Eram os primeiros dias do Governo do General Ernesto Geisel no Brasil, e a edição do Jornal O Estado de São Paulo de 24 de março de 1974 (página 294), entre reportagens sobre a Guerra Fria, publicou em seu suplemento de turismo, na capa, uma matéria sobre Feira de Santana, um “centro turístico de procura”:
Ao longo da matéria, o Estadão indica aos leitores do sudeste como chegar a Feira de Santana, e fala sobre os atrativos da cidade que, à época, tinha cerca de 150 mil habitantes:
“De acordo com o sociólogo americano Rolle Popins, a feira assume mais importância que qualquer comemoração religiosa, até mesmo as festas natalinas ou os festejos da padroeira da cidade. Na feira a literatura de cordel circula entre cantadores e repentistas vindos de toda a região, e que ainda hoje se lembram de ‘Lucas da Feira’, bandido negro matador de brancos, principal personalidade da redondeza.”
A Pousada da Feira era tratada como “um luxuoso motel junto à entrada da cidade”, e Feira de Santana estava se preparando para “melhor explorar o turismo”, visando “segurar por mais dias os inúmeros visitantes que a procuram por ocasião da feira”:
Abaixo, a parte interna da matéria do Estadão, em página inteira:
Encontrei essa pérola enquanto peregrinava no Estadão.
Ouço muito que FSA não é cidade de turismo, seguido de um ‘’tem
o que nessa cidade pelo amor de Deus?’’. E há certa razão.
É lastimável que o(s) Governo(s) não dê nenhuma ou pouca
importância e divulgação em explorar o potencial turístico da cidade, principalmente
o de negócios (cadê o centro de convenções?), limitando-se (e olhe lá) à
Micareta, São João, Expofeira e o recente Natal Encantado. Reisados, Caminhada do Folclore, Literatura de
Cordel, Festival de Sanfoneiros, Samba de Roda e o Festival Literário são
deixados de lado e a população só sabe que aconteceu quando acaba.
Muitos casarões foram demolidos, a exemplo do prédio da estação
ferroviária projetada por Niemeyer, a casa de Georgina Erisman e o estado dos
que ficaram de pé como o futuro Restaurante Popular próximo a Praça do Padre Ovídio/Feiraguai
é deplorável. Roteiros, por onde passaram figuras histórias, como os da visita
de Dom Pedro no Campo do Gado Velho e a lembrança de Lucas na Pedra do Descanso,
Muchila e Tapera, culminando no ato da Praça D. Pedro II são desconhecidos. Torço
para que as reformas no Museu de Arte Popular, a reformulação do cento
comercial e uma maior valorização do Centro de Abastecimento, Casarão dos Olhos
D’Agua, Amélio Amorim, MAC, CUCA e MRA mudem a cara do turismo cultural.
Muitos projetos elaborados por equipes de alunos das áreas de
comunicação, hotelaria, turismo, design gráfico e logística já foram entregues
nas secretarias e até mesmo na prefeitura. Feira tem história, uma excelente
estrutura na rede hoteleira, culinária típica, artesanato de encher os olhos e
um povo acolhedor. Resta dá valor a tudo isso.
Rafael, seu segundo parágrafo é de partir o coração. Um abraço!