Era uma sexta-feira. Para ser mais exato, era dia 1 de julho. Foi nesse dia que uma das coisas mais legais me aconteceu. Naquela noite o frio permeava minha barriga de uma forma absurda – creio eu que o fato de ser uma noite de inverno agravava mais ainda a situação.
Grandes filas se formavam nas entradas da casa de shows, pessoas de diferentes idades, credos, raças e ideologias estavam ali, todas com o mesmo intuito, o de participar da celebração de trinta anos do primeiro disco da Legião Urbana. Confesso que a ansiedade havia se tornado presente desde o dia que havia comprado o tal ingresso, meses antes.
Uma atração local foi a primeira a se apresentar no palco principal. Guymeo Jumonji estava magnífico com seu violão, sua pluralidade musical representava de forma louvável os artistas locais que animam a noite feirense.
Eram quase onze da noite quando a Legião Urbana subiu ao palco, pela primeira vez estavam se apresentando na cidade. A euforia tomou conta do público de forma unânime, a casa de shows estava lotada, os ingressos haviam esgotado. No palco, os Renatos não estavam, nem o Russo, nem o Rocha – ambos já falecidos, abençoavam a noite que prometia e muito. André Frateschi, Dado Vila-Lobos, Marcelo Bonfá e convidados revezavam para cumprir a difícil tarefa de assumir os vocais do insubstituível Russo.
“Sim, caro leitor, eu fui em um show da Legião Urbana!”
O público acompanhava cada música, suas vozes ecoavam em uníssono e por diversas vezes assumiam o protagonismo, isso fez com que o arrepio se tornasse coletivo, e assim se fez durante todo o repertório. “Será”, “Geração Coca-Cola”, “Por Enquanto”, “O Reggae”, “Pais e Filhos”, “Tempo Perdido” e “Faroeste Caboclo” foram alguns dos sucessos, que compostos há décadas, descrevem facilmente a atualidade, o momento político que vivemos, os sentimentos e as desilusões intrínsecas na vivência humana, além de toda a problemática e a beleza do caos urbano, em especial do Distrito Federal.
Um túnel no tempo havia sido aberto desde o início do show, os meninos de Brasília que movimentaram e influenciaram multidões na década de 80, faziam isso novamente. Dessa vez para um público não unicamente jovem, mas para um misto de gerações que ao decorrer de mais de trinta anos acompanham as poesias contemporâneas do grupo.
Qualquer tentativa de resumir tal ocasião seria um fracasso, pois aquele foi um momento único que vai ficar na história de cada pessoa que o presenciou, uma oportunidade que no imaginário de alguns parecia impossível. Por isso eu digo: sim, caro leitor, eu fui em um show da Legião Urbana!
A Legião Urbana
A banda foi formada em 1982, em Brasília, após uma discussão de Renato Russo com sua antiga banda, Aborto Elétrico. O surgimento do grupo se deu na capital nacional, em um momento onde a efervescência política e social era extremamente evidente.
Lançaram diversos álbuns entre 1985 e 2001, somando mais de 25 milhões de discos vendidos. A banda foi desfeita após a morte do seu vocalista e líder, Renato Russo, em 11 de outubro de 1996 e retornou em 2015, com a turnê comemorativa “Legião Urbana XXX anos”.
Turnê XXX anos
A turnê XXX anos está na estrada desde outubro de 2015, celebrando os trinta anos do primeiro disco da banda ícone da cultura pop brasileira. O início da turnê é uma vitória, tanto para os fãs, quanto para os últimos integrantes da formação original, Marcelo Bonfá e Dado Vila-Lobos. Os dois lutavam na justiça desde 2013 pela causa contra Giuliano Manfredini, filho de Renato Russo e proprietário da LU Produções Artísticas, que detinha a propriedade da marca e que tentava proibi-los de usufruir dos direitos do uso do nome da banda.
Hoje já são mais de cinquenta cidades que receberam a turnê e em todas elas as apresentações foram um verdadeiro sucesso, tanto em público, quanto em crítica.