No auge da minha adolescência – nem faz muito tempo assim – eu tinha uma vontade: viajar por aí de caminhão. Pegar umas caronas com os caminhoneiros e partir sem um rumo certo. Apenas vivendo um momento de cada vez, em cada rodovia e estrada desse nosso tão grande país. Mas a vida adulta chega trazendo responsabilidades e os anseios por aventuras adormecem um pouco. Enquanto lembrava disso, percebi que a figura do caminhoneiro é um tanto fascinante…
Observe que todos os meus anseios da adolescência é algo rotineiro para eles. Os caras não param, vivem o momento seja lá onde for e têm sempre boas histórias para contar. Porém, a diferença é que não é só uma mera aventura. Eles vivem tudo isso pelo pão diário, pela responsabilidade, pelo compromisso com a família, depois de deixar alguns sonhos engavetados.
Feira possui um dos maiores entroncamentos rodoviários do Brasil, e isso faz com que o fluxo de veículos pesados seja intenso por aqui. Diante disso, me pego refletindo sobre quantos corações cheios de saudade e pesados de sonhos passam nas rodovias da nossa cidade exatamente enquanto escrevo esse texto. Talvez algum Roberto lá da Paraíba descanse em sua rede esta noite querendo dormir ao lado de sua amada e ver seus filhos irem para a escola pela manhã. Ou algum Seu João do Mato Grosso prepare seu café lembrando que quando era garoto queria ser dono de um restaurante.
São sempre em detalhes como esses que acho Feira um lugar singular e que sempre renderá alguma coisa para uma mente imaginar algo. Eu poderia só ouvir os caminhões cortarem as rodovias daqui, poderia só desconfiar de todas as cargas que passam, reclamar que os caminhões atrapalham o trânsito do anel de contorno, mas eu quero pensar com minha mente inocente de adolescente adormecida e imaginar esses caras cheios de sonhos tão próximos de nós por algumas horas.
De fato, eles se tornam fascinantes não só pelas aventuras que almejei enquanto garotão. Agora ainda mais por enxergar suas vidas numa perspectiva de responsabilidade e me ver na mesma situação – mesmo que “parado” em Feira. A aventura quase infantil cede lugar à melancólica realidade do homem dividido entre seus sentimentos em formas de sonhos e sua razão transfigurada em deveres.
Se você ler esse texto e for caminhoneiro, saiba que admiro demais sua coragem de ser um “aventureiro”. Por mais que não compreenda as implicações do seu ofício, eu acho que consigo entendê-lo como gente crescida. O que desejo a você é que sua famosa faixa “não é pressa, é saudade dela” passe rápido pelos caminhos e você possa matar a saudade seja lá do quê e quem for. Mas enquanto não passa, seja bem acolhido em Feira.