Em 1888, mesmo ano de nascimento do poeta português Fernando Pessoa, nasceu a feirense Celeste Cerqueira, artista que fez carreira internacional, mas é pouco conhecida, falada e reverenciada em Feira de Santana. Filha de Cesar Ribeiro de Cerqueira e Maria Amélia Bacelar Cerqueira de Castro, Celeste é prima da autora do Hino à Feira, Georgina Erissmann, mas construiu uma trajetória autônoma, digna de recordação e estudo.

Celeste Cerqueira foi cantora lírica contralto e professora de canto. Iniciou sua trajetória artística em Feira de Santana, mas em 1912, com 24 anos, seguiu para Paris, onde foi aluna da professora russa Félia Livinne, uma expoente do canto lírico na Europa, que chegou a interpretar peças de Verdi e Wagner. Mesmo quando Celeste retornou ao Brasil, devido à emergência da 1ª Guerra Mundial, ambas seguiram em contato, trocando correspondências.

Passada a Guerra, a cantora feirense retorna à Europa, desta vez à Alemanha, como aluna da professora Lilli Lehmann, conhecida na sua época como “uma das maiores cantoras wagnerianas e da música operística de Mozart”.

À esquerda, a russa Félia Livinne. À direita, a alemã Lilli Lehmann.

O contato com essas referências do canto lírico fez com que Celeste de Cerqueira fosse cantora e professorar requisitada no Brasil, tendo exercido seu ofício em Salvador, no final da década de 1920 e no Rio de Janeiro, no início da década de 1940.

A feminista Celeste de Cerqueira

Outro dado biográfico importantíssimo na trajetória da cantora feirense é seu protagonismo na militância feminista. Quando em 1931 ocorreu o II Congresso Internacional Feminista, no Rio de Janeiro, Celeste Cerqueira foi uma das quatro baianas a participar, junto com Hermelinda Paes, Edith Mendes da Gama e Abreu e Judith Mendes – as duas últimas também feirenses.

Anúncio do II Congresso Internacional Feminista no Brasil, do qual participou Celeste de Cerqueira.

Segundo o pesquisador Evandro Oliveira, Celeste de Cerqueira, juntamente com mais três personalidades foram homenageadas pela Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, como personalidades destacadas do feminismo brasileiro, solenidade ocorrida no dia 11 de setembro de 1935 no Rio de Janeiro.

Celeste de Cerqueira faleceu aos 57 anos no Rio de Janeiro, no dia 27 de janeiro de 1943. Infelizmente são escassos os dados sobre a vida e a obra da artista atualmente, o que não nos impede de saudar e reverenciar sua existência.

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Para publicação desse artigo consultamos as pesquisas de Gastão Sampaio e Evandro Oliveira sobre a trajetória da cantora lírica e feminista feirense.