Popularmente conhecida na região como “queimada”, Trava é aquela resposta de contra-ataque que usamos em situações desagradáveis, algumas vezes para nos defender, outras para simplesmente abalar o ouvinte.

Pois bem, “Diztravando” do feirense Luciano dos Anjos, reúne ao longo das páginas um conjunto de travas. Achou simplório e despretensiosamente bobo? (Sim, essa foi minha primeira impressão ao ver o tema central) Aconselho a não se precipitar, pois o livro é surpreendentemente envolvente, de uma leitura agradável e reflexiva.

As histórias do Travador, figura que aparece com outros nomes ao decorrer do livro distribuindo farpas filosóficas a todos, são narradas em forma de minicontos. Os casos não passam de dois parágrafos, e isso dá a sensação de que se está lendo os melhores momentos de uma trama maior.

“Nas entrelinhas, ‘Diztravando’ é um livro que utiliza de curtas histórias cotidianas para instigar o leitor”

A linguagem poética do autor ajuda a romancear as situações cotidianas dos minicontos (algumas com fortes sinais de veracidade, o que a meu ver, torna a leitura ainda melhor), as travas rendem risos e constrangimentos em nome das vítimas do Travador. No entanto, são as sacadas filosóficas que me chamaram atenção. Nas entrelinhas, “Diztravando” é um livro que utiliza de curtas histórias cotidianas para instigar o leitor, não de forma superficial, mas no profundo, levando-o a analisar não apenas a sociedade (retratada aqui em toda sua futilidade e hipocrisia), mas a si mesmo, sobre sua forma de ver a vida.

É um livro curto, e talvez aqui esteja o seu defeito. Envolver o leitor nas palavras ríspidas e filosóficas do Travador e despedir-se de súbito, deixando-nos refletindo solitariamente, ansiando por mais travas.