O cheiro do milho cozido é a principal propaganda dos vendedores dessa iguaria muito popular no centro comercial de Feira de Santana. Basta o vendedor levantar a tampa da panela para o vapor subir, deixando as vítimas do aroma de água na boca. “Como é o milho?”, logo pergunta alguém interessado em uma espiga.

André Luiz, feirense de 44 anos, é um desses personagens que circulam pelo centro de Feira espalhando o aroma do milho, atividade que exerce há 16 anos. O trabalho exige esforço físico: levanta e abaixa o carrinho, empurra, circula por várias ruas e avenidas oferecendo seu produto. Morador da Chácara São Cosme, ele sai do bairro até o centro buscando clientes: “a gente roda tudo, hoje eu tava lá no Los Pampas, do outro lado da cidade. A vida é dura, doutor!”, diz ele, passando pela Kalilândia.

André Luiz

André é casado e tem um filho de 14 anos. A esposa também trabalha vendendo milho, com outro carrinho. Enquanto ela trabalha na região da Rodoviária, ele se ocupa com o resto do centro da cidade. Por dia, André diz ter lucro de R$40 a R$70 reais em seu carrinho, mas a crise está tornando mais difícil as coisas. “O negócio tá pela hora da morte. Se não é minha clientelazinha de criança em colégio particular, que os pais gostam porque o milho é um alimento saudável, eu tava lascado!”.

Além da crise, André aponta o “rapa” como outro obstáculo na sua atividade. “A prefeitura não deixa ninguém trabalhar. Não dá emprego e ainda tira o sustento dos que querem trabalhar. Não dá incentivo nenhum”. Perguntado se considera-se politizado, ele afirma que não: “É a realidade. Política é um mar de lama”.

André Luiz, do carro de milho

A distração de André Luiz ao chegar em casa é colocar um DVD de discoteca dos anos 70 e tomar uma cachacinha. “Tomo a branquinha, amarelinha, a verdinha… O que tiver. Eu bebo em casa. Hoje nem o dinheiro dá pra ir no bar nem a violência deixa. A gente une o útil ao agradável”.

No final da conversa, André oferece um milho cozido, mas não aceita pagamento. Já prevendo a divulgação do seu negócio, ele diz: “você me ajudou, agora eu lhe ajudo”, e sai em meio ao trânsito de final da tarde, se desviando dos carros e espalhando o cheiro de milho pela cidade.