito arcaico dos ignorantes”. Silvinho reconhece que aqui “existem muitos caras bons fazendo arte com respeito aos clientes”. Não se apega a nomes, mas não dispensa os parabéns.
Embora tatue vários estilos, é o realismo que ele mais curte. O tempo de estudo e dedicação à arte da tatuagem lhe rende um currículo de prêmios, homenagens em convenções e participações como jurado, a exemplo do 7º Encontro de Tatuadores, que ocorrerá em Juazeiro (da Bahia), em novembro deste ano.
Silvinho está no Pikore e no Facebook.
Silvinho Tattoo
Rua Conselheiro Franco, 200, Centro
Edf. Mandacaru, 2º subsolo, sala 12
Feira de Santana – BA
75 9908.7500
GABRIELA DROGUETT
Gabriela Droguett Macedo é a única mulher e a caçula desta lista. Não é feirense de nascida, mas já morou aqui por 4 anos, na adolescência. O apreço é tão grande que fez aqui os melhores amigos e hoje já dialoga com o marido, Pedro, sobre a possibilidade de um dia fazerem de Feira o canto dos dois. Gabriela conta que, quando morou em Feira, ainda não tatuava, mas voltava pra casa toda pintada de henna, feita por “um ‘crazy’ lá perto da Av. Sr dos Passos. (risos)”.
A primeira tatuagem que escolheu pra si mesma foi feita por uma mulher. “Isso me motivou a me tornar tatuadora, pois até então eu achava que era profissão de homem, como piloto de avião”. Apesar da cara de menina, Gabriela já é bastante reconhecida na área. Mas conta que quando começou, há 9 anos, não era assim. “No início foi bem difícil, pois eu era muito jovem e mulher, num meio quase 100% masculino. Naquela época, alguns clientes se recusaram a fazer tatuagens comigo”.
Se já houve recusa, Gabriela conta que hoje a dificuldade é atender todo mundo. Isso porque seu trabalho está firmado, sobretudo pela sua especialidade na lettering tattoo, a tatuagem escrita, e por criar letras exclusivas. “Foi um processo gradativo. Eu sempre fui muito perfeccionista e sempre vi tatuagens escritas mal feitas, como se não merecessem devida atenção. Aí comecei a fazer com mais cuidado cada projeto, tentando sempre fugir do ‘Word’. Com isso, as pessoas começaram a me procurar para fazer escrita e aí comecei a estudar mais sobre caligrafia”. No currículo, possui cursos de caligrafia clássica e moderna e cursos de lettering. Por se dedicar (exclusivamente) a um trabalho mais delicado, que é a escrita, o seu maior público é composto por mulheres. Chega a fazer 70 tatuagens por mês. Como precificar uma tatuagem? “Depende da dificuldade de criação e execução”.
Gabriela se mostra feliz com o cenário baiano crescendo. E acrescenta sobre a necessidade de novos eventos da área, sobretudo para divulgação dos trabalhos dos novos profissionais. Contou ainda que o cenário soteropolitano se divide entre os tatuadores que competem e os que se ajudam. “Ainda não existe tanta abertura entre os profissionais. Vai saber…”. E sobre o cenário feirense? O que você tem a dizer? “Tenho ouvido nomes muito fortes de Feira em Salvador. Koala e Sanio encabeçam a lista. São muito bem reconhecidos por aqui.”
Gabriela está no Instagram e no Facebook.
Estúdio Tattoo Arte
Av. Paulo VI, 1984, Pituba
Edf. Santa Elisa, 3º andar
Salvador – BA
71 3015.0299