Uma das figuras populares que fez história em Feira de Santana foi o vendedor de pamonha conhecido como “Noratinho da Pamonha”. Além de ser lembrado pela qualidade do produto que vendia, Noratinho teve como principal marca o jingle que cantava enquanto empurrava o carrinho de pamonha pelas ruas de Feira:

“Coco, açúcar, canela, cravo, manteiga? Não!

Oh! Papai me dá dinheiro,
Menino compra pamanha.
Papai tava dormindo
Mainha compra pamonha
Papai já levantou
Mainha compra pamonha
Papai já viajou
Mainha compra pamonha
Mainha, me dá dinheiro
Futuca, mainha, a costela de painho.
Pra painho acordar pra me dá dinheiro
Menino, compra pamonha”.

O jornalista Renato Jorge Araujo, em seu blog “Impaciente e indeciso”, trouxe algumas recordações de Honorato Alves, o Noratinho:

“Filho de ex-escravos, o menino Norato trabalhou desde muito cedo. Foi vaqueiro e dizem que era um trabalhador incansável. Comprou um pedaço de terra de um fazendeiro para quem trabalhava, plantou milho e colheu. Com o milho fabricou pamonhas, que passou a vender de porta em porta nos quatro cantos da cidade.”

Noratinho da Pamonha

Ele cita a qualidade das pamonhas vendidas por Noratinho: “O produto de Noratinho vinha muito bem embalado, em condições de higiene excelentes e, ainda por cima, contava com o marketing sedutor de seu canto, tomado emprestado dos aboios do tempo em que era vaqueiro. Quando se ouvia ao longe o cantar de Noratinho, as crianças – eu inclusive – começavam a infernizar os pais para lhe darem dinheiro para comprar pamonhas. E, diga-se de passagem, os próprios pais esperavam ansiosamente pela vinda do velho Norato e suas delícias”.

Tão notabilizado Noratinho ficou como referência popular na cidade que, em 2005, foi agraciado (ainda em vida) com a Comenda Maria Quitéria pela Câmara de Vereadores de Feira de Santana:

Comenda Maria Quitéria a Noratinho da Pamonha

Há quem diga que Noratinho foi o primeiro locutor de porta de loja de Feira de Santana, trabalhando na antiga Loja Pires, no Centro de Feira. O jornalista e historiador Adilson Simas aponta o Distrito de Humildes, povoado de Terra Dura, como local do seu nascimento. O local de residência, até o dia do seu falecimento, em 2012, aos 111 anos de idade, foi a Rua Papa João XXII.

Uma curiosidade: um poeta gaúcho, chamado Marlon de Almeida, incluiu um poema intitulado “Noratinho da Pamonha” em um de seus livros, “Malabares ou Clube dos Incomparáveis(AGE/FUMPROARTE, 2003) que foi finalista do Prêmio Portugal Telecom de Literatura Brasileira. Leia:

Noratinho da Pamonha

Noratinho também foi inspiração para uma célebre charge do cartunista Borega, uma sátira à rivalidade política entre José Ronaldo e Zé Neto:

Noratinho da Pamonha

Citamos novamente Renato Araujo, que traz recordações poéticas de Noratinho da Pamonha: “Lembro de, até outro dia, ao fazer minhas caminhadas diárias, passar pela porta da sua casa na Papa João XXIII e vê-lo sentado na varanda, já muito velhinho, com a cabeça toda branca. Assim como muitos faziam, pedia-lhe a bênção à qual ele respondia com a voz tênue: – ‘Deus lhe proteja, meu filho!’. Ao final da vida, já quase cego, Noratinho não tratava mais seus saudosos ex-clientes por ‘preto’ e ‘branco’. Éramos todos seus filhos. No primeiro dia de outubro de 2012, Deus levou Norato para preparar pamonhas para Ele no céu. De vez em quando, no silêncio da noite, apurando o ouvido em direção ao infinito, dá para ouvir bem longe o canto doce de Noratinho da Pamonha chamando os anjos para lanchar”.