Sob a sombra de um Flamboyant da praça Padre Ovídio (Praça da Matriz), Patrícia manipula atentamente os fios de uma pulseira que está criando. Serena, parece não se envolver com o que ocorre além das tranças que surgem a partir da perícia dos seus dedos. Os carros passam na rua, a roda de capoeira ocorre a alguns metros, a brisa balança as folhas da árvore, e Patrícia constrói com convicção o enfeite que vestirá o pulso de alguém.

Patrícia Assunção dos Santos é feirense, com 42 anos, e encontrou no artesanato não só uma forma de trabalho e sustento, mas também uma filosofia de vida. Todos os elementos que utiliza nas peças que produz são de origem natural (pedras, penas, sementes), uma expressão das convicções ambientais e econômicas que possui.

Patrícia Assunção

Ela chegou a cursar Letras na Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), mas abandonou o curso ainda no 2º semestre, dedicando-se definitivamente ao artesanato. Embora ainda atue como professora (principalmente em trabalhos freelancer), essa é uma atividade secundária, que parece não empolgá-la. Fazer a família e amigos entenderem a escolha por um ofício independente gerou controvérsias no início, mas parecem já superadas: “Eu fui mostrando que é meu trabalho, minha vocação, e aos poucos fui rompendo essas barreiras, com muito diálogo”.

No Litoral Norte da Bahia Patrícia conheceu Carlos Alberto Minion, também artesão, com quem mantém um relacionamento de cerca de 10 anos. Juntos, durante 8 anos, viajaram por vários países da América Latina, experiência determinante para Patrícia ratificar seu entusiasmo pelo artesanato, muito valorizado em outros países.

Após a viagem, Patrícia conta ter se assustado: “Retornar a Feira me chocou bastante, porque a cidade cresceu, mas sem uma estrutura legal. O que eu vejo é uma cidade inchada, grande, porém, sem cultura, sem valorização do artesanato, da música local, dos espaços, das praças”.

Patrícia Assunção

Patrícia e Carlos Alberto

Além de técnicas e matéria prima para o seu trabalho, ela trouxe consigo uma cadela, que encontrou na Patagônia Argentina, apenas um dos animais que recebem seus cuidados através de um trabalho social de acolhimento de animais abandonados. “Quando a gente veio aqui pra Feira resolvemos adotar um gato. Aí nos apaixonamos e hoje temos dez!”.

Patrícia dialoga com facilidade sobre urbanismo, educação, relações de trabalho, ambientalismo e cultura, sempre mostrando visões críticas e aprofundadas sobre esses temas. Ela costuma vender suas peças, feitas na técnica macramé, na praça em frente ao Mercado de Arte Popular (quando a encontramos, ela participava de um evento que levou algumas iniciativas e práticas para a Praça da Matriz).

Vale a pena conhecer o trabalho de Patrícia, e sua peculiar visão de mundo, apurada em outros lugares, mas aplicada em nossa Feira de Santana.