Aquarius, de Kleber Mendonça Filho, foi o último grande filme nacional. Sendo badalado nos Festivais de Cinema, como Cannes e Havana. Foi aclamado no mercado internacional, sendo colocado entre os melhores filmes de 2016.

Aqui no Brasil, como se já não bastasse a má cultura de ignorar o que é nosso, Aquarius sofreu boicote político. Todo o elenco subiu no tapete vermelho de Cannes com placas de protesto contra o impeachment da então Presidente da República, Dilma Rousseff. O que gerou polêmicas graves em tempo de polarização política e o filme acabou sendo “escondido”. O que é uma pena, pois era um forte concorrente a chegar ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro e o grande público ficou sem muitos meios de consumi-lo.

Mas Aquarius não é sobre política. É sobre os rumos da sociedade, a modernização, o crescimento urbano. E é sobre isso que precisamos falar.

Clara (Sônia Braga) percebe que seu antigo prédio virá abaixo para dar lugar a modernos edifícios, ela bate de frente com o sistema. Sistema aqui tratado como vermes que corroem a história em benefício do crescimento. E tudo isso me fez pensar sobre os passos largos que Feira caminha rumo a uma metrópole.

“Onde havia mato, agora deram espaço para casas e negócios locais. Fluxo de carros e pessoas, quase como o meu bairro, que é ao lado da João Durval.”

Logo quando vim morar aqui, fui na casa de um amigo. A tal casa é num bairro fora do “anel” e na época, aquele lugar era taxado de isolado. Afinal, só tinha algumas casas perdidas e mato. Lembrava bem uma zona rural. Passei por esse mesmo local a um mês atrás, e para minha surpresa – ou nem tanta assim – o lugar se transformou em um clássico bairro emergente. Onde havia mato, agora deram espaço para casas e negócios locais. Fluxo de carros e pessoas, quase como o meu bairro, que é ao lado da João Durval.

Já nessa semana, estava produzindo um vídeo em um dos grandes condôminos feitos por aqui, também fora do “anel”, onde meu colega tem uma casa. E olhei para os grandes muros e vi árvores enormes no lado de fora. Na mesma hora, pensei: “cara, pra construir isso aqui deve ter derrubado muita árvore”. Analisei o quanto Feira cresce e a gente nem percebe. Principalmente para quem não sai muito do centro. Fora do “anel”, é como se outras microcidades surgissem em uma velocidade absurda.

Feira de Santana

Foto: Marco Vinícius Rocha

“Daqui uns dias todo mundo vai morar fora do anel e essa parte de dentro vai ser só comércio”.

Ouvi esse comentário de um senhor. E, talvez, ele esteja correto. Se observarmos um pouco mais, encontraremos sem muita dificuldade casas que foram cedidas para pontos comerciais. A maioria das pessoas que conheci por aqui, moram fora do centro. Principalmente nos novos e modernos condomínios. Edifícios brotam de espaços impensáveis.  E as construtoras não param de criar novos projetos e construí-los. Um colega de Faculdade costuma soltar uma pérola, dizendo que Feira, sobre o ponto de vista do viaduto que liga a Getúlio com a João Durval, parece com Nova York. Discordo dele, mas estamos indo a passos largos para uma urbanização gigantesca. Espero que tenhamos estrutura para atender a demanda criadas por nós mesmos.

Aquarius não é só um prédio personagem que dá nome a seu Filme. Aquarius é uma metáfora sobre todas as cidades com potencial metropolitano. Aquarius é Feira.