Ao explicar uma cidade é possível utilizar-se de diversas táticas, entre elas expor grandezas como quantidade de habitantes, produto interno bruto, índice de desenvolvimento humano, extensão territorial etc. Outra possibilidade é exibir fotos, vídeos ou descrições geográficas do lugar. A partir de hoje o Feirenses escolhe uma possibilidade alternativa para entender Feira de Santana: através das histórias daqueles que constroem Feira de Santana anonimamente no seu dia-a-dia.
Pessoas que estão vinculadas a Feira de Santana, por escolha ou não, e povoam o coletivo humano dessa cidade, que seria outra, ou não seria, sem essa constituição de histórias. À série de artigos sobre esses personagens chamaremos “O Povo da Feira”, que você começa a acompanhar agora.
Artur, da Água de Coco Zero Grau
Ao passar pela Praça do Nordestino, na Avenida Senhor dos Passos, já próximo à esquina que dá acesso ao Casarão Fróes da Mota, é grande a probabilidade de ser abordado por Abdon Artur, vendedor de água de coco há cinco anos naquele ponto. Ele tem 48 anos, é natural de Senhor do Bonfim, e diz que lucra entre 40 e 80 reais por dia vendendo água mineral e água de coco. “Depende do calor”, ele diz.
Artur já viveu em várias cidades, acompanhando o pai funcionário público frequentemente transferido: além de Senhor do Bonfim, morou em Canudos e Euclides da Cunha, chegando em Feira há cinco anos. Chegou a trabalhar na Coca-Cola, onde aprendeu estratégias de venda que aplica em seu negócio – da forma de abordar os clientes às chamativas placas de preço. “Como eu não tinha dinheiro para anunciar em rádio e televisão, a única forma era colocar as placas”.
Ele veio parar em Feira após ser demitido de uma empresa de engenharia em Euclides da Cunha. Sem dinheiro, veio morar com os pais. Não queria mais trabalhar para os outros. “Aqui faço meu horário, não preciso obedecer ordem, e ganho melhor que o salário mínimo nas empresas”.
Para iniciar o negócio precisou da ajuda da mãe, que emprestou o dinheiro para o primeiro carrinho de água de coco. Pouco tempo depois, pagou o empréstimo, e comprou um carro melhor. O sucesso, diz Artur, está ligado ao bom atendimento. “Muita gente aqui me conhece e vem beber água, sentar pra descansar”.
Abdon Artur mora no bairro Cidade Nova, e, apesar da idade, é solteiro e mora com os pais. “Já me relacionei um tempo, mas preferi ficar só. Dá muita dor de cabeça, a pessoa faz grosseria. Aí é melhor ficar só mesmo”, diz ele com um sorriso tímido, que se desfaz logo que um potencial cliente passa: “Boa tarde! Vai uma água de coco?”.