Jogar gude, sem dúvidas, era uma das principais brincadeiras da infância da gurizada em Feira. Algumas bolinhas de gude e uma área de terra pra que a diversão fosse garantida. Não é mais tão comum nos dias de hoje, mas era muito fácil, ao passar pelas ruas, ver a molecada com o saquinho cheio daquelas bolinhas, no terreiro, por horas a fio brincando. Nesse texto, vamos trazer um pouco das lembranças dessa época.

Tipos de gude

Vidro: Feitas de vidro maciço e geralmente de cor verde-azulada eram mais populares e baratas. Eram bem fáceis de encontrar em qualquer armarinho. Outro tipo menos comum e um pouco mais caro era a gude carambola, feita de vidro transparente com faixas coloridas no seu interior, que se assemelhava com a fruta carambola. Tinha um efeito muito bonito ao girar, mas custava dez vezes mais que a bolinha comum.

Metal: Essas eram extraídas de sucatas de peças industriais ou de carros, os rolamentos, e eram de ferro maciço. Por não serem vendidas, eram muito disputadas e se destacavam pelo peso.

Maneiras de jogo

A brinquedo: Consistia em jogar somente pra diversão, sem apostar as bolas de gude. Apesar de menos emocionante, era mais seguro.

A vera: Aqui a coisa ficava séria. Jogava-se apostando as próprias bolas de gude nas partidas, era muito comum começar a jogar com os bolsos cheios e voltar pra casa sem elas.

Modalidades de jogo

Buraco: Eram feitos três ou mais buracos no chão e os jogadores tinham que fazer um percurso de ida e volta acertando a gude nos buracos, e no caminho, batendo nas gudes do adversário, pra tentar afastar-las do objetivo.

Triângulo ou pão: É desenhado um triângulo no chão onde os participantes colocam, cada um, uma quantidade de bolinhas combinada. O objetivo é arremessar uma bolinha pra forçar a retirada das gudes dentro do desenho. Acertar na gude do adversário o retira da partida. Cabe aqui bastante estratégia em decidir em quem focar, se no adversário ou nas gudes do triângulo. O vencedor levava todas as bolinhas de dentro do triângulo.

O mata: Cada um usa somente uma gude e o jogo consiste em acertar a do adversário. Quem conseguir acertar todos os adversários e não ser atingido, vence a partida. Havia uma variação, chamada de 7, 14 e 21, que é o mesmo “mata”, porém, deve-se acertar três vezes na gude dos outros.

Como todo jogo ou esporte praticado, ao longo dos anos vai-se criando uma linguagem peculiar, termos e gírias usados corriqueiramente em cada região do país, nas partidas e só são conhecidos por quem pratica. Seguem alguns dos termos mais usados em nossa região.

Vocabulário

Altinha e baixinha: Termos usados para definir se a jogada seria feita de pé ou agachado.

Descaída: Termo usado pras jogadas em que o participante deixava seu corpo cair, simulando uma queda, quando jogando de pé, pra se aproximar da gude alheia, facilitando o acerto ao alvo.

Suculavão: Usado pra designar o arremesso exagerado, pra longe, da gude principal do jogador pra dificultar o acerto pelo adversário.

Casar: Era o ato de apostar certa quantidade de gudes, por pessoa. Exemplo: Cada um “casa” duas – cada participante aposta duas gudes na partida.

Chave e palmo: Unidades de medida feitas com a mão para aproximar a gude dos objetivos. A chave é feita do polegar ao indicador, esticados e o palmo, do dedo mindinho ao polegar. Usados quando se joga abaixado.

Top: Apelido dado àquela gude preferida, que se encaixava mais aos dedos e possuía forma mais uniforme, fazendo menos curva nas jogadas. Havia um ritual de dar umas batidinhas na gude top em uma outra, antes de cada jogada, pra trazer sorte.

Matar: Acertar a gude do oponente, forçando a sua saída da partida.

Ainda deve haver, nos dias de hoje, algumas crianças que ainda jogam gude, mas quem já passou dos vinte anos de idade, com certeza deve ter alguma lembrança especial relacionada à sua infância ao relembrar essa maravilhosa brincadeira.