Em meados dos anos 90, ir comprar pão era um ritual diário. Essa era a obrigação das crianças da casa, e a maior parte delas morria de vergonha quando a mãe dava aquele grito, obrigando a largar tudo pra ir à mercearia mais próxima. O dinheiro ia firme e apertado em uma mão, pra não perder, e na outra o saco de pão.

Comprar pão

O saco usado, esse velho conhecido da foto acima, era feito de tecido. Geralmente era bordado na frente com o nome “pão” e tinha uma boca larga, que fechava com um cordão. O saco de pão tinha uma proposta ecologicamente correta, deixando qualquer Ecobag pra trás. Mas não era pautado na sustentabilidade propositalmente, e sim no fato de, ao comprar o pãozinho levando o saco de casa, o preço caía. Perfeita união do útil ao agradável.

O ritual de comprar pão consistia em:

  1. Enrolar o saco de pão o máximo possível e segurar na mão, ou pôr no bolso, a fim de esconder para que os amigos não percebessem, pois era um mico ter que largar as brincadeiras e partir pra padaria;
  2. Ao chegar à padaria ou mercearia lembrar a quantidade de cada tipo de pão que lhe foi passada em casa. Para a memória não falhar, ia-se ao longo do caminho pronunciando o que lhe foi passado: tantos pães de sal, tantos de milho, tantos de leite, etc, método um tanto falho, pois no fim das contas gerava uma confusão na cabeça e quase sempre se levava bronca pelos pães errados em casa;
  3. Trazer o troco intacto. Essa era uma tarefa difícil de executar, pois o troco se perdia fosse por lerdeza ou pela dificuldade de resistir aos doces vendidos na mercearia;
  4. Burlar a garotada da rua. Com os pães em mãos, era necessário fazer um caminho de volta até a casa onde passasse por menos amigos possíveis. Quando no caminho se esbarrava na molecada jogando futebol, ou brincando de pega-pega, boa parte dos pães eram devorados e o saco chegava em casa mais vazio e encardido. Nesse caso, só restava torcer para que a mãe não percebesse algo estranho e resolvesse contar os pães.

Naquela época, outra coisa que chamava atenção era o preço dos pães: vinte pães por um real! Em comparação aos dias de hoje, parece até piada. Poderia faltar de tudo menos nosso pãozinho à mesa, coisa que nem sempre acontece atualmente em várias famílias. Em se tratando do pãozinho de cada dia, nós éramos felizes, e sabíamos.

E você? Já foi o comprador de pão oficial da sua casa?