Que “tudo acontece em Feira” parece não haver dúvida, mas quando se trata do cenário musical alternativo nem todo mundo sabe das novidades que vêm ocorrendo. Dentro da incontestável pluralidade e fartura artística da cidade, temos entre nós vozes potentes, no sentido mais puro da palavra. Tive o privilégio de conversar um pouco com três feirenses que fazem parte da nova geração de cantoras de Feira e representam muito bem essa potência artística da cidade.
Duquesa
Como o nome sugere, Duquesa é quem comanda a cena de rap da cidade. Apesar da alcunha ser fruto de uma pesquisa na internet de quando a pequena Jeysa de doze anos sonhava em participar de um grupo de rap de mulheres, até agora representa muito bem a essência da publicitária e cantora Jeysa Ribeiro: “Eu nunca nego que sempre fui muito luxuosa! Mas eu não queria um luxo só pra mim, eu queria promover o luxo pras pessoas a minha volta. Queria fazer com que a gente ganhasse… que a gente saísse sorrindo pela primeira vez.”
Em meio a essa luxuosidade e urgência nasceu Duquesa: “Ela veio de uma necessidade de ser alguém”. Uma necessidade que se opusera com o temperamento “rebelde” de Jeysa, que sempre entendeu-se assim e quando queria dar suas opiniões acabava sendo rude. Foi quando ela começou a escrever, para ajudar a analisar melhor as situações e organizar os pensamentos, descobrindo facilidade na escrita.
Com as palavras no seu devido lugar, numa conversa casual em 2015 com o amigo beatmaker e produtor Robert Beats, Duquesa falou pela primeira vez. Robert colocou uma das mensagens de áudio enviadas por Jeysa num beat e ela logo percebeu: “Nossa, eu sirvo pra isso, né?”. Ele então convidou Jeysa pra cantar no refrão de “Só guardei pra mim”, do grupo Sincronia Primordial, no qual ela colocou um verso próprio. Uniram-se, então, as palavras bem pensadas de Jeysa e sua voz recém-descoberta, e surgiu Duquesa. Ela não parou mais e, óbvio, se faz entender muito bem.
Movendo-se numa versatilidade que não nos permite definir seu som, Duquesa transita do trap ao R&B. E foi justamente essa versatilidade que ajudou a chegar tão longe. Depois da sua participação na música “Eu Quero Você” da cantora Ju Moraes em 2019, Duquesa conheceu a jornalista, ativista e empresária Monique Evelle que, por sua vez, conhecia e apresentou Duquesa a produtora Boogie Naipe, da qual ela faz parte desde então.
As referências de Duquesa são variadas como o seu som, vão de Dolores Duran a Sza, de Billie Holiday a H.E.R., mulheres que, assim como Duquesa, cantam o que estão sentindo. “Pessoalmente, eu gosto de ser transparente, eu não consigo esconder por muito tempo quem eu sou. Gosto de falar mesmo o que sinto, o que penso… principalmente sendo uma mulher preta, de quebrada, a gente é obrigada a não falar tanto sobre nosso sentimento, nossas fraquezas, nosso tesão, nossa tristeza, nossa felicidade. Duquesa é representante de tudo isso!”.
“A minha função na arte é fazer ninguém se sentir sozinho”
É nessa linha de raciocínio que Duquesa se define: “A minha função na arte é fazer ninguém se sentir sozinho. Desde que eu comecei a escrever e lançar minhas músicas, eu percebi que não só eu tinha vivido o que eu escrevia. E de muitas das situações de abuso nos relacionamentos que vivi, por exemplo, eu não quero que as pessoas se sintam como eu me senti. Eu quero que saibam que eu já passei por isso e que ninguém se sinta só.”
Duquesa nasceu no Campo Limpo e ainda criança mudou-se para o conjunto Liberdade, no Feira VII. A cantora afirma que viver em Feira deu a ela a perspectiva de entender o que acontece fora da cidade: “Acho que Feira tem um pouco disso! Quando você tem uma meta, um projeto, você fica com muita sede. E eu pensei ‘se ninguém vai fazer isso, eu vou fazer, mano!’. E a nossa função enquanto artista que tem algum tipo de visibilidade é incentivar as pessoas a continuarem. Acho que Feira me deu acesso a essa coisa… Feira me motiva a trazer o melhor pra cá. As pessoas aqui precisam de acesso, o que falta é só acesso.”
Atualmente, Duquesa é um fenômeno nacional e reúne mais de 900 mil streams totais no Spotify. Mas, infelizmente, há pouco reconhecimento fora da cena alternativa na cidade. A cantora afirma que cantou poucas vezes em Feira e que falta incentivo da Secretaria de Cultura: “A Secretaria de Cultura não existe pra gente que é alternativo! Os meninos faziam batalha de rap com a polícia lá na praça querendo acabar com o evento. Sempre foi isso e comigo não foi diferente. Pra fazer a galera gostar do meu som eu tive que transitar fora”.
E mesmo circulando para além dos limites de Feira, chegando a ser indicada na categoria “Prestatenção” do Prêmio MTV Miaw, além de cantar com nomes importantes do rap nacional como Mano Brown, a mídia tradicional da cidade ainda não se deu conta do esplendor de Duquesa. “A gente tá fazendo coisas grandiosas, e a televisão, o rádio, ainda não comenta sobre isso. Furar essa bolha é muito difícil, e olha que a gente tenta….”
Mesmo sem a devida visibilidade na própria cidade, Duquesa não para. Ela está trabalhando para lançar o seu primeiro EP “Sinto Muito”, pela Boogie Naipe. “Vão ser poucas faixas porque a gente quer trabalhar poucos singles, mas vai ter o Deluxe também, então provavelmente em 2022 vamos ter duas versões da mesma Duquesa. Boas participações, bons contatos, pessoas com quem eu sempre quis trabalhar e não posso falar ainda. Aguardem, risos”. O que nos resta é esperar, mas, enquanto isso, tem muita Duquesa nas plataformas digitais pra reverenciar!
Isa Roth
O alter ego de Raísa Cruz Cerqueira Bastos é mais uma das expressivas vozes da nova geração de cantoras de Feira de Santana. Isa nasceu numa família de passarinhos, todos envolvidos com música, muito por conta da religião. A mãe colocou o microfone na mão da filha ainda com três anos, e ela já conseguiu admirar toda a família. Depois disso, Isa passou a cantar durante a infância nos eventos familiares e na igreja, onde começou a ter um contato mais profissional com a música.
Fora da religião, em 2008, Isa já tinha quinze anos e decidiu fazer o Seminário Básico de Música da UEFS, no Centro Universitário de Cultura e Arte, o CUCA, estudando piano. Foi quando participou do coral infantojuvenil e de eventos promovidos pelo Centro Universitário, como o Aberto, além de cantar na oficina de teatro que ela fazia também no CUCA. Foi no teatro, inclusive, que Raísa virou Isa Roth. Em busca de um nome artístico para se apresentar nas peças, numa pesquisa na internet, ela e sua mãe foram à procura de um sobrenome que representasse toda a essência artística ainda não explorada de Isa. Elas foram parar numa lista de nomes germânicos e descobriram o Roth, que significa “avermelhado”, foi identificação imediata.
Nos anos posteriores Isa continuou passeando pela música, até que em 2011 entrou no curso de Licenciatura em Música da UEFS. Foi lá que conheceu a cena cultural alternativa de Feira de Santana, trabalhando em parceria com o Feira Coletivo Cultural. Isa participou ativamente da organização dos eventos do Coletivo, aprendeu e entendeu a cena musical feirense, mas ainda não se via pertencente a esse universo enquanto cantora.
“Eu tive que sair do armário artístico. A gente não se coloca numa posição segura quanto artista, a gente sabe que arte não dá dinheiro, que é difícil. Principalmente você sendo uma artista do interior da Bahia, mulher… são muitas coisas pra enfrentar, às vezes você pensa que isso não é o que você quer pra sua vida. Eu dizia que não queria ser artista, mas eu estava era encubada.”. Depois de muita terapia e conflitos com a artista que ela mantinha ainda dentro do armário, Isa entendeu que ela queria construir uma carreira com músicas autorais.
Depois dessa compreensão, já em 2018, o Feira Coletivo estava precisando de uma banda feirense para fechar a grade do Fervura Feira Noise. Isa, que trabalhava na comunicação do Coletivo, mergulhou de cabeça e no ano seguinte já estava na line-up do Feira Noise Festival, o maior festival de música independente e artes integradas do interior da Bahia. Depois disso ela já não hesitou mais. Fez parceria com a produtora feirense, na época recém-idealizada, Banana Atômica e em 2021 lançou seu primeiro EP pelo selo, o “Mais”.
“Tenha coragem de viver, essa é a mensagem que eu quero passar com minha arte”
Isa define seu som como pop rock retrô, e suas referências diretas estão ligadas a esse universo. “Minhas referências são Cybdi Lauper, essa época New Wave do pop, sabe? Como a própria Madonna. As artistas novas também, Lady Gaga, Dua Lipa, The Weekend que tem essa pegada… eu tenho essa estética. E têm minhas referências indiretas, que é a parte do rock. Foi minha construção auditiva, eu me reconheci e cresci ouvindo Beatles, os pop rock de Malhação… nos anos 2000 o rock era pop, e eu cresci ouvindo isso.” Na escrita, Isa sempre gostou muito de se expressar de forma sincera e poética, o que ela aprendeu ouvindo e apreciando com as músicas da banda curitibana Tuyo.
Além da expressão sonora, Isa Roth se manifesta também esteticamente. A cantora diz que sempre gostou de se vestir, se expressar através da moda, apesar de nunca seguir os padrões das tendências, até por questões gordofóbicas da indústria: “Eu sempre gostei de montar looks, de me vestir pra chamar atenção, acho que isso é uma característica do artista. Eu gosto de ser ‘diferentona’, desde sempre. Eu pintei o cabelo pela primeira vez aos nove anos de idade, nem era moda ainda. Já tive cabelo loiro, vermelhão, azul, rosa, três cortes químicos, risos”. Transitando por essas experimentações estéticas, Isa foi descobrindo e entendendo cada vez mais a sua essência, o seu corpo e como ele estava diretamente ligado a sua arte.
É exatamente nisso que Isa Roth acredita, na arte como uma forma de comunicação e expressão: “É importante entender que na sua vida vão acontecer coisas incríveis e terríveis. A gente tem vivido o caos, literalmente. Mas é importante que a gente viva, que a gente não se esconda. Tenha coragem de viver, essa é a mensagem que eu quero passar com minha arte”. E, diga-se de passagem, é exatamente essa a sensação que temos ao ouvir o som de Isa Roth, a emoção de estar vivo.
Mas, como a própria Isa ressaltou, estar vivo não envolve apenas sensações positivas. A participação direta no Feira Coletivo ajudou bastante na construção da sua carreira, mas ser artista independente aqui em Feira trata-se, contraditoriamente, de dependência: “O corre do rolê aqui da cidade sempre foi muito dependente de nós mesmos, eu que já participei dos bastidores vi que é sempre a gente quem faz, a gente que manda… quando a prefeitura colar vai ser quando tudo estiver feito.” Ela fala também da existência de alguns editais do governo do estado: “São editais que surgiram pela urgência de dar apoio a artistas baianos, principalmente com a pandemia, mas a história muda de figura quando, geralmente, os apoios sempre vão pra capital e o interior é esquecido.”
Além disso existe a falta da divulgação na própria cidade, para além do público da cena alternativa por meio de redes sociais: “A gente até comemorou que o Roça Sound foi pra Micareta, mas depois de quantos anos eles foram participar? A Micareta investe apenas em artistas do mainstream, a gente que faz música independente e é visto como alternativo sempre sobra. Acho, inclusive, que a prefeitura nem sabe que Duquesa e Rachel Reis estão sendo esse fenômeno. Não existe uma visibilidade para o corre independente, a gente se faz sozinho, enquanto público, enquanto artista, enquanto produtora… e a gente paga o preço por não ter o apoio que a música no geral precisa.”
Mesmo tendo que se desdobrar pra fazer a cena acontecer, o que não falta pra Isa Roth é vontade de continuar: “Nesse cenário todo, Feira me influencia em querer mostrar que aqui também tem artista pop! Antes, na cena, a gente via muita banda de rock, agora eu vim num pacote com mulheres que, mesmo sem se comunicar, mostram que Feira faz todo tipo de música. É óbvio que Feira tem uma parada muito forte com cultura, não sei se é porque a gente é um entroncamento, todo mundo passa por Feira… é muita coisa que tá acontecendo por aqui, inclusive muitos talentos. Feira é rota, um arcabouço de possibilidades. A cidade mesmo se enriquece, ferve de cultura… e isso me atravessa enquanto artista, me alimenta”.
É nesse cenário que Isa Roth planeja a sua carreira. Em 2022 ela pretende lançar seu primeiro álbum, ainda sem definição de data de lançamento. “Tem algumas outras músicas que já estão engatilhadas, então já vamos ter lançamentos esse ano, mas o meu maior objetivo é conseguir fechar show, porque eu tô com muita saudade de tocar e eu quero compensar esses dois anos que a gente ficou sem show. Eu sou artista de palco, de performance, e sinto muita falta de fazer shows!”. O recado foi dado e já estamos fervendo de entusiasmo para matar a saudade de Isa Roth no palco, então já podem começar a convidá-la para shows.
Rachel Reis
Continuando no universo pop, mas regado com muita tropicalidade, Feira tem Rachel Reis. Com mais de 700 mil streams, somando o vídeo do YouTube e no spotify, apenas na música Maresia, Rachel homenageia a Bahia numa mistura deliciosa que passa também pelo afrobeat e MPB. Apesar de tantas referências nítidas, Rachel não considera o ritmo do seu som tão específico: “Eu não tenho muita definição de estilo musical, eu canto o que bateu, o que soar interessante no momento. E isso faz com que minha música chegue em pessoas que realmente gostam do meu trabalho.”
Ninguém imagina que uma pessoa que fala com tanto carinho do seu trabalho estava desacreditada da carreira musical. Vinda de uma família de músicos, com a mãe que foi cantora de seresta e a irmã de forró, Rachel não cantava e não se sentia bem para se colocar numa posição de destaque. Até que, em 2016, com o apoio dos próprios familiares, ela começou a traçar sua trajetória na música. “Foram aparecendo algumas coisas, eu cantava em qualquer lugar que viesse, nessa brincadeira eu fiz uns dois anos de barzinho, eventos, casamentos, mas eu decidi dar uma pausa. Eu já não estava gostando mais de cantar, já estava chato, não fazia mais sentido nenhum, decidi parar e comecei a estudar publicidade e propaganda, que eu faço até hoje.”
O que Rachel percebeu só depois que parou de cantar é que, na verdade, o problema não estava com a música em si, mas sim no fato dela fazer covers de outros artistas. Com a pausa surgiu a necessidade de compor suas próprias músicas. “Foi nesse período, com duas músicas já compostas, eu tava procurando meios de produzir, contatos com estúdio, que eu conheci o cantor Barro. Já conhecia o som dele, mas eu não sabia que ele era produtor também.”. Isso bastou para Rachel Reis lançar duas músicas em parceria com o pernambucano Barro. Daí não parou mais.
Foi uma decisão que mudou completamente a visão de Rachel Reis enquanto artista. E sua personalidade ajudou bastante a permanecer no caminho da música: “Era mais complicado quando eu não tinha noção de como funcionava, mas eu sempre fui muito curiosa e eu dei uma estudada nessa área, de como funciona o mercado, em qual nicho eu tô e tal… o que me ajudou muito foram as ligações que fui fazendo, porque eu já sabia que não era um meio fácil e eu fui muito sortuda de conseguir fazer as conexões certas.”.
“Indiretamente Feira influencia no meu trabalho, todas as vivências, as experiências que tive aqui”
Entre estudos e conexões, Rachel Reis sempre recebeu influência das artistas que ouve. Amy Winehouse, Mayra Andrade, Céu, Jorge Ben Jor, Milton Nascimento e a galera toda da tropicália são alguns dos nomes que aparecem nas suas playlists e influenciam diretamente nas composições e sonoridade da cantora. Tantas referências em encontro com a criatividade pulsante de Rachel resultou no EP “Encosta”, que tem misturas que passam também por ritmos que a cantora ouve desde criança, como o arrocha e o pagodão, ritmos muito presentes nas ruas de Feira, o que prova a influência da cidade em sua música: “Feira é minha casa, eu gosto sempre de pensar que a gente tem nossos problemas em casa, mas nunca deixa de ser a nossa casa, a nossa referência, o nosso berço. Indiretamente Feira influencia no meu trabalho, todas as vivências, as experiências que tive aqui… mesmo que eu não faça com a intenção, acaba que Feira influencia muito em tudo o que eu faço.”.
Essa atmosfera tropical que exala da música de Rachel Reis vai além do seu som e contagia também a sua estética. Longe da Bahia estereotipada que facilmente se difunde pela mídia fora do nordeste, Rachel diz se preocupar também com a imagem que a sonoridade do seu trabalho transmite. “Eu sempre converso muito sobre a questão estética com a equipe de produção de clipe, sempre dou muito pitaco, tenho uma pasta com referências de vídeos, tenho essa preocupação de não soar uma coisa estereotipada… mas acaba que eu sempre consigo trabalhar com uma galera que é bem cuidadosa nesse sentido, e eles entendem muito bem o que eu quero transmitir. No final é tudo bem natural.”.
É nesse embalo que Rachel Reis vem roubando o coração do Brasil. Aqui em Feira não é diferente, a cantora afirma que a cena independente tem se mostrado bastante aberta ao seu trabalho: o Feira Noise, a produtora Banana Atômica, o coletivo Mulheres que Fazem Arte, dentre outros, estão constantemente demostrando apoio ao seu trabalho. Além do público alternativo da cidade, que desde os primeiros lançamentos apoiam e acompanham Rachel nas redes sociais. Quando questionada em relação ao suporte dos governantes e da mídia tradicional, ela preferiu não falar sobre: “Eu parei um pouco de pensar nisso, eu acabei me desgastando um pouco nesse sentido na época que eu tocava em barzinho e eu larguei de mão. Fiquei só nessa de quem quiser abraçar, abraça… joguei pra cima mesmo! Mas, graças a Deus, tem surgido uma galera que me apoia de verdade, dá suporte, me acompanha muito!”
Para 2022 Rachel planeja lançar seu primeiro álbum. A correria da produção está tomando conta da sua rotina, por isso, provavelmente, ela vai deixar se afastar do estágio para conseguir conciliar a faculdade e a música. “A gente já tá bem encaminhado de letra, já tenho tudo desenvolvido no processo de pré-produção, e vamos entrar agora na fase de criação estética, fotografia… o plano é que ele saia entre março e abril de 2022, não tem data certa ainda. Mas é certeiro que em 2022 ele sai!”.
E não é apenas pelo novo álbum que temos que esperar, também ansiamos por shows. O primeiro foi no dia nove de dezembro, em Salvador, e, apesar do sucesso, deixou a cantora bastante assustada: “O barzinho sempre foi um lugar de você tá ali cantando, mas poucas pessoas estão realmente prestando atenção, então eu não tinha realmente essa noção do que é cantar autoral pras pessoas que foram ali pra consumir aquilo. Como eu lancei na pandemia, eu só tinha noção em relação a números, não tinha noção do presencial. Foi um susto quando eu cheguei nesse primeiro show e vi que tinha uma quantidade legal de pessoas e elas sabiam todas as letras, de todas as músicas. Eu fiquei meio assustada com isso! Tá sendo meio estranho, mas eu tô gostando do que tá acontecendo”. Aqui em Feira, Rachel só cantou em apenas um show, no bar Toma. “Quero fazer vários shows, vários festivais… tomara que não pare tão cedo!”
Conhecendo um pouco mais dessas três artistas com expressividade, ideias e talento primorosos, visitando rapidamente seus perfis nas redes sociais, ou fazendo uma busca rápida pela internet, dá pra perceber que a conta não bate. As boas críticas em matérias da mídia alternativa, na maioria das vezes fora da Bahia, e a receptividade mais que positiva do público não condiz com o pouco reconhecimento em Feira de Santana. A cidade não está em sintonia, a arte feita em Feira não está chegando aos próprios feirenses. Não é provável que a gente consiga estruturar e fortificar o movimento cultural da cidade, que é tão fértil e precioso, sem apoiar nossos artistas de todos os seguimentos. Enquanto isso, a cena alternativa de Feira resiste e se fortalece como pode.