Em Teresina existe um imponente Shopping da Cidade. É um centro de comércio popular no qual se mercadeja, sobretudo, produtos importados da China. Dispõe de três pisos, praças, dezenas de corredores e quase dois mil boxes que abrigam uma variedade ampla de produtos. Fica muito bem localizado, na Praça da Bandeira, que abriga um terminal de ônibus e uma estação de trem. Basta atravessar a avenida Maranhão para se alcançar a orla do rio Parnaíba, encoberto por uma vegetação densa.

Caso pretenda visitar o entreposto, o turista desatento não vai enfrentar dificuldade: qualquer cidadão indica – com a amabilidade habitual do piauiense – a localização. Sob as árvores altas e esguias da Praça da Bandeira o visitante pressente a lufa-lufa habitual de centros comerciais do gênero. Do lado do Shopping da Cidade fica a estação do VLT, inaugurada recentemente, que conecta o centro à periferia da capital.

“A lógica dos boxes é similar, boa parte dos produtos é idêntica e até mesmo a disposição das mercadorias nos mostruários é parecida.”

Quem está acostumado a frequentar centros de comércio popular – sobretudo em capitais como São Paulo ou Rio de Janeiro – não se surpreende. A lógica dos boxes é similar, boa parte dos produtos é idêntica e até mesmo a disposição das mercadorias nos mostruários é parecida. Naquele circuito, quase tudo é importado da China. É ocioso apontar que até os preços oscilam em faixas semelhantes.

Quem deseja fazer um lanche nos intervalos das compras encontra as mesmas chapas que fritam hambúrgueres e idênticos carrinhos de cachorro-quente, visíveis em tantos lugares. Variedade só nos pratos-feitos apregoados na praça de alimentação. Uma refeição gordurosa qualquer sai por cerca de dez reais, às vezes menos.

Várias opções

Prestando atenção o visitante descobre até que muita gente do interior do Piauí e do vizinho estado do Maranhão – Teresina fica exatamente na fronteira com este estado – acorre ao entreposto, inclusive aos sábados. Vão em busca de preços atraentes para produtos de que necessitam. Alguns percorrem dezenas de quilômetros para comprar mais barato.

As opções são incontáveis: confecções variadas, eletro-eletrônicos, acessórios para celular, calçados, doces típicos do Piauí – o de buruti, em barra, se sobressai pela cor – e, até mesmo, artigos eróticos. A afamada cajuína, obviamente, também está disponível por lá, com sua consagrada coloração cristalina.

“A Prefeitura de Teresina faz ampla propaganda do entreposto, associado ao dinamismo mercantil do centro da capital.”

A Prefeitura de Teresina faz ampla propaganda do entreposto, associado ao dinamismo mercantil do centro da capital. Aquela gente, até 2009, trabalhava pelas ruas. Os problemas de segurança e mobilidade exigiam a intervenção, segundo o discurso oficial. Alega-se, hoje, que os permissionários estão satisfeitos. Matérias disponíveis na internet mostram trabalhadores satisfeitos com a mudança.

O entreposto é administrado pelo Instituto de Negócios do Piauí. Fiz algumas buscas na internet, mas não consegui maiores informações sobre o modelo de gestão do espaço. Também não descobri quanto pagam os permissionários.

Mercado de São José

Lá perto – na mesma Praça da Bandeira –, quase contíguo, está o imponente Mercado de São José, relíquia arquitetônica do século XIX. Parte do entreposto foi reformada, exatamente aonde se vende o rico artesanato local. Pelos corredores, caprichados artigos de palha contracenam com incontáveis imagens de santos – Santo Antônio, Santo Expedito, Nossa Senhora do Amparo, padroeira de Teresina – esculpidos em madeira. Pelos corredores tranquilos, o visitante respira, com mais intensidade, a pulsante cultura piauiense.

A parte anexa do mercado, porém, não foi recuperada. É a ala em que se vendem cereais, carnes, condimentos, artigos diversos. Tem ar de feira-livre. Lá, o teto, escuro e sujo, as paredes manchadas, encardidas, e o piso, de cimento crespo, muito desgastado pelo uso, atestam o abandono. Mas há outras deficiências em volta.

“Mesmo numa visita casual o feirense não deixa de encontrar semelhanças com a situação do prometido reordenamento do centro da Feira de Santana.”

Numa rua lateral ao mercado, amontoam-se bancas de madeira que mercadejam frutas, verduras, legumes, ovos. É difícil transitar pelos corredores exíguos, evitar as poças de água, não embaraçar-se nos consumidores que passam incessantemente. Há tempos a prefeitura promete solução para aquilo. Mas, até agora nada.

Mesmo numa visita casual o feirense não deixa de encontrar semelhanças com a situação do prometido reordenamento do centro da Feira de Santana. E, nessa trama uma questão sempre avulta, candente: o que vai ser feito do Centro de Abastecimento da maltratada Princesa do Sertão? Isso para não mencionar os protestos dos camelôs, que seguem em sua saga pelo centro da cidade…