Hoje iniciamos uma nova série de publicações aqui no Feirenses. O “Guia da Feira” trará diversas postagens para tirar dúvidas, dar dicas e sugestões sobre produtos e experiências encontradas nas nossas feiras, grande elemento cultural de Feira de Santana (talvez o principal!).
A ideia é trazer curiosidades e tirar dúvidas, criando uma espécie de “manual” para melhor aproveitar o que nossas feirinhas têm de melhor. Seja na Estação Nova, no Centro de Abastecimento, no Tomba, Cidade Nova ou qualquer outra das várias espalhadas pela cidade, em diversas dimensões, vale a pena conhecermos mais sobre o que é oferecido nos “shoppings” genuínos de Feira de Santana.
Para começar, vamos tirar a seguinte dúvida: qual a diferença entre mandioca, macaxeira e aipim?
Mandioca, macaxeira ou aipim?
A verdade é que estamos falando da mesma espécie, a Manihot esculenta. O antropólogo e historiador Câmara Cascudo chamou a mandioca de “A Rainha do Brasil”, em seu livro História da Alimentação no Brasil. Não é por acaso: o aipim é uma raiz consumida em todo o país, de diversas formas: frito, cozido, transformado em farinhas, goma e tucupi (caldo que é extraído da mandioca ao processá-la).
A mandioca é venenosa?
Existe uma confusão em relação ao preparo da mandioca, por causa do potencial venenoso da planta. A mandioca que nós conhecemos não pode ser confundida com a mandioca-brava, que só pode ser consumida após ser processada, por apresentar alto teor de ácido cianídrico. As folhas da mandioca (que aparecem na tradicional maniçoba) também eliminam essa substância durante o cozimento, procedimento que deve ser feito com cuidado para evitar problemas.
De acordo com especialistas, 100g de mandioca cozida tem em média 125kcal, sendo um alimento rico em carboidratos e fibra alimentar.
A história da mandioca
O folclore em torno do tubérculo começa pelos relatos dos primeiros portugueses que, ao terem contato com o estranho alimento, não conseguiram identificá-lo e descreveram seu consumo como sendo de inhame. Outros mais descrentes pensavam que os índios faziam farinha de uma espécie de madeira. Séculos mais tarde, a mandioca mostraria sua importância na política nacional com a chamada “Constituição da Mandioca”. Em 1823, um anteprojeto que deveria ser a base da Constituição foi apresentado por uma comissão liderada por Antônio Carlos de Andrada e Silva, irmão de José Bonifácio. Com caráter marcadamente anticolonialista e xenofóbico, o anteprojeto procurava limitar ao máximo o poder de D. Pedro I, valorizando a representação nacional. E para garantir que o poder parlamentar ficasse nas mãos da aristocracia rural brasileira, a capacidade eleitoral foi condicionada à renda (mas não em dinheiro), pautada numa mercadoria de consumo corrente: a farinha de mandioca.
Ainda sobre as origens da mandioca, existe uma lenda indígena que contribuiu para o nome científico da planta (Manihot esculenta), dado pelo austríaco Emmanuel Pohl, botânico que percorreu o Brasil entre 1817 e 1821. Diz a lenda que a filha de um poderoso chefe indígena foi viver em uma velha cabana distante ao ser expulsa de sua tribo por ter engravidado misteriosamente. Essa índia deu à luz uma linda menina muito alva, que se chamou Mani.
A notícia do nascimento se espalhou por todas as aldeias e fez o grande chefe esquecer suas dores, seus rancores e cruzar os rios para ver sua filha. Ao completar três anos, Mani morreu de forma também misteriosa.
A mãe enterrou a filha perto da cabana em que vivia e sobre ela derramou seu pranto por horas. Com os olhos cansados e cheios de lágrimas, a índia viu brotar de lá uma planta.
As pessoas vieram ver a planta miraculosa que mostrava raízes grossas e brancas em forma de chifre. Desde essa época a mandioca tornou-se um alimento para os índios (mandi = Mani, nome da criança; oca = casa). Podemos ver na história de Mani a relação com a antropofagia, pois, ao comer o fruto da terra, os outros membros da sociedade estariam comendo a si mesmos, numa evidente forma de preservar as identidades.
Leia mais sobre a mandioca aqui.
Falou, falou e nao disse nada…nem mencionou as diferenças entre mandioca, aipim e macaxeira.
No quarto parágrafo é dito que trata-se da mesma espécie. Abraço!