O músico e poeta feirense Ederval Fernandes, autor de “O livro conta corrente” (coletânea de poemas do autor lançada em 2015) elevou a literatura feirense com uma notável participação na edição de junho do Le Monde Diplomatique, edição portuguesa. Publicado desde 1954 na França, o jornal Le Monde Diplomatique tem 71 edições internacionais produzidas em 25 línguas e conta com uma tiragem mensal de 2,4 milhões de exemplares em todo o mundo.

Ederval teve seis poemas publicados, tomando uma página inteira da publicação:

Le Monde Diplomatique

 

Abaixo, os seis poemas para você apreciar:

 

Palavras

há sempre
duas
ou três.

e furtam
meu olhar,
minha fome.

às vezes,
dez ou seis
ou cem –

(e) além
do alvo
acertam
algo.


 

Da minha boca

a vertigem
do dia são estas
horas:

luz e fogo
levando
embora a noite
calma.

um nada
no nada,
meu adágio
sai e segue.

e um deus (morto)
bebe um café
comigo.

*

“perigo”,
ele me diz,
“não sou eu,
amigo,
o infeliz
que te trouxe
ao veneno”.

eu sei, eu
digo,
desde pequeno

(cravado
no umbigo)
trago comigo

este jogo
de ases.

e não
vou, eu sei,
fazer
as pazes:

se as fiz,
eu falhei.

*

do som,
quero a canção;
da mão

(é verdade),
quero e não sei
a liberdade.

não da forma
oca – o veneno
é da boca.

se a língua
portuguesa
é pouca,

isto não é
problema?

não aqui,
assim,
no meu poema.

 


O estudo da bomba

útero
núcleo
sonda:

seixo

o estudo
da sombra

as vagas
do eixo.

fútura sã
anciã

será? serei
sarò.

fundo
o que sei:
do pó ao pó.


 

Ederval Fernandes

 

Gramática normativa

A professora Norma
Soeli de Líng. Port. IV
revela em sala:
um aluno meu
não sabia
usar os conectivos
de coesão,
não sabia usar
sequer preposição,
misturava os tempos
verbais e os modos.
Acabou que, Norma
revela, meu aluno
se suicidou.
O verbo suicidar
possui este pronome
fossilizado, Norma
observa – ninguém diz
meu aluno suicidou.


 

Marize

Há uma tesoura que corta.
E há uma mãe que costura.


 

Epigrama português

& pimba
& pimba-pimba
& pimba