Sou saudosista assumido. Mas só tenho saudades de coisas e momentos bons. Enquanto escrevo, me passam na mente vários filmes da nossa festa.

Ainda criança, fui morar na Rua Monsenhor Tertuliano Carneiro, contínua da Conselheiro Franco, também conhecida como Rua Direita. Ali, via Trios Elétricos estacionados, e seus músicos se hospedavam nas pensões e hotéis locais e adjacentes. Em frente a minha casa, havia a Pensão Jacobina e o Hotel São Jorge, vizinho à antiga sede do Fluminense de Feira.

Vários carros ficaram em minha memória, a exemplo do Trio Saborosa, que era em forma de uma garrafa e patrocinado por marca de aguardente. Entre os trios daqui, se destacavam o Patury, primeiro de Feira de Santana, o Zé Pereira, que já saía do bairro das Baraúnas tocando para levar o povo ao centro da folia, além do Trio Maravilha. Ao anoitecer, tínhamos o famoso “desfile”, onde passavam as majestades, Rei Momo, Rainha e Princesas, a bordo de um belo carro alegórico (aquele mesmo que roubaram).

“Mas a saudade é muito grande, pois foram momentos mágicos e felizes.”

Em seguida, vinham as batucadas, os cordões e afoxés. Uma agremiação que se destacava pela beleza era o Cordão do Ali Babá e os 40 ladrões (embora desfilasse com mais de quinhentos componentes). Os bailes “Uma Noite no Havaí”, “Caju de Ouro” (este trazia artistas famosos) e, anos depois, o “Baile Azul e Branco”, realizado pelo aristocrático Feira Tênis Clube.

Anos depois, os blocos mais modernos chegaram com força total. Além dos mais velhos, “Bloco da Uca” e “Bloco Os Nacionais”, apareceram aqueles que foram frutos da modernidade, advinda da explosão do Axé Music. São tantos que nem daria para mencionar. Infelizmente, a coisa tomou uma enorme proporção e se tornou algo mercantilista, mas não condenável, pois botar uma entidade na rua requer muito trabalho e merece, sim, ser recompensado.

Mas a saudade é muito grande, pois foram momentos mágicos e felizes. Um dia que me marcou foi a primeira vez que vi o Trio de Dodô e Osmar, em plena Avenida Senhor dos Passos, nas imediações da lendária Farmácia Pinto. Assim também, foi ver o Trio Caetanave, idealizado por Orlando Tapajós e que recebeu este nome em homenagem a Caetano Veloso, quando voltou do exílio em Londres. Orlando viu a figura de uma espaçonave em uma revista e resolveu construí-lo, mas como não tinha nome para dar, resolveu homenagear Caê.

 

Foto: Micareta de 1980/Adilson Simas