Clarissa Macedo faz parte de uma geração de artistas feirenses que escolheu a rua para proclamar sua arte: “A Academia me alimenta, mas a rua me seduz”, disse ela ao Feirenses quando tratamos do seu livro “Na pata do cavalo há sete abismos“, que será lançado no próximo dia 20 de setembro (domingo).
Sete abismos
Clarissa Macedo
A alma relincha
na estrebaria.
Macho de cavalo
que galopa trovas
do pensamento,
engole as águas
de pasto e de feno.
Há terror nos ventos
do cavalo magoado,
que perdido rompe,
alado, as trincheiras
e cai como anjo
de tormento.
Há éguas rondando
pratos de esquecimento.
Há rodas e correias
na carruagem violenta.
Naquela crina
de ferraduras negras
um cavalo
de patas ralas:
Os sete abismos da vida.
Clarissa escolheu lançar a obra no Beco da Energia, lugar que tem sido palco de intervenções inéditas na cidade, reunindo várias formas de expressão artísticas: “Eu buscava um lugar que pudesse aliar um público bem diverso. Não queria bar, nem museu. Queria comunidade, galera, gente de todos os lados. Na primeira visita que fiz ao beco, a ideia me pareceu fantástica. E dia 20 se concretizará um espaço multi, com exposições, música, comida, gente de tudo que é lado e, claro, a poesia”.
“Mas meus cavalos trotam soltos pelas ondas de meus pensamentos e de minha caneta.”
Ela nasceu em Salvador, mas mora em Feira de Santana, onde se licenciou em Letras Vernáculas e fez mestrado em Literatura e Diversidade Cultural pela Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS). “Na pata do cavalo há sete abismos” é vencedor do Prêmio Nacional Academia de Letras da Bahia de Literatura (2013).
Mas, por que o cavalo? Clarissa explica, mostrando que a obra apresentou-se de galope: “Eu já vinha preparando de forma inconsciente este trabalho há algum tempo. O livro só se formata em definitivo, entretanto, quando, na última hora, decido inscrever-me na premiação (Prêmio Nacional da Academia de Letras da Bahia) que, mais tarde, permitiria sua publicação. Sou fascinada por algumas figurações. Uma destas é o cavalo. Animal icônico, que representa força, doçura e sensualidade, o cavalo revestiu-se em minha poesia de um simbolismo que precisaria de muito tempo para explicar. Quando, em maio do ano passado “começo” a compor o livro, tenho apenas 14 poemas que desejaria que estivessem na compilação pretendida. Num rompante de algumas horas, escrevo 36. Aproveito 34. Em dois dias, escrevo mais dois. Chego ao número de 50 poemas e ao conjunto almejado para “Na pata do cavalo há sete abismos” – título que me surgiu também de súbito (a criação é este instante de epifania torta).
O gesto da criação
Clarissa Macedo
Na trama das melodias que calam
dos versos que fogem no bando
crava-se a flecha de um sintoma.
Ao romper signos, penetrar espantos,
longe de escrever as núpcias,
engasgo num rio de dúvidas
e pereço… só a palavra é cúmplice
do que enlouqueço.
A autora revela com carinho o que “seus cavalos” representam: “O significado do livro, não só pela premiação que tem me trazido tanto, mas pelo nível de maturidade e acabamento que consegui, marca um paradigma estético-teórico em meu trabalho recente, que só agora começo a delinear. Estou escrevendo outros textos. Mas meus cavalos trotam soltos pelas ondas de meus pensamentos e de minha caneta. Há muito ainda para eu conquistar; muito para crescer e amadurecer. Mas este livro me deixa feliz, e contempla uma face interessante de meu trajeto em poema”.
Recapitulando…
O quê: Lançamento do livro “Na pata do cavalo há sete abismos”, de Clarissa Macedo.
Quando: 20 de setembro, a partir das 08h.
Onde: Beco da Energia (centro).
Os poemas inseridos no texto integram o livro, que você pode adquirir no site da editora 7letras.
Trackbacks / Pingbacks