Na manhã dessa segunda-feira, a Praça da Bandeira foi a arena onde se discutiu sobre o mais importante e popular time de futebol brasileiro.
— É óbvio que o Bahia é de mais importância. O Brasil nasceu onde? Se é aqui o início do Brasil, o Bahia é o time do nosso povo, defendia Papinho, torcedor patológico do Bahia.
— O Flamengo, companheiro, é o time das massas, o time rubro, castanho, caboclo, representando os índios, e negro, quilombola, africano, representando o povo escravizado, proclamava Seu Teófilo, tomando caldo de cana para curar a ressaca da comemoração dos dois títulos ganhos pelo clube carioca no último final de semana – o Campeonato Brasileiro e a Copa Libertadores da América.
Papinho também levantava a tese de que era uma impostura torcer, aqui em Feira, para times do Sul.
— Quando um carioca torcer para o Bahia, eu torço para o Flamengo!, bradava.
Não suportando o ufanismo, Seu Teófilo argumentava que não existe fronteiras para ser flamenguista, um time de caráter nacional, com mais torcedores fora do que dentro do território carioca.
De fato, quem passeou pelas ruas e bares feirenses no início da noite do sábado (23) viu a cidade colorida de vermelho e preto, num clima semelhante ao que ocorre nas finais de Copa do Mundo.
Introduzida ao campo pelo feirense Junior Baiano (campeão brasileiro de 1992 pelo clube), a taça não chegou fácil às mãos dos flamenguistas. Os torcedores assistiram apreensivos um Flamengo que não conseguiu se desenvolver como tem sido costumeiro, até a épica virada, que se iniciou aos 43 minutos do segundo tempo, após dois gols de Gabriel Barbosa.
Em Feira ouviu-se fogos de artifício em toda a cidade, buzinaço nas ruas, bandeiras flamulando, camisas sendo agitadas e cânticos coletivos sendo entoados. Parece ser verdadeiro o diagnóstico de que o Flamengo é o time com maior torcida em Feira de Santana.
Sabe-se que a popularidade do time de Zico em grande parte do país se deu por causa do alcance da Rádio Nacional, transmissora dos jogos de futebol dos clubes brasileiros, quando ainda não havia infiltração da televisão nas residências do país. Fundada em 1936, foi um grande veículo de amplificação do futebol, principalmente dos clubes cariocas – Vasco, Flamengo, Botafogo e Fluminense. Esse último deu nome ao mais tradicional clube de Feira de Santana, nosso Touro do Sertão, o Fluminense de Feira – que tinha entre seus fundadores, em 1941, apaixonados pelo homônimo carioca.
Numa cidade de migrações contínuas, é razoável que a Nação Rubro-Negra tenha se inserido por aqui de maneira especialmente marcante. Como dizia Seu Teófilo: “ser flamenguista e ser feirense é quase a mesma coisa. Aqui temos representadas várias partes do Brasil. A torcida do Flamengo é assim, a mais brasileira de todas”.