São poucos aqueles que se preparam para a morte e para o processo do morrer. Não que seja menos importante, mas aqui não falo da preparação de si, da empreitada brascubiana. Deixaremos a própria morte, nosso legado, as sutilezas do definhamento para outra ocasião. Hoje, o ponto de partida será a morte do outro.

Há cerca de um ano minha avó morreu. Ela morava comigo e éramos profundamente ligados. Não gosto de texto piegas e não vou alongar esse assunto. Faz-se suficiente a premissa de Lenine: “Qualquer amor já é/ um pouquinho de saúde/um montão de claridade”.

Passada a ligação do hospital, a missa de sepultamento, o choro da minha mãe e a imagem seca de um corpo gélido e frágil dentro de uma caixa, era chegado o momento de seguir em frente. Além do bêabá da elaboração dos lutos, como dar tempo ao tempo, retomar as ocupações, fazer exercício e colocar-se no colo, a população de Feira de Santana conta com uma grande carta na manga para os momentos de dor, sofrimento e desilusão: a Lagoa Grande.

“Depois de duas ou três horas imerso naquele lugar, me senti mais forte, mais energizado”

Invariavelmente, a morte de alguém nos empurra à reflexão e nos conduz a temas importantes. É um raro momento para pensar a verdade de nossas escolhas. Frente a isso, minha indicação de feirense para feirense é: quando perder alguém, aproveite esse período e visite a Lagoa Grande. Aquela mesmo, perto dos motéis, povoada por jacarés.

Vá pelo Belo ostentado na água, pela ventilação do local, pela contemplação das pessoas fazendo caminhada. Se não acredita no que digo, teste a experiência. Veja com seus próprios olhos. Deixe a Lagoa Grande te consolar. Depois de duas ou três horas imerso naquele lugar, me senti mais forte, mais energizado. Se Shakespeare fosse conterrâneo, certamente teria dito que há mais coisas entre o céu e as lagoas de Feira do que sonha nossa vã filosofia.

Por fim, me permita mais um conselho. Quando a saudade apertar, voltem à Lagoa. Talvez reencontre sua quietude, sua verdadeira Natureza.

(Foto de Capa: Nathan Oliveira)