Embora nascido em Conceição do Jacuípe, o babalorixá Osias Alves Amorim se notabilizou em Feira de Santana como uma das figuras de relevância simbólica popular na década de 80 e 90. Ficou conhecido pelas premonições que fazia, como lembra Adilson Simas:
“Em 1990, por exemplo, depois de realizar o Ifá (jogo de búzios), Painho declarou para a edição de sábado, 22 de dezembro da Folha do Norte:
– O deputado José Ronaldo será um dos mais prestigiados do governo ACM (a posse do governador aconteceu em março) e terá destacado desempenho na Assembleia Legislativa.
– O prefeito Colbert Martins, mesmo sem o apoio da câmara, continuará realizando um dos governos mais produtivos e honestos do Brasil.”
Em discurso na Câmara dos Deputados, em 2005, o então Deputado Federal Fernando de Fabinho citou Painho da Bahia, apontando-o como responsável pelo apelido de “Tracajá” atribuído ao fotojornalista e ativista cultural Reginaldo Pereira. Segundo Fabinho, “foi Osias Alves Amorim, o conhecido Painho da Bahia, recentemente falecido, foi quem deu lhe o mote. Numa tarde de sábado, numa mesa do tradicional Bar do Vital, no bairro Kalilândia, onde estavam reunidos, além de Reginaldo, Antônio Conceição (Pé de Pato), o fotógrafo Valdenir Lima e outros amigos, Painho da Bahia, que residiu em Manaus quando jogava futebol na equipe do São Raimundo, contou que encontrara algumas amigas feirenses durante uma caminhada cívica na capital Amazônica e, ao avistar as amigas, teria exclamado: ‘O que essas tracajás estão fazendo aqui?’.
“Tracajá é uma tartaruga existente em grande quantidade nos rios da Amazônia. Foi então que Reginaldo começou a utilizar o termo de forma pejorativa na coluna Foto & Grafia (no Jornal Folha do Norte). Com o passar do tempo, porém, ele resolveu reverter essa história e passou a valorizar mais a tartaruga, hoje em vias de extinção, passando a chamar de tracajás aquelas pessoas que se destacavam por alguma ação desenvolvida nos vários segmentos da sociedade”.
Edson Felloni Borges, atual Secretário de Cultura de Feira de Santana, fez um relato significativo sobre Painho da Bahia, no seu extinto blog “Farinha no Saco”:
“Natural de Conceição Jacuípe, Berimbau, Osias Alves Amorim jogava um bolão. Entrava nos babas, esculhambava com a agilidade e os dribles rápidos e precisos. Chegou a atuar em alguns pequenos clubes profissionais, mas nunca levou a sério a possibilidade de ser um grande jogador.
Comunista convicto, ardoroso fã do ex-deputado Francisco Pinto, Osias estava com o destino traçado: se tornar pai-de-santo.
Inicialmente, ele ralou na profissão, mas apareceram três padrinhos que fizeram com que a carreira espiritual de Osias disparasse: os jornalistas Zadir Marques Porto e Sérgio Mattos e o fotojornalista Reginaldo Pereira Tracajá.
Reginaldo Pereira produziu uma bela foto (acima) de Osias Alves Amorim, tendo como cenário a sala da casa de Chico Pinto. Zadir Porto se encarregou de produzir matérias sobre o pai-de-santo e
Sérgio Mattos, editor de A tarde Municípios, abriu espaço no poderoso diário.
O pai-de-santo Osias Alves Amorim ganhou, assim, notoriedade nacional. Passava uma semana em Feira ou Berimbau e o restante do ano viajando por todo o Brasil, conquistando “paz espiritual” para políticos e outras pessoas bem aquinhoadas. Não fazia trabalho pra pobre. Ele costumava dizer: “Não faço feitiço pra pobre, pobre já é um feitiço”.
A partir do sucesso de Osias Alves Amorim, começou a controvérsia, ainda nos anos 80: teria Chico Anísio se inspirado no pai-de-santo de Berimbau para criar o Painho da Bahia?”
A Polêmica do personagem de Chico Anysio
Coincidência ou não, o humorista Chico Anysio criou um personagem, que fez sucesso nacional, com o nome “Painho da Bahia”. Relembre:
https://www.youtube.com/watch?v=y5Do3k1dcrw
O jornalista e radialista soteropolitano Marcos Niemeyer (com passagem pela CBN, Rádio Globo, Sociedade e Excelcior) confirma a suspeita, lamentando a morte de Osias: “Vejam o caso de Osias Alves Amorim – o ‘Painho’, que inspirou, inclusive, o humorista Chico Anysio na criação do personagem ‘Painho da Bahia’. Em seus últimos anos de vida, Amorim morava em uma pensão de quinta categoria na região central de Governador Valadares, no Leste de Minas. Doente e sem dinheiro, sucumbiu praticamente na miséria”.
Seja como for, fica o registro e a memória dessa figura simbólica para a cultura de Feira de Santana.