Em Feira de Santana é feriado todo dia 26 de julho, em homenagem à padroeira da cidade, Nossa Senhora Sant’Ana. Como ocorre em muitas circunstâncias, muitos de nós aproveitamos o feriado, mas nem sempre sabemos o sentido do evento. Por isso resolvemos esclarecer algumas dúvidas sobre Nossa Senhora Sant’Ana, (ou Santa Ana, ou ainda Sant’Anna – em latim).

Ana, na tradição Católica, foi a mãe da Virgem Maria e avó de Jesus Cristo. De acordo com a Paróquia de Sant’Ana, da Arquidiocese de São Paulo, os dados biográficos que sabemos sobre os pais de Maria nos foram legados pelo Proto-Evangelho de Tiago, obra citada em diversos estudos dos padres da Igreja Oriental, como Epifânio e Gregório de Nissa.

Santa Ana - Da Vinci

Quadro “A Virgem e o Menino com Santa Ana”, de Leonardo Da Vinci (1513)

Sant’Ana, cujo nome em hebraico significa graça, pertencia à família do sacerdote Aarão. Seu marido, São Joaquim, pertencia à família real de Davi. Conta-se que Joaquim foi censurado pelo sacerdote Rúben por não ter filhos, qundo Sant’Ana já era idosa e estéril. Confiando no poder divino, São Joaquim retirou-se ao deserto para rezar e fazer penitência, e ali um anjo lhe apareceu, dizendo que Deus havia ouvido suas preces. Tendo voltado ao lar, algum tempo depois, Sant’Ana ficou grávida de Maria.

Ana e Joaquim residiam em Jerusalém, ao lado da piscina de Betesaida, onde hoje se ergue a Basílica de Santana, e aí, num sábado, 8 de setembro do ano 20 a.C., nasceu-lhes uma filha que recebeu o nome de Miriam que em hebraico significa Senhora da Luz, traduzido para o latim como Maria. Maria foi oferecida ao Templo de Jerusalém aos três anos, tendo lá permanecido até os doze anos.

A Basílica de Sant'Ana, em Jerusalém, onde teria nascido Maria, a mãe de Jesus.

A Basílica de Sant’Ana, em Jerusalém, onde teria nascido Maria, a mãe de Jesus.

A devoção aos pais de Nossa Senhora é muito antiga no Oriente, onde foram cultuados desde os primeiros séculos de nossa era, atingindo sua plenitude no século VI. Já no Ocidente, o culto de Santana remonta ao século VIII, quando, no ano de 710 suas relíquias foram levadas da Terra Santa para Constantinopla, onde foram distribuídas para muitas igrejas do Ocidente, estando a maior delas na igreja de Sant’Ana, em Düren, Renânia, Alemanha.

Seu culto foi tornando-se muito popular na Idade Média, especialmente na Alemanha. Em 1378, o Papa Urbano IV oficializou seu culto . Em 1584, o Papa Gregório XIII fixou a data da festa de Sant’Ana em 26 de Julho, e o Papa Leão XIII a estendeu para toda a Igreja, em 1879. Na França, o culto da mãe de Maria teve um impulso extraordinário depois das aparições da santa em Auray, em 1623. Tendo sido São Joaquim comemorado, inicialmente, em dia diverso ao de Sant’Ana, o Papa Paulo VI associou num único dia, 26 de julho, a celebração dos pais de Maria Santíssima.

A Paróquia de Sant’Ana em Feira de Santana

Catedral de Sant'Ana

Quando Domingos Barbosa de Araújo e Ana Brandão doaram, em 1732, cem braças de terra, na região do alto da Boa Vista, para construção de uma capela em honra de São Domingos e Senhora Sant’Ana, seus santos padroeiros, introduziram a devoção à mãe da mãe de Jesus em Feira de Santana.

Com o passar dos anos a capela, que fazia parte da Freguesia de São José das Itaporococas, foi crescendo em importância e serviu de ponto de referência para a realização da famosa feira de gado, chamada de “feira de Sant’Ana”, propulsora do povoamento da região.

Vê-se, pois, que a história da cidade coincide com a história da devoção a Sant’Ana. Cite-se como exemplo, em 1833, a instalação do município, com o título de vila, e a eleição dos primeiros vereadores realizada no interior da capela de “Sant’Ana dos Olhos d’Água da Feira”.

Devido à importância da vila, a sede da freguesia se transferiu de São José das Itapororocas para capela de Sant’Ana, em 1846, ocasião em que começaram os primeiros melhoramentos na velha edificação, que foram testemunhados, em 1859, pelo imperador D. Pedro II quando da sua passagem por nossa cidade.

A Freguesia ou Paróquia, com a instalação da Diocese, a 21 de julho de 1962, teve a sua Matriz elevada à dignidade de Catedral. Com a criação da Província Eclesiástica de Feira de Santana, foi acrescido o título de Metropolitana, sendo deste modo a Catedral Metropolitana de Sant’Ana.

 

Imagem de capa: Sant’Ana ensinando Maria a ler: quadro de Bartolomé Esteban Murillo (1617)