“O profeta Raimundo, grande da pintura brasileira, carregado de drama, de solidão e de pecado, é no entanto o mais alegre e terno, o mais puro e numeroso, jamais sozinho pois sua palavra é de solidariedade e sua mensagem é o amor entre os seres humanos, é a alegria fluindo dos pincéis e de seu coração. É o profeta de Feira de Sant’Ana, lá vem montado em seu jumento e vai levar sua carga de amor aos confins do mundo”.

Assim o escritor Jorge Amado descreveu o artista feirense Raimundo Falcão de Oliveira, um dos maiores nomes das artes plásticas que Feira de Santana já produziu. Nascido em 1930, Raimundo possui ampla obra, já exposta em Paris, Nova York, Madri e Moscou, além de outras cidades da Europa, America Latina e Brasil, a exemplo de Rio de Janeiro e São Paulo.

Sua primeira exposição, entretanto, ocorreu em no Colégio Santanópolis, na década de 40, onde estudava, seguindo-se uma outra no hall da Prefeitura Municipal de Feira de Santana, em 1951.

Raimundo teve conexão central com sua mãe, Dona Santa, assídua frequentadora da Igreja Matriz (Catedral de Santana).

Lembra Edivaldo Boaventura, em texto sobre Raimundo de Oliveira: “Habituei-me desde muito cedo, ao tempo em que criança morava na Praça da Matriz a ver Raimundo, sempre de calça e paletó escuros e aparentando mais idade do que realmente tinha, a passar bem devagar conduzindo pelo braço D. Santa. Vinham mãe e filho pelo beco de Santana, atravessavam o largo em cadência lenta e ritmada e entravam na Matriz pelo portão da frente”.

Raimundo de Oliveira

Em Salvador, Raimundo Oliveira chegou a cursar a Escola de Belas Artes da Universidade da Bahia. Lá conheceu artistas como Mario Cravo Júnior e Jenner Augusto. Daí, para o mundo: morou em São Paulo e no Rio de Janeiro, onde entrou em contato com artistas de renome nacional.

Juraci Dórea, artista feirense, em texto para o livro “A Via Crucis de Raimundo Oliveira”, descreve a personalidade de Raimundo já em Salvador: “Eu o conheci na pensão de Renato, em Salvador, onde moramos em quartos vizinhos.  […] Não me pareceu uma criatura tão estranha como se costumava descrevê-lo aqui em Feira de Santana, embora tivesse aquele hábito (por certo adquirido no Sul) de andar, em plena cidade da Bahia, sempre vestido com paletó e gravata. Já passava dos 30 anos. Calmo no falar. Introspectivo. Entregava-se, na época, a um discreto alcoolismo. Queria saber, às vezes, das pessoas e das coisas de Feira, com as quais perdera o contato”.

A obra de Raimundo Oliveira é muito influenciada por temas cristãos católicos, influência atribuída à sua infância religiosa ao lado da mãe. Diz Juraci Dórea, sobre o momento em que Dona Santa faleceu, em 1954: “Raimundo entrou em pânico, entregou-se ao mais completo desespero, deixou de pintar e chegou mesmo a ser internado para tratamento”.

Raimundo de Oliveira

Para Antonio Celestino, os dramas familiares tiveram influências marcantes na vida de Raimundo de Oliveira: “Profundamente religioso, nascido de família modesta, de mãe devotadamente católica, problemas familiares marcaram-no indelevelmente, como detalhadamente me confessara nas mais estranhas condições e nas mais graves aflições de sua vida. Creio que foi esse clima de drama em que viveu seus verdes anos que originou suas primeiras manifestações artísticas”.

Raimundo tinha aspirações seminaristas, chegando a se matricular em uma instituição que recepcionava vocacionados tardios, mas não seguiu a trilha religiosa – pelo menos a tradicional. Restou-lhe, como disse Juraci Dórea “a sublimação, pela arte, de sua desesperada aventura mística”.

Raimundo de Oliveira

Raimundo de Oliveira

Raimundo de Oliveira

Raimundo de Oliveira

Raimundo de Oliveira

Raimundo de Oliveira

Em 1966, Raimundo de Oliveira foi encontrado morto no Hotel São Bento, em Salvador, após ter cometido suicídio.

Edivaldo Boaventura lembra das circunstâncias: “O prefeito de Feira, Joselito Falcão Amorim, mandou buscar o corpo e lhe deu sepultura. Helder Alencar, secretário do Governo Municipal, fora encarregado do transporte, embalsamento e demais providências. Fernando Santos, que assistiu o enterro, contou-me que o féretro saíra do mesmo lugar da primeira exposição de Raimundo em Feira. No mesmo recinto nobre, no mesmo mês quente de janeiro. Quinze anos depois. Foi a volta definitiva…

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