Faleceu nesta quarta (22 de agosto), aos 84 anos, o feirense Edivaldo Boaventura, um dos maiores intelectuais que Feira de Santana já produziu. Filho de Osvaldo Abreu Boaventura e Edith Machado Boaventura, Edivaldo nasceu em Feira em 10 de dezembro de 1933.

Entre suas credenciais estão um bacharelado em Direito (1959) e em Ciências Sociais (1969). Doutorou-se e obteve a Livre Docência (1964) pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e foi mestre (1980) e Ph.D. (1981) em Educação pela  The Pennsylvania State University, EUA.

Em 1960 iniciou o doutorado em Direito e começou a lecionar na Escola de Serviço Social da Bahia, e entrou para o Instituto Geográfico e Histórico da Bahia.

Trabalhou na SUDENE (1961-1983), como Técnico de Desenvolvimento Econômico. Em 1962, iniciou a carreira de magistério, na UFBA, como professor contratado da Escola de Administração,  para ensinar economia.

Foi juiz federal do trabalho (1963-1970), quando publicou o seu primeiro livro: “Introdução ao enquadramento sindical”. Seu primeiro doutorado abordou uma tese sobre os Incentivos ao desenvolvimento regional, pela UFBA.

O ano de 1968 foi decisivo para a sua opção pela educação. A convite do reitor Roberto Santos, implantou a Assessoria de Planejamento encarregada da reforma universitária, quando publicou o livro “Universidade em mudança”. Como professor adjunto, transferiu-se da Escola de Administração para a Faculdade de Educação da UFBA, da qual é um dos fundadores e entrou para o Conselho Estadual de Educação da Bahia (1968-1983, 1991-1996), presidindo-o de 1976 a 1978.

Secretário Estadual de Educação e fundador da UEFS

Edivaldo Boaventura

Em substituição ao professor Luiz Navarro de Brito e por sua indicação, o governador Luiz Viana Filho o escolheu para titular da Secretaria de Educação e Cultura da Bahia (1970/1071). Desempenhando pela primeira vez este cargo, contratou e iniciou as escolas polivalentes, implantou as Faculdades de Formação de Professores, concluiu os Centros Integrados de Educação, participou ativamente da criação da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS).

Participou da Harvard Summer School, em 1967 e 1969. Visitou oficialmente os EUA, em 1970, e conheceu Departamentos Estaduais de Educação e Universidades. Foi o início do relacionamento com as universidades norte-americanas e canadenses.

Em 1971, submeteu-se ao concurso de professor titular, último cargo da carreira docente, com a tese “O departamento na Universidade”. No mesmo ano, foi eleito para a Academia de Letras da Bahia. A convite do diretor Raymond Poignant pesquisou, no Instituto Internacional de Planejamento da Educação (IIPE/UNESCO, 1971-1972), nas áreas de financiamento e planejamento da educação, carta escolar, sistema de educação, educação permanente, tendo concluído o programa de pesquisas com a monografia “O ensino superior na Bahia: estudo da reforma, da evolução dos efetivos e do financiamento”.

Com a experiência internacional do IIPE, retornou à UFBA e integrou-se no Programa de Mestrado em Educação da UFBA. Como coordenador, de 1974 a 1978, manteve intensos contatos com a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), que apoiou financeiramente o programa, e participou da criação da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Educação (ANPED).

Trabalhou com sistemas e estruturas de ensino, planejamento, metodologia da pesquisa e história da educação. Como membro do Conselho de Coordenação da UFBA, compôs e presidiu a Câmara de Ensino de Pós-Graduação e Pesquisa.

Com o crescimento da pós-graduação, realizou o mestrado e o doutorado em educação, na The Pennsylvania State University (EUA), com a dissertação “A estrutura legal da educação brasileira” (1980).

Volta a dirigir a Secretaria de Educação da Bahia (1983-1987), e decididamente interioriza a educação superior estadual, até então, concentrada na capital.

Cria e dirige a Universidade do Estado da Bahia (UNEB), universidade multicampi, credencia a UEFS, impulsiona a UESB e apoia a futura UESC. Edivaldo aumenta o número de escolas e convenciona com os municípios a expansão da educação básica na Bahia.

Também implanta os Estudos Africanos na escola baiana e cria o Parque Estadual de Canudos.

Direção do A Tarde

Edivaldo e André Boaventura

Edivaldo ao lado do filho, André Boaventura. Foto: André Boaventura/Twitter

No retorno à UFBA, coordena a criação do Doutorado em Educação, que implantou em 1991. É o primeiro do Nordeste. Em 1995, realiza pós-doutorado na Universidade do Québec, em Montreal, Canadá.

Cursa a Escola Superior de Guerra, entra para o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, Academia Brasileira de Educação e Academia Portuguesa da História, realiza estudos e viagens a Portugal.

Ao jubilar-se, os alunos publicam o “Festschrift, Educação, cultura e direito: coletânea em homenagem a Edivaldo M. Boaventura” (2005). No ano seguinte a UFBA o distingue com o título de professor emérito.

Em 1996, ingressa no jornal A TARDE, como diretor geral, e dá especial atenção ao projeto “A TARDE Educação”, colocando o jornal nas escolas do interior da Bahia. A partir do ano 2000 ensina e orienta pesquisa na Universidade Salvador (UNIFACS), no Programa de Mestrado e Doutorado em Desenvolvimento Regional e Urbano (PPDRU).

Em 2010, completa 50 anos de magistério, dedica-se a iniciativas culturais. De 2007 a 2011, preside a Academia de Letras da Bahia.

Com essa grande trajetória, e dezenas de livros publicados, Edivaldo acabou não resistindo a complicações em uma cirurgia cardíaca, deixando esposa e dois filhos, entre eles, o ator e cantor Daniel Boaventura.