No último sábado (04 de junho) ocorreu o lançamento do livro “Lugar Comum”, da poeta, professora, pesquisadora e militante feminista Mariana Paim. Nascida em Tanquinho, Mariana faz parte de um núcleo de mulheres que vem movimentando a cena literária feirense há alguns anos, ladeada por nomes como Clarisse Lyra, Larissa Rodrigues, Nívia Maria Vasconcellos e Clarissa Macedo.
Em tempos de obscurantismo e frivolidades, quando os olhares contemplativos são crescentemente substituídos pelo predeterminismo algorítmico, é espantoso constatar a existência e a resistência dessa geração de poetas orbitando em Feira de Santana, dedicadas ao fazer poético com notável qualidade estética, sem abrir mão do lugar político que lhes cabe. É o caso de “Lugar Comum”, obra dividida em quatro partes: I) ausência; II) travessia; III) contratempo e IV) movimento.
Em “ausência”, Mariana explora escaninhos de significado daquilo que é tema tradicional na poesia e mesmo no cancioneiro popular: a saudade, a perda, o luto, a solidão, o silêncio. O poema “the lovers” é um ponto alto nesse sentido, propondo uma interpretação desconcertante do “solo estéril/das perdas/em meio às travessias”:
Na segunda parte (travessia) a autora navega pelo erotismo, como em “Lesbos” e “desejo”. Notável também a experimentação em “amor é”, com colagem de frases realizada a partir do mecanismo de busca do Google.
Em “contratempo”, poema que dá nome à terceira parte do livro, Mariana Paim aborda as frustrações vividas pela geração nascida na década 1980 — nós que vivemos cinco décadas — sem, entretanto, aderir ao niilismo: “a mudança/ainda/ que lenta/sempre vem”, declara a militante feminista.
Por fim, a última parte de Lugar Comum, “movimento”. Aqui a palavra “não” é dissecada em diversas vias, direções e sentidos. Seja no poema “o não é a palavra mais selvagem”, seja em “uma lésbica não”, protesto contundente da autora contra a lesbofobia.
Lugar Comum é obra que deve ser lida e relida em cada palavra. Conforme diz Clarissa Macedo na orelha do livro, Mariana traz uma “voz poética firme e consciente de suas trilhas”. Ou como afirma Nívia Maria Vasconcellos no posfácio, “Mariana doa-se ao outro em solidariedade e, com alegria e ferocidade, que aumentam nossa capacidade de agir, mostra que existe algo que nos une, o poder de afetar e de sermos afetados”.
Lugar Comum é capaz de ampliar o espaço de compreensão de afetos e caminhos, pois tem o talento de dizer o que não é trivialmente dito, mas não só isso: a obra de Mariana Paim inaugura caminhos para destinos incertos, honrando a tradição da poesia desconcertante, corajosa, inconformada.