A “Princesa do Sertão” é uma cidade fundada e composta por pessoas vindas de todos os lugares. Promissora desde o seu nascimento, ela oferece oportunidades para quase todos que chegam em busca de um futuro melhor. Mas como toda cidade do seu porte, Feira apresenta diversos problemas, um deles é a precariedade na regularização fundiária, no acesso à habitação e no cumprimento da função social da propriedade.
Cidade de contrastes
Se, por um lado, Feira de Santana foi uma das cidades que mais construiu moradias por meio do programa Minha Casa Minha Vida, e no passado recente construiu diversas moradias por meio de programas habitacionais como a URBIS, por outro, apresenta diversos bairros e conjuntos surgidos por meio de ocupações – muitas delas lideradas por George Américo, histórico defensor da causa dos sem-teto -, o que evidencia a necessidade de implementação de mais políticas públicas em prol da habitação tanto na Zona Rural, quanto na Zona Urbana.
Na Zona Rural vemos inúmeras e extensas terras que não cumprem sua função social. Na Zona Urbana vemos diversos terrenos sob responsabilidade da iniciativa privada e áreas que sofrem a chamada “especulação imobiliária”, assim dificultando o acesso para as pessoas mais necessitadas. A falta de um Plano Diretor atualizado (o último foi elaborado em 1992) é um dos fatores que reforçam tal situação. Atentos a essas circunstâncias, fomos até uma ocupação na Zona Norte da cidade, para conhecer de perto a realidade dos ocupantes que ali vivem.
A ocupação Lucas da Feira
A Ocupação Quilombo Lucas da Feira é um aglomerado de dezenas de moradias precárias numa antiga fábrica de beneficiamento de leite às margens da BR 116 Norte. Ali caminhão de lixo não entra, a oferta de serviços básicos como saúde e educação sub existem, saneamento é lenda e a distribuição de água e energia elétrica acontece de forma irregular – através dos famigerados “gatos”.
Autointitulada como quilombo – em referência à forma comunitária com que os quilombos se organizavam – a ocupação surgiu em 2011 através de uma mobilização tocada pelo MSTB (Movimento Sem Teto da Bahia). Em torno de 45 famílias aguardam ali pela desapropriação da área para que a mesma seja regularizada.
“Aqui somos desvistos pela sociedade, marginalizados”
Enquanto isso não acontece, vivem como podem. É o que nos conta Dona Fia, uma das ocupantes, mãe de cinco filhos e que está ali há pouco mais de quatro anos. “É assim, essa vida da gente aqui, somos praticamente desconhecidos. Não é por morarmos em uma favela, como dizem lá fora, que não somos cidadãos. Falta tudo aqui, falta creche, escola, curso profissionalizante… Aqui somos desvistos pela sociedade, marginalizados. O que eu gostaria não só para mim, mas como para toda comunidade, crianças, adultos e idosos era uma vida digna e melhor”.
O espaço central da comunidade é a Escola Comunitária Joquielson Batista – em homenagem a um dos líderes fundadores – que além de funcionar como instituição de ensino, também funciona como um espaço comunitário.
Em uma das casas encontramos uma jovem de 17 anos, mãe solteira de um filho de dois meses. Ela vive na ocupação há dois anos. “Minha mãe estava morando de aluguel, falaram com a gente da ocupação, consegui meu terreno, fiz meu quartinho e agora estamos aqui”, revela a menina que no auge da sua juventude reserva um sonho, o da casa própria.
Na área se formou toda uma dinâmica comunitária semelhante à de um bairro. Há até mesmo a oferta de serviços que complementam a renda das famílias, como bares, serviços de corte de cabelo e algumas casas que vendem geladinho.
A matriarca, Dona Lourdes, nos aponta a situação de abandono que o terreno estava quando chegaram ali. “Chegamos aqui tinha muito mato, pedra, muita abelha, matamos muita cobra e estamos aqui até hoje”. Ela ainda fala sobre as diversas formas que as pessoas fazem para conseguir seu sustento. “Cada um faz uma correria, uma lava uma roupa de ganho, outro faz uma diária de pedreiro ou de ajudante, outros têm uma carroça. Eu vivo mais de pesca e de algumas lavagens de roupa que faço”, ressaltou.
As dificuldades e o impacto da omissão só são reduzidos através da atuação de algumas pessoas. A Igreja Católica atua há algum tempo por meio de algumas pastorais, que dão certo auxílio aos habitantes do local.
Durante nossa visita, três senhoras da Igreja percorriam a comunidade de porta em porta, a fim de conhecer de forma mais profunda a realidade de cada um – talvez colocando em prática o tal amor de Cristo.
O espaço comunitário onde funciona a Escola Comunitária não é um local religioso, é um espaço coletivo do Quilombo Lucas da Feira onde se concentram os projetos comunitários que acontecem na ocupação, e não existe nenhum projeto de extensão da UEFS na ocupação, existe um inicio de dialogo entre a Escola e a UEFS, mas ainda nada concreto da parte da Universidade nesse sentido. Seria de bom senso tentar ouvir e entrar contato com as pessoas que realizam esses trabalhos antes escrever e publicar uma matéria. O contato pode ser feito pela página no facebook: fb.com/quilombolucasdafeira
Lucas da Feira….seria bom evitar nomes de bandidos para nomear qualquer coisa que seja.