É indiscutível a tradição do radiojornalismo em Feira de Santana, que há décadas leva entretenimento, informação e cultura aos feirenses através das diversas emissoras na cidade. Na história do rádio feirense, é fundamental destacar a importância de Alcina Gomes Dutra, a primeira mulher radialista de Feira de Santana.

Nascida em Itaberaba, em 30 de setembro de 1895, Alcina aprendeu música e canto com o pai, Roberto Lídio Dantas. Tocava piano, violino e violão. Com sua veia artística, fundou o programa radiofônico “Brasil de Amanhã”, na Rádio Cultura, que objetivava descobrir talentos musicais adultos e infantis.

Rádio Cultura

Rádio Cultura, onde Alcina apresentava o programa “Brasil de Amanhã”

A escritora Neuza de Brito Carneiro, em crônica recente, lembra dos talentos artísticos de Alcina e suas irmãs, que se mobilizavam bastante pela vida cultural de Feira de Santana nos anos 50:

“Elas ensinavam teatro e montavam espetáculos, levando suas peças teatrais tanto aqui em Feira de Santana, no palco da elegante Rádio Cultura, como também em cidades circunvizinhas […]. Elas mantinham programa de rádio ao vivo, aos domingos, programa de calouros, programas infantis, com cantores mirins bem badalados, concursos de naturezas diversas, nesse mesmo referido palco da Rádio Cultura; concertos com seus alunos de música, mantendo uma plateia de elite satisfeita com aqueles eventos”, diz ela, que conviveu com Alcina.

Multiartista e organizadora de saraus

Cine Teatro Santana, onde Alcina tocava as trilhas dos filmes mudos

Cine Teatro Santana, onde Alcina tocava as trilhas dos filmes mudos

Alcina Dantas era uma das responsáveis por acompanhar ao piano os filmes que passavam no extinto Cine Santana. Naquela época os filmes eram mudos, e o piano de Alcina dava o tom da trilha sonora. Além disso, também era atriz, se apresentando em várias localidades da região: Conceição da Feira, Conceição do Jacuípe, Coração de Maria etc. Escreveu peças de teatro, poemas e contos (muitos deles publicados no jornal Folha do Norte). Como se não bastasse, junto com as irmãs, restaurava e esculpia imagens de madeira.

Em texto de 2013, o advogado Hugo Navarro lembra dos saraus organizados por Alcina em sua casa: “A professora Alcina, entretanto, não ficava apenas no rádio e no piano. Escrevia, fazia poemas e canções. Em sua casa, na esquina da Av. do Senhor dos Passos com a Rua Capitão França (Beco do França) promovia saraus que atraiam literatos, cantores, declamadores e  músicos”.

Neuza de Brito também cita eventos promovidos por Alcina e sua família, mas ligadas à tradição católica: “Elas eram devotas de São Cosme e São Damião e para eles promoviam festas bem animadas com o famoso caruru”.

Homenagem póstuma

Alcina Dantas faleceu em 22 de junho de 1974. Em 1996 foi homenageada tendo seu nome colocado em uma rua no Conjunto Maria Quitéria (na Queimadinha).

Também é patrona da cadeira nº 8 da Academia de Letras e Artes de Feira de Santana. Que essa personagem tão importante para a história das artes em Feira de Santana nunca seja esquecida!


Fontes: PMFS, Blog Santanópolis e livro “Os imortais da Academia de Letras e Artes de Feira de Santana”, de Lélia Vitor Fernandes.