Um dos importantes debates a respeito da preservação da memória de Feira de Santana se refere ao estado de conservação dos prédios e patrimônios materiais históricos da cidade. Recentemente, a TV Olhos D’Água fez uma importante matéria sobre o assunto, mostrando como já perdemos muito da nossa arquitetura.
Para colaborar com essa discussão, a equipe do Feirenses fez um levantamento acerca dos patrimônios materiais tombados em Feira de Santana. Lembrando que o tombamento é um mecanismo jurídico que permite ao Estado intervir em algum bem público ou privado visando garantir a sua preservação.
Todos os 16 bens materiais a seguir foram tombados pelo Estado, sendo considerados patrimônios culturais da Bahia:
Capela de Nossa Senhora dos Remédios
Trata-se do templo religioso mais antigo da cidade de Feira de Santana, pois sua construção data os anos de 1700 e 1705. A tradição oral dá conta de que a igrejinha dos Remédios fora construída para abrigar os negros escravos e suas devoções, devido a segregação racial dos tempos coloniais. Alberto Alves Boaventura (1983) quando se refere à igreja de Nossa Senhora dos Remédios, informa-nos sobre uma outra capela erguida dentro desse templo, a fim de abrigar os negros na devoção a São Benedito, chamada a atenção para as alfaias e parâmetros pertencentes à irmandade do referido orago. Nessa perspectiva, é válido afirmar que esteve presente a devoção a Nossa Senhora dos Remédios e do Rosário, São Benedito e Santo Antônio por vários dos componentes sociais da sociedade feirense. Assim, a Capela dos Remédios foi palco, no século XIX, de realizações de Tribunais dos Júris, reuniões da Câmara Municipal, eleições, festas, celebrações litúrgicas, dentre outros acontecimentos (Fonte: IPAC).
Endereço: Rua General Câmara, nº 56.
Data do Tombamento: 19/04/2006.
Propriedade: Privada.
Uso Original: Igreja.
Catedral de Santana
Segundo publicações, em 1732, no Cartório da Vila de N. S. do Rosário do Porto de Cachoeira, o tenente Domingos Barbosa de Araújo e sua esposa “doaram cem braças em quadra, no terreno do Alto da Boa Vista” para erigir uma capela para Santa Ana e a São Domingos.
Em 1833, seguindo a tradição local, a igreja atual foi construída ao lado da “igreja velha”, estando nesta data, na altura de receber o madeiramento da cobertura, conforme referências nas atas da Câmara Municipal.
Pela Lei provincial nº234, de 18/03/1846, a capela passa a ser sede paroquial, após ampliação promovida pela Câmara (Fonte: IPAC)
Endereço: Praça Monsenhor Renato Galvão, Centro.
Data do Tombamento: 09/09/1998.
Propriedade: Privada.
Uso Original: Religioso.
Coreto da Praça Bernadino Bahia
Pouco sabemos da origem e desenvolvimento da Praça Bernardino Bahia. Nas primeiras décadas do século passado ela já apresentava densa arborização, nenhuma pavimentação no seu interior e o seu coreto de formas singelas no centro, construído em 1915 pelo intendente Coronel Bernardino Bahia, sendo o primeiro coreto da cidade. O que seguramente podemos afirmar é que o seu entorno era constituído, em grande parte, por construções com características do século anterior ou ecléticas, compostas basicamente de um só pavimento. Além do coreto, pouco se sabe sobre o mobiliário urbano, que parece ter sido bastante simples, limitando-se aos lampadários (Fonte: IPAC).
Endereço: Praça Bernardino Bahia.
Data do Tombamento: 05/11/2002.
Uso Original: Coreto.
Coreto da Praça da Matriz
Trata-se de um belo exemplar de mobiliário urbano, apresentando elementos pré-fabricados em ferro fundido, importado da Europa. Localizado na Praça Matriz, que por volta das décadas de 20 e 30 do século XX sofreu mudanças no seu traçado, com implantação de caminhos concêntricos, áreas de canteiros gramadas e arborizadas, bancos, lampadários e o próprio coreto, que foi construído pela Comissão da Igreja de Senhora Santana em 1916, tendo sido inaugurado no dia 24 de dezembro de 1969 (IPAC).
Endereço: Praça da Matriz.
Data do Tombamento: 05/11/2002.
Uso Original: Coreto.
Coreto da Praça Fróes da Mota
Como ocorria frequentemente nos séculos XVIII e XIX no período do Brasil Colônia, as praças então surgidas ou traçadas eram ocupadas por um campo sem qualquer pavimentação, sem árvores, não possuindo mobiliário urbano, tendo seu espaço definido pelas construções à sua volta, construções simples compostas de um só pavimento.
A ocupação à volta tende a se modificar com o tempo e com a importância que ganham os seus espaços, sendo as construções mais simples pouco a pouco substituídas por edificações mais elaboradas. O coreto, como mobiliário urbano de presença marcante, vem legitimar essa nova situação, influenciado pelo processo de urbanização desses espaços abertos.
A Praça Fróes da Motta, com o seu coreto, construído em 1919 pelo intendente Coronel Agostinho Fróes da Mota, representa bem esta dinâmica. Ainda em 1920 era delimitada pelas construções singelas. O seu interior constituía-se em campo onde existia o comércio de gado, tendo uma espécie de curral em trecho hoje ocupado pelo Fórum Filinto Bastos. Ainda existiam algumas construções ecléticas mais elaboradas, como por exemplo, o Palacete do Coronel Agostinho Fróes da Motta que, embora térreo, rompia a horizontalidade do entorno da praça devido às proporções da bela fachada de porão alto (Fonte: IPAC).
Endereço: Praça Fróes da Motta.
Propriedade: Pública Municipal.
Uso Original: Coreto.
Data do Tombamento: 05/11/2002.
Filarmônica 25 de Março
Na fachada principal do prédio está gravada a data de 1868, ano em que a Filarmônica foi provavelmente fundada.
Até1937, a“sede da Filarmônica abria seus salões para grandes festas, considerados o principal lazer de Feira de Santana”, conforme artigo publicado no Jornal A Tarde, de 12/07/85.
Segundo este mesmo jornal, já em 1986, o prédio estava em “estado de abandono”, pela falta de apoio oficial às Filarmônicas (IPAC).
Endereço: Rua Conselheiro Franco, 279.
Data do Tombamento: 09/09/1998.
Propriedade: Privada.
Uso Original: Filarmônica.
Igreja Senhor dos Passos
A Igreja Senhor dos Passos surgiu quando o Coronel Felipe Ferreira de Cerqueira obteve permissão do Arcebispo de São Salvador da Bahia para construir, ao lado da sua residência, uma capela e um cemitério, cujo padroeiro seria Senhor dos Passos. Em 1864, a capela e o cemitério foram demolidos para que fosse construída a atual sede da Prefeitura Municipal. O terreno foi permutado por uma área de terra que ficava do outro lado da praça, onde hoje é a nossa Igreja Senhor dos Passos.
Em 1921, o Arcebispo de São Salvador da Bahia, Dom Jerônimo, aprovou a planta para a construção da Igreja, feita pelo Engenheiro Acyole Ferreira da Silva, sendo colocada na parte sul do terreno a pedra fundamental em 1926, tendo como orador deste ato, o Dr. Gastão Guimarães. Em 18 de julho de 1929 era celebrada a primeira missa com a Igreja em construção (IPAC).
Endereço: No cruzamento da Av. Senhor dos Passos e a Av. Getúlio Vargas.
Data do Tombamento: 09/09/1998.
Propriedade: Privada.
Uso Original: Religioso.
Matriz de São José de Itapororocas
Em 1615 ocorrem as primeiras ocupações de terras na área. No ano de 1657, conforme documentação existente no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, em Lisboa, à Freguesia de São José das Itapororocas foi eclesiasticamente erigida e criada por ato em 1695. Em 1696, o Alvará Régio de 09 de março confirma a criação da Freguesia que foi desmembrada da Jurisdição eclesiástica de Cachoeira. No ano de 1846 Lei Provincial nº 234, de 19 de março, transfere a sede paroquial para a Vila de Feira de Santana. Outra Lei Provincial, de 23 de abril de 1864, restabelece a Paróquia de São José no Governo do Arcebispo D. Manoel Joaquim da Silveira (Fonte: IPAC).
Endereço: Praça da Matriz, Distrito de Maria Quitéria.
Data do Tombamento: 09/09/1998.
Propriedade: Privada.
Uso Original: Religioso.
Paço Municipal
Em 1880, a Câmara adquiriu o edifício que alugara para a sede da Prefeitura e, em 1906, a expansão dos serviços municipais levou à compra de mais um prédio para instalações complementares. No ano de 1920, o Conselho autorizou a construção da nova sede, cuja pedra fundamental foi lançada no ano seguinte, sendo, na época, intendente, Bernardino da Silva Bahia e tendo como responsável técnico o engenheiro Acciolly Ferreira da Silva. Na intendência de Arnold Ferreira da Silva, foi inaugurado o atual prédio da Prefeitura, no ano de 1926, que custou 100 contos de réis (Fonte: IPAC).
Endereço: Avenida Senhor dos Passos, s/n.
Data do Tombamento: 05/11/2004.
Propriedade: Pública Municipal.
Uso Original: Paço Municipal.
Painel do Artista Lênio Braga (Terminal Rodoviário)
Pintor, desenhista e fotógrafo, residiu em São Paulo até 1954 e, já depois de iniciar-se em pintura, fez aprendizado de gravura com Lívio Abramo e Yllen Kerr na Escola de Artesanato do Museu de Arte Moderna em São Paulo. Transferindo-se para Salvador em 1956, dedicou-se à publicidade e às artes gráficas, passando a executar, em anos mais recentes, trabalhos fotográficos de arte e documentação para o Museu de Arte Moderna da Bahia e o Centro de Estudos Afro-Orientais da Universidade do mesmo estado. Foi um dos organizadores e participantes da mostra de artistas baianos apresentada em 1958 em São Paulo (Fonte: IPAC).
Endereço: Avenida Presidente Dutra – Terminal Rodoviário.
Data do Tombamento: 01/10/2001.
Propriedade: Privada.
Uso Original: Painel.
Prédio da Escola Maria Quitéria
O imóvel foi construído em 1918, pelo Cel. Agostinho Fróes da Motta, intendente de janeiro de 1912 a dezembro de 1915. Foi o segundo Grupo Escolar construído no município de Feira de Santana, fato importante para o sistema escolar da cidade.
Seu nome foi mais uma das homenagens a Maria Quitéria de Jesus (1792-1853), heroína da Independência da Bahia (IPAC).
Endereço: Rua Conselheiro Franco, s/nº.
Data do Tombamento: 24/11/1994.
Propriedade: Pública Estadual.
Uso Original: Escola.
Prédio da Santa Casa da Misericórdia (Casa do Menor)
Construído, provavelmente, na segunda metade do século XIX, pelo Cel. João Pedreira, cuja residência se hospedou D. Pedro II quando da sua visita à vila. Em 1879 o Coronel propõe vender à Irmandade da Santa Casa o casarão de sua propriedade, situada na Rua da Misericórdia, para sede do Hospital permanente desta instituição, sendo em 1879 a sua proposta analisada e registrada. Em 1880 desiste da venda, sendo que, finalmente, em 1884 a negociação foi efetivada e em 1886 foi inaugurado.
Em 1957 abrigou a sede do 1º batalhão de Policia Militar -1º BPM, onde permaneceu até 1984 quando este foi transferido para novas instalações, ficando o imóvel desocupado. Durante as sucessivas mudanças de uso o prédio foi objeto de algumas adaptações, sem, contudo, mudar sua estrutura básica. Em 1986 o casarão passou a abrigar menores em tempo integral, por isso foi denominado de Palácio do Menor (Fonte: IPAC).
(Em 2014, a Prefeitura Municipal doou a área para o SESC, que está construindo um restaurante, um teatro e área administrativa no espaço).
Endereço: Praça Carlos Bahia, antiga Rua da Misericórdia.
Data do Tombamento: 18/09/2008.
Propriedade: Privada.
Uso Original: Santa Casa da Misericórdia.
Prédio da Vila Froés da Motta
A praça vizinha ao imóvel apresenta ligeiro declive, tem à sua volta árvores intercaladas por palmeiras imperiais e, no centro, um coreto construído em 1919 por Agostinho Fróes da Motta. Este, ao visitar Hamburgo em 1902 e conhecer uma residência, resolveu construir a sua, em Feira de Santana, com planta equivalente. Um ano depois a casa foi construída sob administração do proprietário, tendo como mestre de obras João Pascoal dos Santos. O proprietário morreu em 23/03/1922, deixando em testamento a casa para seu filho Eduardo Fróes da Motta, pedindo que ele ali morasse com sua família, o que ocorreu no ano seguinte (Fonte: IPAC).
Endereço: General Câmara.
Data do Tombamento: 19/04/2006.
Propriedade: Privada.
Uso Original: Residência.
Prédio do Arquivo Público Municipal
É o mais antigo prédio público municipal construído na história da educação de Feira de Santana. Foi construído no início do século XX, sendo na época o intendente Agostinho Fróes da Motta.
Quando a escola João Florêncio foi desativada, ele passou por reformas para ser implantado aí o Arquivo Público Municipal. Mais tarde foram construídos na parte do fundo anexos de apoio a esse arquivo em estilo contemporâneo, mas que estão em harmonia com a construção antiga (Fonte: IPAC).
Endereço: Av. Senhor dos Passos, s/nº.
Data do Tombamento: 24/11/1994.
Propriedade: Pública Municipal.
Uso Original: Escola.
Prédio do Grupo Escolar J.J. Seabra (Antiga Escola Normal Rural)
Edifício construído no início do século XX para ser instalado o Grupo Escolar José Joaquim Seabra. Em 1912 a construção é iniciada pelo Engenheiro Accioly Ferreira da Silva e em 1916 é inaugurado, funcionando como Escola. Em 1927 passa a funcionar como escola Normal, sendo desativada em 1968, abrigando a Faculdade de Educação criada por decreto nº 20.647, de 10/04/1968, quando o prédio foi reformado e ampliado para atender a nova demanda. Em 1976 deixa de funcionar como Faculdade de Educação e passa a abrigar instituições como o Seminário de Música, Centro de Estudos Feirenses e Setores da Prefeitura.
Em 1994 a UEFS assume o imóvel e instala o Museu Regional de Feira, quando o prédio passa por obras de restauração – executadas pelo IPAC – e construção de anexos nos fundos, mantendo a integridade da edificação antiga. Concluídas as obras, no ano seguinte, é implantado no complexo, o Centro Universitário de Cultura e Arte (CUCA). (Fonte: IPAC)
Endereço: Rua Conselheiro Franco, s/nº.
Data do Tombamento: 24/11/1994.
Uso Original: Escola.
Prédio do Mercado Municipal
Foi construído no inicio do século XX, pelo Engenheiro Acciolly Ferreira da Silva, inaugurado em 27/03/1915. Na década de 80, passou por algumas transformações internas, quando foi transformado em Mercado de Arte Popular, através do projeto elaborado pela Prefeitura Municipal, tendo sido reinaugurado em 22/03/1980. Em 1989 foi novamente reformado, pela Superintendência de Urbanização da cidade, onde foram recuperados os pisos, telhados, sanitários, as instalações elétricas e hidro-sanitárias. (Fonte: IPAC)
(Atualmente o Mercado está em processo de reforma).
Endereço: Praça João Pedreira, s/nº, Centro.
Data do Tombamento: 24/11/1994.
Propriedade: Pública Municipal.
Uso Original: Mercado.
Para mais informações sobre os Bens Culturais Materiais de Feira de Santana acesse o site do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC).
Conheço todos pois ha muito tempo sou moradora da cidade,mais vejo que precisam de uma melhor conservação.Feira terra de
talentos
Boa noite, Danilo. Você tem alguma foto da casa do colunista Eme Portugal que ficava na Av. Getúlio Vargas em frente ao Espaço Marcos Moraes?
Parabéns. É bom constatar que há jovens que amam e se preocupam com esse “paraíso com o nome de Feira”. Prossiga nesse trabalho meritório.