Um dia desses, meu colega de faculdade apareceu com uma tatuagem nova lá na sala e a gente começou a viajar no desenho. Os traços eram estranhamente familiares. Mas nada de absurdo uma tattoo ser repetida por aí. A questão é que a tatuagem trazia uma sensação de pertencimento. Como se a visse diariamente em lugares muito próximos. Então percebi de onde vinha a sensação. Do Viaduto da João Durval. Mais especificamente de um grafite feito por um artista da terra: Kbça.
O grafiteiro e tatuador reproduziu seus traços expostos nas ruas de Feira na pele do meu colega, e isso me levou a uma reflexão aleatória do que isso pode significar. Perguntei a Luan – o colega tatuado – se ele conhecia o tal grafite e se tinha escolhido os traços com base nisso. Ele me respondeu que não. Se foi algo proposital ou se foi apenas mais um traço característico da linguagem do artista, não faço ideia. Mas só pude pensar em uma coisa: de certa forma Feira está, literalmente, marcada em meu colega. E Feira está marcada em todos nós, de alguma forma.
Aqui é onde estamos por agora. Onde vivemos, sonhamos, trabalhamos, estudamos, aproveitamos os momentos e nos estressamos em outros, também. Mas estamos e somos em Feira. Seja por nascimento ou de passagem até se formar na faculdade, esta cidade do centro-norte baiano é nosso lugar. Esta cidade nos marca todos os dias e nós a marcamos do mesmo jeito.
Kbça marcou Feira e Feira marcou Luan. Mesmo não aparentando ser totalmente intencional. Talvez quando meu colega for embora para, sei lá, São Paulo, ele vai olhar para sua perna e lembrar do grafite exposto no viaduto. A marca da cidade está nele e ele marcado na cidade. Assim como eu, como cada um de nós que cruzamos por Feira em algum momento da vida. Deixaremos aqui muitos rastros, e a Princesinha muitas outras marcas que nos moldaram pela vivência.
Enfim, não sei se eu, Luan ou Kbça passaremos o resto da vida por aqui ou se seguiremos rumos ainda não imaginados. O fato é que estou plenamente convicto de que essa cidade permanecerá em nós e nós nela. As coisas mudam, mas marcas sempre permanecem.