Um olhar cuidadoso sobre as expressões musicais em Feira de Santana torna obrigatório reconhecer o fundamental protagonismo das mulheres em nossa música. Para começar, Feira de Santana é uma das poucas cidades do Brasil que tem seu hino composto por uma mulher: Georgina Erismann, no início do século XX, fez o “Hino a Feira”, numa época em que a mulher sequer tinha direito a voto.
Uma das mais tradicionais expressões culturais de Feira de Santana, reconhecida internacionalmente, é capitaneada por uma mulher: Dona Chica do Pandeiro é a matriarca da Quixabeira da Matinha, exercendo um papel de liderança que remonta às origens do samba, como faziam Tia Ciata e Perciliana, as santamarenses que recebiam e protegiam as rodas de samba no Rio de Janeiro do início dos anos 1900.
A quantidade de cantoras feirenses em atividade atualmente é enorme: podemos falar de Dilma Ferreira, a madrinha do bloco Bacalhau na Vara, e de Márcia Porto, com extensa carreira e trabalhos de repercussão nacional.
Mas também há Célia Zaiin, Goreti Figueiredo, Celli Noblat, Cecília Castelli, Sarah Reis, Venus Carvalho, Paulla Cavalcante, Pétala Ribeiro, Kareen Mendes, Camyla Pereira, Carol Pereyr, Juliana Greyce, Kelly Ventura, Karla Janaína, Amanda Magalhães, Lorena Porto, Dayane Sampaio e Isa Roth.
Apenas exemplos de um ambiente artístico fértil e bastante qualificado. Fora dessa lista estão quatro nomes de cantoras feirenses, negras, que estão despontando no cenário artístico local, estadual e até nacional, pela originalidade e personalidade das suas produções artísticas. São elas: Maryzélia, Paula Sanffer, Duquesa e Juli.
Maryzélia
A sambista Maryzélia é uma das cantoras feirenses que já possui uma carreira no plano nacional, sendo reconhecida por grandes nomes da música brasileira. Já dividiu o palco com Roberto Mendes, Lulu Santos e Maria Rita. Recentemente chegou a se apresentar no programa Encontro, com Fátima Bernardes, na ocasião do lançamento do novo disco do compositor, cantor e arranjador Pretinho da Serrinha.
A feirense participa do projeto Criolice, uma das maiores rodas de samba da capital carioca, e tem feito apresentações em espaços tradicionais da noite do Rio, como o Bar do Zeca Pagodinho e o Bigode Bar.
Paula Sanffer
A cantora e compositora feirense Paula Sanffer encantou os jurados do programa The Voice Brasil, em 2015. De lá para cá, Paula vem conquistando espaços na sua carreira, culminando com a assunção do posto de vocalista da Timbalada, uma das mais tradicionais bandas da Axé Music baiana.
Já gravou um disco com o grupo (Timbalada Século XXI), e vem fazendo apresentações por todo o Brasil. Recentemente participou do clipe “Rei Gonzaga”, em homenagem ao Rei do Baião:
Duquesa
A rapper feirense Duquesa é um destaque da novíssima geração de artistas feirenses. Cantora e compositora, a feirense já é reconhecida no cenário rap da Bahia e do Brasil, sendo citada por grandes nomes do rap (a exemplo de Rincon Sapiência) e pela mídia especializada.
Em suas canções, fala de racismo, desigualdade, machismo e temas correlatos. A seguir, o clipe da música “Futurista”, uma composição própria:
JULI
A mais recente aparição na música feirense é a cantora JULI, que tem surpreendido pela personalidade única, apesar da pouca idade (apenas 19 anos). Além do timbre peculiar, JULI é uma compositora com inacreditável intensidade: afirma já ter composto mais de 100 músicas.
Esse talento já saiu das fronteiras de Feira de Santana. Acaba de gravar o single “Ainda Vibra”, em parceria com o cantor e compositor Pedro Pondé (ex Scambo):
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Maryzélia, Paula Sanffer, Duquesa e JULI possuem talento e capacidade musical para desenvolveram carreiras artísticas de destaque, ao lado de grandes nomes da MPB. Que elas e todas as demais cantoras feirenses sigam produzindo boa música, e que a cidade tenha a capacidade de se reconhecer como um celeiro diferenciado de artistas – algo muito raro no Brasil e no mundo.