Feira de Santana, além de ser um dos mais importantes polos industriais e comerciais do Brasil, há muito deixou claro que é igualmente importante culturalmente. Uma cidade que possui bibliotecas, Filarmônicas, centros culturais, Universidades, Faculdade de Música; rica de bons músicos, de teatro, e, claro, de grandes poetas e escritores. Algo que se pode perceber pelos muitos feirenses que se têm destacado no cenário literário nessas últimas décadas.
Muitos desses mais novos nomes podem ser conferidos na antologia “Cantares de Arrumação: panorama da novíssima poesia de Feira de Santana e Região” (Mondrongo, Itabuna, 2015), organizada por Silvério Duque, com lançamento marcado para o dia 22 de setembro, quinta-feira, na 9ª Feira do Livro da UEFS, cuja proposta não é menos que compilar, em uma mesma obra, os principais nomes da literatura feirense e região; àqueles que lançaram seus livros a partir dos primeiros anos deste século, e que vêm, cada uma à sua maneira, garantindo destaque e prestígio nos meios literários desde então.
A ideia de organizar um panorama da novíssima poesia feirense e região, segundo seu organizador, parte de um projeto muito maior e há muito posto em prática pela Mondrongo, afirma Silvério Duque. Ao lançar sua antologia: “Diálogos: panorama da nova poesia Grapiúna”, o poeta e editor, Gustavo Felicíssimo, audaciosamente, achou por bem da literatura baiana e de seus poetas e leitores, estender tamanho trabalho a outras regiões do Estado, e, assim, traçar, da melhor forma possível, um painel com o que de mais novo e melhor se tem feito em matéria de poesia em toda Bahia; desta forma, foram-se editando um “panorama” da poesia da região norte, chapada, oeste da Bahia, etc.
A incumbência de traçar um retrato da novíssima poesia de Feira de Santana e Região ficou com o poeta Silvério, natural de Feira, que é também músico profissional e professor de Literatura Brasileira e História da Arte. Silvério, que é autor de cinco livros de poesia (três, pelo menos, no mercado): “O crânio dos Peixes” (Ed MAC, 2002), “Baladas e outros aportes de viagem” (Edições Pirapuama, 2006), “A pele de Esaú” (Via Litterarum, 2010), “Ciranda de Sombras” (É Realizações, 2011) e “Do Coração dos malditos” (Mondrongo, 2013) – este último já em sua segunda edição -, diz que a maior dificuldade de se fazer um trabalho como esse é estabelecer critérios rígidos para compilação em um universo tão vasto de ideias, estilos e temas; por isso mesmo, segundo ele: “tive que escolher não só autores nascidos em Feira, mas autores que escolherem a ‘Princesa do Sertão’ para morar, ou se fizeram, educaram-se e se descobriram versificadores por aqui, principalmente através da UEFS”. E completa: “a antologia era para destacar os principais nomes de nossa poesia entre os novos poetas, mas escolhi poetas mais experientes por terem lançado seus primeiros livros há pouco; ou seja, estão começando agora também; são tão ‘novos’ quanto os demais”.
Além da organização de Silvério Duque, “Cantares de Arrumação…” conta também com capa ilustrada por Gabriel Ferreira, artista plástico nascido em Tanquinho, ou seja, completamente inserido no contexto da obra, e texto do poeta Antonio Brasileiro. “Cantares de Arrumação…” conta com nomes de significativo destaque na atual poesia baiana como Luiz Antonio Carvalho Valverde, Sandro Penelú, Anne Cerqueira, Araylton Públio, Patrice Machado de Moraes, Fábio Bahia, Idmar Boaventura, Herculano Neto, Ísis Moraes, Ribeiro Pedreira (Dado), Ronald Freitas Anunciação, Nívia Maria Vasconcellos, Valquíria Lima, Thiago El-Chami, Wesley Correia e Clarissa Macedo. Para o poeta Antônio Brasileiro, que também prefacia a antologia, são “todos herdeiros da grande linhagem que vai de Baudelaire, na França, a Drummond, entre nós, passando por Mallarmé, Rimbaud, Valéry, Eliot e o grande Fernando Pessoa, estão (e sabem disso) imbuídos daquela certeza maior dos criadores: há sempre que perguntar pelo sentido das coisas e do mundo. Como, sobretudo, quer a grande poesia”.
O livro conta também com um estudo de seu organizador sobre a história da poesia feirense, do século passado até agora. Segundo Silvério Duque: “a ideia do estudo é unir essa produção da poesia feirense desde Aloísio Resende, no inicio do século passado, seguindo com Eurico Alves Boaventura, e revista “Arco & Flexa”, não esquecendo, obviamente, do grupo “Hera” e seus representantes, unindo-os juntamente com seus contextos histórico-culturais a esses novos nomes que se descobrem agora em Feira de Santana”. Segundo o poeta e jornalista Emanoel Freitas, “a proposta de Silvério Duque em organizar uma antologia de novos poetas feirenses é mais um testemunho do desenvolvimento cultural de nossa cidade que agora ganha um registro especial” (Viva Feira, editorial; 25 de janeiro de 2016), e está mais do que certo.
O que esperamos de um trabalho como este é que ele seja lido e estudado, independentemente de concordar ou não com as escolhas e critérios do autor, para que estudos semelhantes surjam, e que a poesia baiana, e, juntamente com ela, a feirense, alcance alturas cada vez maiores.