Manoel Messias Gonzaga é pernambucano, Antonio Francisco Neto, o Ribeiro, é piauiense. Ambos foram acolhidos por Feira de Santana, e aqui fizeram/fazem extensa trajetória política. Messias é filiado ao Partido Comunista do Brasil, o PC do B, Ribeiro é filiado ao Democratas (DEM). Ambos exerceram o mandato de vereador de Feira de Santana por mais de 20 anos, marca alcançada por poucos representantes políticos na cidade.
Mesmo não estando no exercício de mandato político, eles não deixam de fazer, respirar e viver a política feirense. Por isso resolvemos ouvir o que eles têm a dizer sobre o momento político que vivemos, para que o leitor possa ter acesso a análises privilegiadas dessas duas referências.
Ribeiro e Messias falaram principalmente sobre o papel da Câmara de Vereadores na cidade, como ela tem se relacionado com o Executivo Municipal, e como os vereadores têm atuado por aqui. Nunca é demais lembrar que as principais funções dos vereadores são legislar (criar leis que sirvam aos interesses de Feira de Santana) e exercer o controle do Poder Executivo.
Vamos ver o que Messias Gonzaga e Ribeiro tem a dizer sobre estes temas.
Messias Gonzaga
Para Messias Gonzaga, uma Câmara de Vereadores cumpre bem o seu papel quando tem membros comprometidos com as necessidades do município e quando apresenta uma boa composição política. “Em Feira de Santana já tivemos dias melhores. O parlamento, seja a nível municipal, estadual ou federal é muito falho. A composição política do parlamento é muito adversa aos interesses mais populares, mais democráticos. Posso dizer que, de 2004 para cá, vem caindo bastante; de forma até assustadora a composição política de quem exerce o mandato”.
Ele entende que nem sempre os melhores e mais comprometidos se elegem, e diz que a população se queixa, mas só ela tem poder e responsabilidade para mudar esse cenário: “Essa câmara que aí está tem vereadores, vereadoras, que têm credibilidade, interesse, que são sérios e comprometidos. Mas, infelizmente, são minoria. A maioria está para fazer negociatas, negociações e a política dele próprio, do seu grupo político”.
Nome de tradição esquerdista na cidade, Messias Gonzaga tem críticas àqueles que, em tese, fazem parte do seu campo ideológico: “Alguns só estão, mas não são esquerda. A representação de esquerda mais avançada ainda é muito diminuta, pequena e pontual, nessa legislatura. Tem pessoas boas, sérias, mas que não tem aptidão para aquilo. O prefeito governa a cidade como senhor absoluto. A Câmara não faz nenhuma oposição. Alguns ensaiam fazer uma oposição, mas é tudo de ‘araque’. A maioria dos que lá estão, infelizmente, são porque usufruíram da base de algum órgão público. Sempre fui contra um parlamentar que represente apenas interesses de um determinado grupo político. O bom parlamentar é aquele que não se fixa apenas em uma categoria”.
“Fui eleito com o meu discurso, nunca comprei voto!”
O comunista reclama do rumo que as eleições têm tomado, pautadas no poder econômico: “Piorou muito o nível político de quem se elege. Quem se elege é o dono do recurso, quem tem o dinheiro. Infelizmente o voto ficou muito caro. Fui eleito com o meu discurso, nunca comprei voto! A gente se expunha, debatia, hoje não existe isso. A composição política caiu muito. Hoje, nada disso existe mais, para se eleger um vereador em Feira de Santana, se ele tiver um milhão de reais, é pouco. E se o candidato tiver um milhão e não souber gastar, os ‘bandidos’ levam tudo, e ele não se elege. É uma tristeza isso”.
Para ele, a melhora deste contexto pode vir com a participação popular, o cuidado com o voto, a educação política. “A população deveria se espelhar na experiência do dia-a-dia, do passado e do presente, e avaliar melhor quem vai assumir o mandato. Temos que vislumbrar melhor e não ficarmos apenas obstantes. Se você não participa, não influencia, os outros escolhem por você. As pessoas precisam ter maior zelo para eleger os representantes. É preciso ter a consciência e a educação política.”
Ribeiro
Já Ribeiro, que chegou a ser presidente da Câmara de Vereadores, criticou a total entrega de um vereador ao Executivo. “É importante que o vereador tenha independência política, ainda que ele seja governo. Ele pode ser aliado do governo, mas dentro da Câmara tem que ter autonomia para tomar as suas decisões políticas. O vereador que vota em um projeto porque vai receber um cargo, um contrato, isso são coisas que não são interessantes”.
O piauiense acha que explorar o poder financeiro não é a forma adequada de fazer política: “Milionário não é interessante ir para a Câmara de Vereadores. Quem tem que ir para a Câmara de Vereadores é o cidadão, a cidadã, que tenha conhecimento do sofrimento de seu povo, das necessidades do povo. Acho que deve evitar essa enxurrada de gente, ganhando dinheiro, fazendo essa politicagem com os eleitores, na rua, na zona rural. O candidato para se eleger vereador em Feira de Santana deve sair na porta do povo, gastando a sola do sapato, conversando com o povo e o povo olhando para ele. Deve mostrar que a proposta dele é uma proposta que tem consistência, e que ele vai respeitar o voto do povo”.
“O vereador tem que ir na casa do povo, sentar, conversar.”
Ribeiro, que há 52 anos mora no mesmo endereço, também fez censuras ao candidato a vereador que se elege tirando proveito de repartições públicas. “Eu acho que tudo tem que ter ordem e respeito. O vereador tem que ir na casa do povo, sentar, conversar. Deve haver um laço de amizade entre o vereador e a comunidade. Que seja político, mas faça uma política com sinceridade e não só para pegar o voto e não aparecer mais. Eu me elegia vereador e sempre voltei para agradecer ao povo. Minha porta sempre esteve aberta”.
Como Messias Gonzaga, Ribeiro acha que a evolução só é possível com mais politização e qualidade na escolha: “Não fiquem nesse pensamento de votar em branco, de votar nulo, de não comparecer. Temos que ir de acordo com os nossos pensamentos. Votem naquele que acharem que é melhor. Procurem conversar com seu candidato, ir na sua casa um dia de domingo, conhecer as suas propostas. É preciso que o povo tenha participação na vida pública do político, e para a participação existir o povo tem que se dispor a escolher os melhores”.