A Princesa do Sertão é uma cidade que traz a feira em seu nome e em sua história. Levando em conta a onipresença desse espaço democrático no cotidiano feirense, fomos até a feira livre do bairro Tomba documentar as idas e vindas de uma das maiores feiras livres da cidade.
“Uma cidade dentro de outra cidade”: esse é um dos dizeres mais comuns quando se referem ao Tomba. O bairro se localiza na zona sul da cidade, distante cerca de 2 quilômetros do Centro, sendo o mais populoso do município. Destaca-se pelo alto grau de desenvolvimento, pelo imponente comércio e pela presença de um núcleo do Centro Industrial do Subaé (CIS). O nome é bastante peculiar, e sua origem vem da frase “lugar que o trem tomba”, uma alusão à existência de um trecho da linha férrea que oferecia riscos de tombamento aos trens que vinham de Cachoeira. Com o passar dos anos o lugar ficou conhecido somente como Tomba.
A feira livre do Tomba atrai diversas pessoas, inclusive de cidades circunvizinhas. Acontece todos os sábados e domingos (este último o dia de mais movimento) na praça principal do bairro, e apresenta uma variedade imensa de produtos, que vão desde frutas e verduras até galinhas, vivas ou abatidas. Além de apresentar um alto poder de barganha, a feira livre te oferece uma sociabilidade fora do comum, seja na hora de negociar diretamente com o vendedor ou na hora de reclamar do preço daquele produto com o comprador que está ao seu lado. Uma ótima dica é o pastel com caldo de cana, parada obrigatória para quem gosta de um bom pastel de feira.
Entre as diversas histórias que se relacionam com o cotidiano da feira, conhecemos um pouco sobre a história de três mulheres, Júlia, Altira e Nilda.
Júlia tem 57 anos e comercializa farinha na feira livre há 30, tem três filhos e quatro netos, criados com o suor do comércio de farinha nos finais de semana na praça do Tomba. A profissão foi herdada de sua mãe, uma das primeiras vendedoras da feira.
“O lucro é incerto, tem dia que tem ‘feira’ tem dia que não tem…”
Altira vende tapioca ali desde que a feira surgiu. Sexagenária, a senhora é mãe de três filhos e dois netos. Diz que o movimento de venda às vezes é fraco e que faz aquilo para se distrair, “o lucro é incerto, tem dia que tem ‘feira’ tem dia que não tem…”. Perguntada sobre o que deveria melhorar na feira, ela sugeriu a instalação de uma cobertura, que, segundo ela, melhoraria bastante o local de trabalho dos feirantes.
Nilda é uma das clientes fiéis da feira, mora próximo à praça e diz que compra ali já faz uns dois anos. Entre as coisas que a atraem está a proximidade, os preços baixos e a possibilidade de dar aquela “pechinchada”, que faz toda a diferença no orçamento.
Origens e comprovações
Mal sabia Macário Barreto a importância que teria a sua doação, quando doou dois terrenos e assim fez surgir a praça que carrega seu nome e a paróquia local. De lá para cá a praça passou por diversas mudanças, e mais recentemente a feira sofreu uma requalificação do piso em pedra portuguesa e recebeu algumas melhorias na organização, mas o anseio da população local é que a feira vá para um ambiente mais adequado, já que o espaço se localiza entre as duas principais artérias de tráfego do bairro.
Saímos do Tomba com uma comprovação: a pluralidade da feira livre é o retrato da pluralidade do bairro e da herança cultural de um povo que resiste, se alegra, se diverte e garante seu sustento nas idas e vindas de uma feira.
Fotos: Gabriel de Oliveira
Trackbacks / Pingbacks