“Já viu aquela novela Escrava Isaura? Sabe a história de Isaura? Minha mãe é como se fosse aquilo ali”. Assim Heleno Gomes, 56 anos, descreve a história de sua família, oriunda de Santo Estevão, cidade onde nasceu e viveu sua infância, sob os cuidados de uma família não biológica.
Sua mãe, negra, era criada de uma casa de descendentes de alemães (avós de Heleno). Após a criada (mãe de Heleno) ter engravidado do filho da família (o pai de Heleno), ela foi posta para fora. Sem condições de criar o filho sozinha, deixou-o com outra família, que ficou com Heleno até os 12 anos, quando foi mandado para Feira, no início da década de 70, para fabricar e vender doces, principalmente balas de gengibre, para uma senhora.
“Cheguei aqui, a mulher gente fina. Ela tinha na faixa de vinte e nove meninos que trabalhavam com ela. No fundo da casa dela tinha os quartos, beliche. Ela dizia: ‘É o seguinte! Aqui você vai ganhar 30 por cento de comissão. Nós dá comida, dormida e você faz com os 30 por cento o que quiser’. Morei com essa mulher até a década de 80!”.
Heleno mantém a mesma receita dos doces, que vende até hoje, embora sua principal fonte de renda já não seja desse produto. “Eu não paro de vender porque esses doces têm história. Os turcos, quando vieram para o Brasil, depois da Guerra, viviam disso aí”, diz ele.
Apesar da história por trás das balas que vende, o que tornou Heleno conhecido foram os discos de vinil, que comercializa há 13 anos no mesmo local, o passeio da Rua J.J. Seabra (hoje na frente do Banco Santander). “Quando botei esses discos de vinil aqui esse Banco era um restaurante de João Borges. Depois chegou a Ponto Frio, a Claro, foi mudando, e eu tou aqui”.
Heleno é referência dos colecionadores de vinil em Feira de Santana. Embora comercialize discos de todos os gêneros musicais, ele aponta o rock como o mais popular entre seu público. Nomes como Legião Urbana, Cazuza, Titãs, Beatles, Rolling Stones e Led Zeppelin estão entre os mais procurados. Para suprir a necessidade dos clientes, ele compra discos de pessoas que não veem mais valor no antigo “bolachão”, e também recebe doações. Cada disco é revendido por valores que variam de R$10 a R$30 reais.
Além de tudo, Heleno é músico, compositor e cantor. Vende também CDs de suas próprias composições, junto com coletâneas que faz de outros artistas. Ele conta que distribui suas músicas para diversos artistas, como Dionorina e o grupo de reggae Monte Zion. “Quem sabe uma dessas aí não gera frutos, não é?”, diz ele, sonhando chegar ao patamar dos autores dos discos que vende.
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