Em recente texto para o Feirenses, o articulista André Pomponet apontou a redução da concessão do Bolsa Família para beneficiárias feirenses. De acordo com a publicação, que utiliza dados do Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário, “em agosto de 2016 foram repassados, precisos, R$ 4.887.287, ou seja, quase R$ 4,9 milhões. Em julho de 2017 – com o flagelo da crise inflexível – o montante total caiu para exatos R$ 3.410.388, ou R$ 3,4 milhões. Significa R$ 1,476 milhão a menos em um ano, sem descontar a inflação”.

Considerando esses dados, fomos verificar o dilema de quem teve o benefício suspenso, principalmente mães de família, e apuramos as possíveis razões para tamanha redução do Bolsa Família em Feira de Santana.

“Eu não usava o Bolsa Família para utilidade pessoal e particular nenhuma, e sim para suprir a necessidade de minha filha, que hoje tem cinco anos. Sou desempregada, não moro com o pai de minha filha e o dinheiro que perdi hoje me faz muita falta”, diz Andréa Matos, feirense de 33 anos, que teve seu benefício suspenso.

André Matos

André Matos: “não moro com o pai de minha filha e o dinheiro que perdi hoje me faz muita falta”

“Falaram que eu perdi por falta de atualização de cadastro, mas ainda não sei que pendência é essa que não me informaram e ainda dificultam o atendimento. Na verdade, o que está me deixando muito preocupada é porque não sei como suprir a falta que esse valor vai fazer a minha rotina”, diz ela.

Já Eryka Bittencourt, de 26 anos, afirma que há três meses entrou em uma loja da cidade para tirar férias de uma amiga, e acabou perdendo o benefício.

Eryka Bittencourt

Eryka Bttencourt: “nessa cidade o pobre e negro vem perdendo espaço a cada dia”

“Esse trabalho não é nada que possa suprir o valor que eu recebia. Mesmo porque não existe certeza de que vou ficar na empresa e já foi cortado. Sei que muitas vezes pessoas que não precisam possuem a Bolsa, mas infelizmente nesse sistema de corte quem paga é quem mais precisa.”

A falta de informação sobre o cancelamento é comum entre as ex-beneficiárias: “Eu acredito que tenha perdido por esse motivo, mas na verdade ainda não sei, o acesso aqui é muito complicado e perdemos um dia inteiro para conseguir uma informação. É duro de falar, mas a realidade é que nessa cidade o pobre e o negro vem perdendo espaço a cada dia, eu mesmo passo por essa humilhação porque preciso, caso contrário não colocava meus pés aqui”, diz Eryka, tentando resolver a pendência na unidade da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social que cuida do Bolsa Famíliia.

Ajuda no orçamento familiar

Carla Marinho - Bolsa Família

Carla Marinho: “Não supre todas as necessidades, mas ajuda em alguns gastos”

Carla Marinho, 27 anos, estudante e mãe de dois filhos – um de sete e o outro de seis anos – possui o benefício há sete anos, e fala que ajuda muito nas despesas das crianças.

“Não supre todas as necessidades, mas ajuda em alguns gastos. A falta de recadastramento e muitas vezes a falta de necessidade fazem com que o benefício seja cortado. Além de precisar cumprir o papel de mãe, elementos como vacina, peso da criança, acompanhamento com médico pediátria e frequência escolar são critérios para manter o benefício. Para a mãe é necessário estar em dia com a Justiça Eleitoral. Venho sempre aqui para ver se tudo está normal, porque se não atualizarmos os dados e informações o Bolsa Família é suspenso”, diz ela cuidadosa com o risco de perda da Bolsa.

Segundo o Secretário de Desenvolvimento Social do Município, Ildes Ferreira, há quatro motivos para o cancelamento do benefício. “O primeiro é o não recadastramento anual, o segundo é no caso de filhos com menor idade não ter frequência escolar. O  programa exige a freqüência na escola. O terceiro é o caso das crianças de até sete anos que não fazem acompanhamento da saúde, e o quarto fator, que aí é de responsabilidade nossa, é o lançamento desses dados no sistema, tanto da saúde quanto da educação. A gente está correndo atrás para não permitir que famílias se prejudiquem por isso”, diz ele.

Ildes reconhece a importância do benefício para os munícipes: “deixa as famílias sem benefício, o que pode aumentar suas dificuldades. Vale lembrar que são famílias que vivem em situação de extrema pobreza. Qualquer trocado que recebe ajuda. Então a suspensão ou bloqueio traz essa dificuldade”.

O problema é que, como constatou nossa reportagem, o cancelamento está diretamente ligado à fidedignidade das informações prestadas – seja pela Prefeitura, seja pelos próprios beneficiários (que muitas vezes sequer sabem por que a Bolsa foi suspensa). Dessa zona cinzenta, o resultado é o prejuízo social e econômico para Feira de Santana.