Com uma breve pesquisa na internet, é possível descobrir que há no Brasil o Instituto Nacional da Propriedade Industrial, o INPI, que, entre outras coisas, cuida de registros de patentes e desenho industrial no país. Ao que parece, toda grande invenção brasileira, caso o inventor não queira ver-se surrupiado do que criou, deve ser cadastrada ali para garantir atribuição genuína de autoria.

Sei disso porque esses dias precisei verificar a informação de que uma grande inovação tecnológica do nosso tempo teve origem em uma mente feirense. Segundo Tóti, ambulante que transita na região da Sales Barbosa, as raquetes assassinas que eletrocutam muriçocas, muito utilizadas atualmente, foram inventadas aqui em Feira de Santana.

Disse-me Tóti que o inventor (cujo nome mantenho em sigilo para evitar sensacionalismos) foi uma das vítimas da devastadora dengue hemorrágica, tendo passado vários dias internado no Clériston Andrade à beira da morte. Além de vômitos e de um frio incontrolável, nosso Thomas Edison sentia dores agudas na barriga, que o levavam ao choro copioso. Para completar, incomodava-lhe noite e dia o zumbido de uma muriçoca, fazendo-o gritar para todo o Hospital ouvir: “Sai daqui, pestienta! Já tou morrendo e tu vem me atazanar… Quer botar outra dengue dentro de mim?”, protestava abanando a mão frágil em busca do mosquito inconveniente.

Diz Tóti que esse tormento, mais o fato de o homem ter feito curso de eletrotécnica no SENAI, foi definitivo para inspirar sua veia criativa na eletrocutação de muriçocas. “Cada muriçoca frita vai ser o pagamento pelo inferno que passei naquele Clériston”, teria dito quando apresentou o protótipo da raquete para vizinhos seus que moravam no Bairro Lagoa Salgada, entre os quais estava Tóti.

Embora não tenha conseguido confirmar a tese de Tóti, parece legítimo considerar que as raquetes eletrocutantes sejam um invento feirense, até pelo protagonismo da nossa cidade no cultivo de mosquitos em épocas mais quentes. No uso das raquetes, ouve-se notícias de quem consegue acumular quantidades generosas de cadáveres de insetos, inspirando certo prazer colecionista em quem realiza grandes chacinas.

Segundo consta, surgem aqui e ali especialistas em cada espécie dos insetos. Uns preferem os Aedes aegypti, outros dedicam-se aos Culicidae. Há quem tenha grande variedade de Maruins, mais uns tantos que estudam os Culex, e por aí vai. É possível que em algumas regiões da cidade surjam a prática de rolos parecidos com as trocas das figurinhas da copa do mundo, com a especulação de exemplares mais valiosos de acordo com a raridade etc.

Portanto, em nossa cidade, o advento da raquete eletrocutante tornou-se não só um instrumento de cuidado com a saúde pública, mas também de entretenimento familiar. Mesmo que não tenha sido inventada em Feira, merece, pelo menos, o título de cidadã feirense.