Sempre há quem acuse o blues rock de ser um gênero dominado por repetições, onde músicos pouco criativos descansam comodamente. Hoje, de fato, muitas bandas do estilo se limitam a produzir um som genérico, desprovido de qualquer novidade, resultante de uma conjugação dos clichês que foram se acumulando ao longo de cinco décadas. Em contrapartida, existe uma minoria que rejeita os caminhos mais óbvios e explora o que essa fusão entre o blues e o rock oferece de melhor.

É nas exceções que se encontra o Clube de Patifes. Com 17 anos de carreira e um histórico relevante de mobilização em prol da música independente de Feira de Santana e região, a banda vem tentando, em seus últimos trabalhos, traçar uma linha de experimentação dentro da identidade construída nos primeiros. Casa de Marimbondo, o novo capítulo de uma discografia que também compreende outros três álbuns e um EP, é o momento de afirmação de uma proposta que havia aparecido timidamente no Acústico (2013): o “candomblues”. À mistura de blues com ritmos nordestinos como o baião, característica maior dos Patifes desde o começo, vem se juntar uma sonoridade inspirada na música dos terreiros de candomblé.

“Hey Mama”, a canção de abertura deste lançamento, se destaca pelo toque afro-brasileiro da percussão e pela participação de Luiz Caldas na guitarra. A letra recupera a simbologia mágica da fogueira, quase tão cara ao blues quanto a da encruzilhada: “Hey mama/ Hoje estou tão triste assim/ Hey mama/ Sabe por que hoje estou tão triste assim?/ Naquela noite da fogueira/ As estrelas se quebraram sobre mim”. No final, o que prevalece é o poder regenerativo do lamento e da fé: “Junto com minhas lagrimas/ Afogamos nossas dores/ E o que for de ruim”.

Casa de Morimbondo

Outra faixa inovadora é “02 de Novembro”, em que participam o clarinetista Ivan Sacerdote e a cantora Danny Nascimento. Liricamente, a banda aborda questões existenciais para além da antiga dobradinha Bukowski-bar, ampliação que se segue em “O Homem Mais Triste do Mundo” e “O Sinal” – nesta, é possível identificar uma alusão a “O Trem das Sete”, de Raul Seixas, nos seguintes versos: “É o sinal das trombetas dos novos tempos/ Anunciando que você está vivo”.

A banda se mostra pronta para compor baladas de qualidade inédita em sua trajetória, quer no reaproveitamento estilo acústico em “Baby Blues”, quer em “Balada Maldita”, a verdadeira “canção pop” do repertório. Até as músicas que caberiam sem grandes discrepâncias nos trabalhos iniciais têm alguma inovação. A percussão domina o instrumental de “O Inquilino”, e a letra de “Voodoo” se refere a uma prática de magia típica de negros que foram escravizados no sul dos Estados Unidos.

Ainda completam o disco três faixas já lançadas no EP Radiola, de 2014: a semiacústica “Cavalo de Tróia”, a explosiva “Radiola” e a intensa “Nada Acabou”, que soa como se o Clube de Patifes resolvesse tocar Southern rock. Com produção de André T. e da própria banda, Casa de Marimbondo é um álbum que defende o blues rock das acusações mais maldosas. Surge num contexto que pode ser tido como improvável, mas só por aqueles que não sabem sentir a música.

 

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