Com 61 anos de idade e 47 anos de trabalho na fotografia, Reginaldo Pereira Tracajá é uma das grandes referências na militância cultural de Feira de Santana. Sempre bem humorado, leva com orgulho em seu nome a referência a um dos vários causos irreverentes que faz questão de afirmar em tudo o que faz.
Trabalhou como fotógrafo na Veja, Estadão, A Tarde e no Feira Hoje. Organiza o Troféu Tracajá, o Encontro de Figuras Populares e o Bloco Tracajá. É colunista do Jornal Folha do Norte e blogueiro. Para conhecer um pouco dessa personalidade que se diz apaixonado por Feira de Santana, fizemos uma visita às “Organizações Tracajá”, onde falamos sobre política, cultura, jornalismo, fotografia e muito mais. Confira:
Feirenses: Quem é Reginaldo Pereira Tracajá?
Tracajá: É um cidadão feirense. Um amante da cultura nordestina, um amante do sertão, um amante de Feira de Santana. Aqui eu nasci, aqui eu me criei. Me ausentei de Feira por apenas 5 anos, quando fui trabalhar em Salvador, depois, voltei para minha casa e aqui quero continuar até o resto da minha vida. Se é que vai ter resto… Acho que eu não morro nunca! (risos).
Feirenses: Você nasceu em que parte de Feira?
Tracajá: Eu nasci na rua 12 de junho, antiga Baixinha da Égua, próximo ao SAC, pros mais novos. Minha vida foi toda ali, eu só saí de lá depois que me casei, e depois que fui pra Salvador. Até uns 7 anos atrás ainda tinha a casa da minha mãe, que já se foi.
Feirenses: Você tem muitas recordações do tempo de infância?
Tracajá: Demais! A minha infância é jogando bola no Horto, brincando de “guerrou”. Ali no Horto tinha um campo. Na verdade, naquela região tinha o Horto de cima e o Horto de baixo. O de cima é onde hoje é a Embasa. O Horto de baixo ficava onde era o antigo Batalhão da Polícia Militar. Era ali que a gente brincava. Ali tinha muitas plantações. No fundo do Batalhão tinha um cidadão que tinha uma plantação de tudo naquela área.
Me recordo bem do Batalhão da Polícia Militar. Joguei bola na quadra de esportes de lá. Minha infância foi toda por ali, pela Matriz, Rua de Aurora… Foi onde fiz muitos amigos, inclusive um dos meus amigos daquela época virou prefeito de Feira, Tarcízio Pimenta. Ele, o irmão dele, que é juiz federal e trabalha em Aracaju. Tem jogador de futebol famosíssimo, Biribinha, que jogou no Vasco da Gama, e outros e outras figuras importantíssimas daquele miolo. Deu de tudo!
Feirenses: Você é fotógrafo, jornalista, colunista, blogueiro, produtor cultural… De onde vem essa multicapacidade?
Tracajá: Isso é uma onda muito grande. Vamos por etapa. Eu sempre gostei muito de fotografia e fotojornalismo. Sonhava em um dia trabalhar em um grande jornal. Mas comecei trabalhando como auxiliar de foto 3 por 4, de um fotógrafo Jarnilton Cordeiro, do Foto Cordeiro. Trabalhava com fotos normais, de batizado, 3 por 4. Mas eu ficava aguçado quando via uma foto boa num jornal, numa revista. Aí pensei: “poxa, quero ser repórter fotográfico”.
Feirenses: Quantos anos você tinha?
Tracajá: Por volta dos meus 12, 13 anos de idade. Depois desse trabalho de fotografia trabalhei como fotógrafo profissional no Feira Hoje, depois eu fui para a sucursal do Diário de Notícias, trabalhei na sucursal do Jornal da Bahia, Jornal Folha do Norte. Depois fui para Salvador, quando recebi um convite para trabalhar no Globo, a convite de um grande jornalista daqui de Feira que era chefe da sucursal do Globo, José Carlos Teixeira. Trabalhei no Globo durante 3 anos, depois fui fazer a campanha de Gilberto Gil, quando ele se elegeu vereador. Aí comecei a ser freelancer da Veja e Estadão. Durante muito tempo fiz a “Vejinha”, a Veja Bahia. Daí fiquei um tempo desempregado, e surgiu a sucursal do A Tarde, e então fiquei 22 anos no A Tarde. Nesse período cobrimos todo o estado da Bahia, e tive a oportunidade de cobrir a Copa do Mundo de 1998, na França.
“Eu não sei lidar com negócio, comércio. Eu não sei lidar com dinheiro. Dinheiro pra mim eu tenho que pegar e gastar pra me divertir.”
Até que surgiu a coluna na Folha do Norte, já que sempre fui colaborador de lá. Comecei a fazer a coluna, e da coluna surgiu o Encontro de Figuras Populares, conversando com Zadir (diretor do Jornal Folha do Norte), que é muito criativo, ele disse: “por que você não cria um movimento, você que gosta de se movimentar…”. Aí criei o Encontro de Figuras Populares.
Não satisfeito, criei o Bloco Tracajá, e depois veio o Troféu Tracajá. E a coisa começou a fluir, não de maneira profissional, mas de uma maneira descontraída, muito solta. Eu não quero fazer essa coisa com profissionalismo, porque aí ela perde a essência. Você começa a visar exclusivamente lucros, e quando você começa a visar lucro, que é uma coisa boa, você precisa ter estrutura, e eu não tenho estrutura pra fazer isso. Eu não sei lidar com negócio, comércio. Eu não sei lidar com dinheiro. Dinheiro pra mim eu tenho que pegar e gastar pra me divertir. Eu não sei juntar, eu não nasci pra juntar dinheiro. Até porque toda vida ganhei muito pouco.
Feirenses: Como você vê o cenário cultural de Feira de Santana?
Tracajá: Eu acho que o poder público não chega junto. Verba pra cultura, não existe! Existem aquelas pessoas, os abnegados, que lutam pela cultura. O que se destina para a cultura é algo insignificante. Não sei por quê.
A cidade gosta de cultura, a cidade é movimentadíssima. Existem coisas que a gente não imagina nessa cidade, em termos culturais. Toda hora surge uma coisa legal aqui. Agora mesmo acabou de surgir a história lá do Beco da Energia. Aqui tem teatro. Se você for buscar, tem! Tem lançamento de livro, tem cordelista, tem uma gama de pessoas que são dedicadas à cultura popular, mas, é muito difícil, porque não existe uma verba destinada à cultura popular. Não existe! Nem através do poder público municipal, nem do estadual, nem do federal. Não é prioridade!
Você vê, as nossas praças ficam aí abandonadas, onde se podia trazer diversas atividades culturais. A cultura nas escolas… É muito difícil. Tem aquelas pessoas que têm vontade mas falta grana. Sem grana você não vai pra lugar nenhum. Fazem as coisas “na tora”, como diz o outro. E aí, a gente parabeniza, gosta das pessoas que lutam e são ligadas à Universidade, e até ao próprio Município, mas eles são limitados. Eles têm vontade e fica só na vontade. Organizar uma Feira do Livro é brincadeira? Quase não tinha verba! A Caminhada do Folclore… Você tem aquele pessoal do CUCA, um pessoal esforçado, loucos pela cultura popular, mas têm uma dificuldade imensa: falta de grana!
Não sei por que esse desprezo a uma coisa tão importante na vida do jovem. Tantos jovens poderíamos tirar da criminalidade, levando eles para fazer um teatro, aprender música e tantas outras atividades. Tem tantos projetos bons… Tantos projetos aqui na Rua Nova, por exemplo, a Neojiba. Um espetáculo! Mas não tem grana. Tem ali a boa vontade de quem faz. De vez em quando o município, o estado vão lá, dão uma força, mas não é o suficiente. Aquilo era pra estar em quase todos os bairros.
“Não se destina uma verba da cultura, que ninguém mexe. Como se fosse uma verba para saúde, educação. Uma verba “imexível”, como diz aquele sujeito.”
Veja bem… O esporte: não tem mais área pra bater um baba! Qualquer pedacinho de área que surge, no outro dia é um empreendimento imobiliário. Não tem quadra de esporte na cidade. As que têm estão maltratadas. E por aí vai. Há um desencanto! E eu não tenho muita esperança. Teria que mudar tudo. É que nem mudar o Brasil, tem que nascer de novo!
Aqui tem pessoas maravilhosas. Mas as limitações em termos de grana é o pior problema. Não se destina uma verba da cultura, que ninguém mexe. Como se fosse uma verba para saúde, educação. Uma verba “imexível”, como diz aquele sujeito.
O prefeito encaminhou o orçamento para a Câmara de Vereadores… Qual a porcentagem da cultura? E isso é no estado, na União. A verba tem que ser fixa, mas tem que ser bem aplicada. Tem que ter critério. Não pode distribuir aleatoriamente, tem que ter projeto, propostas boas, para que os valores sejam liberados.
Feirenses: Como você analisa o mercado da fotografia após a popularização das máquinas digitais?
Tracajá: Eu acho que houve um avanço muito grande, agora, em compensação, houve um prejuízo tamanho para os profissionais de fotografia. É rara a empresa que contrata um profissional para fazer um serviço. Eles pegam, mandam o cara tirar de um celular, e aí vai.
Agora, tem pessoas que gostam de contratar um profissional para fazer um registro de fotografia. Aqui mesmo tem uma agência, que eu presto serviço, a Notre, que sempre que tem um evento eles me convidam. É um trabalho profissional, que a gente tenta chegar na exigência deles. Eles não querem um trabalho aleatório. Não estou dizendo que as pessoas que fazem fotos em celular são aleatórias, mas é algo que não tem comparação.
Apesar de que hoje, nos Estados Unidos, eu ouvi isso essa semana de um grande jornalista, os jornais estão contratando o cara para fazer foto e texto. A figura do repórter fotográfico nos Estados Unidos hoje praticamente está extinta. O jornal contrata para fazer texto e fotos. Imagine, nos Estados Unidos, grandes jornais!
Mas aqui no Brasil ainda alguns jornais mantêm o repórter fotográfico por ser interessante. Por entender que é necessário um profissional que conheça, que saiba o que está fazendo como repórter fotográfico. O próprio A Tarde, o Estadão, Folha de São Paulo, Correio Braziliense, os grandes jornais ainda mantém o profissional de fotografia, por entender essa importância. Acho que não dá pra fazer texto e foto ao mesmo tempo. Dá, mas de repente você perde, deixa de ouvir um relato por estar fotografando. Não existe, não tem a menor possibilidade.
Feirenses: E o jornalismo? Como blogueiro e colunista de um jornal impresso (Folha do Norte), o que você pensa sobre a sustentabilidade dessas mídias?
Tracajá: Com a crise do papel e o avanço da internet, existe uma tendência forte para o fim do papel. Diversas questões, como as ambientais e outras mais. Mas o jornal impresso, pra mim, ainda tem uma grande força. Se você fizer um jornal diário bom, ou um semanário bom, ele sobrevive. Mesmo com o avanço da internet. É uma questão de comercialização, de estrutura, de como você formatar esse jornal para chegar à comunidade.
Eu digo isso porque até hoje a marca Feira Hoje existe. Está aí! Qualquer jornal que você vê, nego diz “olha o Feira Hoje!”. O Feira Hoje acabou tem mais de 15 anos e a marca está aí. O Jornal A Tarde está aí, o Globo está aí, o Estadão está aí. Tudo bem: diminuiu muito, mas o jornal ainda sobrevive. O jornal é de uma credibilidade que você não imagina!
E não sou eu quem diz isso, quem diz isso são os grandes estudiosos. O papel tem um grande valor! Mas tem que ter crédito. Se ele tiver crédito com o leitor, ele consegue. Eu falo de qualidade editorial. Um jornal recheado de informações sobrevive ainda um bom tempo.
Não estou criticando os jornais que hoje estão aqui. Mesmo porque, eles têm uma dificuldade muito grande de comercialização. Com a chegada da internet eles deram uma bloqueada, deixaram de contratar pessoas para viabilizar o projeto, e recuaram, claro, e tinha que recuar, a situação não é boa. A situação já não vai bem há muito tempo, então os empresários dos jornais resolveram dar uma recuada. Mas tenho certeza que Feira de Santana ainda comporta um grande jornal, como A Tarde, Correio da Bahia, Tribuna da Bahia e outros.
Feirenses: Hoje qualquer grande veículo de comunicação depende do Estado como anunciante. Nesse caso, você acha que dá para manter uma relação isenta entre as duas partes?
Tracajá: Isenção total não existe. Não há possibilidade. Mas tem que ter um certo equilíbrio. Tem coisas que não dá para tapar o sol com a peneira. O Jornal A Tarde não pode deixar de publicar uma matéria sobre uma coisa que o Governo do Estado não fez, que está na cara, todo mundo vendo. Tem que ter sempre uma matéria mostrando. Mas não existe jornal isento! Até um jornal alternativo que você faz tem um anunciante. Tem que ter anunciante! Aí você vai dar porrada no seu anunciante?
Feirenses: Como surgiu o Encontro de Figuras Populares? Quem são as figuras populares de Feira de Santana?
Tracajá: O Encontro surgiu quando a gente conversava na Folha do Norte. Eu e o editor do Jornal, e aí ele falou para que a gente criasse um evento, e veio a ideia do Encontro de Figuras Populares. E já estamos com 15 anos de evento, debutando.
As figuras populares são as pessoas da comunidade, as pessoas que fazem a geografia humana da cidade, de um modo geral. As pessoas que estão presentes na vida da cidade. Seja ela alta, baixa, não interessa! As pessoas que vivem a comunidade na sua maneira de ser. Essas que são as figuras populares. São pessoas do dia-a-dia, que você vê no dia-a-dia. São as pessoas que estão envolvidas no contexto da cidade. Não têm rótulos!
Você se sente popular? Você vai lá no encontro.
O Encontro de Figuras Populares eu deveria fazer no Estádio Jóia da Princesa, se quisesse incluir todo mundo. Você mora aqui no bairro, é conhecido pela sua comunidade, você é uma figura popular. Não interessa se é rico ou pobre! Um cara de rádio, por exemplo, a cidade inteira tá ouvindo ele, de norte a sul, ele é uma figura popular! O prefeito, é uma figura popular. Foi eleito pelo povo! O cidadão que anda na Câmara com o chapéu de engenheiro, é uma figura popular. O cara tá na Câmara, e todo mundo conhece o cara na Câmara, não perde uma sessão. É mais presente que qualquer vereador. Aí dizem: “ele é louco!”. E daí? Qual o problema? Ele deixa de ser uma figura popular? Não incomoda ninguém, é uma loucura do bem! Ele é uma figura popular!
Feirenses: Como fundador do Bloco Tracajá, como você enxerga o desenvolvimento da Micareta de Feira de Santana?
Tracajá: A Micareta é uma grande festa, é um marco em Feira de Santana. Tem que ter as grandes atrações, mas a Micareta precisa ser mais distribuída, no sentido de que se crie novos espaços, que se dê alternativas, para não ficar preso só a blocos de trio. Aquela festa parecendo uma repetição do Carnaval de Salvador. É uma réplica do Carnaval de Salvador.
Acho que aqui a gente tem que ter como base o que se faz no Rio de Janeiro. O Rio mantém o seu grande “filé”, que é o desfile das escolas de samba, mas eles têm os blocos de rua. Está lá, vivo! Mais de quatrocentos blocos nos bairros. A gente precisa aqui valorizar isso, não ficar exclusivamente dedicado ao trio elétrico, às grandes atrações. É você saber distribuir a festa, organizando de uma maneira que todos participem da festa.
A Micareta para mim é uma manifestação cultural também. Desfile de escola de samba, blocos de afoxé, trio, enfim… Ela precisa ser melhor distribuída. E o Bloco Tracajá é uma alternativa, por quê? Porque durante todos os dias é só trio elétrico. Não é saudosismo, mas queremos uma coisa diferente.
Qual a diferença do bloco? Eu criei a Orquestra Sinfônica do Bloco Tracajá. Aí você tem um grupo de sanfoneiros, tem o pessoal de sopro, tem samba de roda, você tem de tudo na avenida! É um bloco que não tem corda, um bloco alternativo. Não tem saudosismo, porque nós temos muitos jovens que participam com a gente. E essa foi a ideia, fazer algo diferente. E nisso tem dado certo, já estou no décimo terceiro ano do Bloco Tracajá.
Com muita dificuldade, porque a gente não vende a camisa. A gente troca a camisa por pacote de fralda geriátrica e consegue uns anunciantes com muita dificuldade. É aquilo que eu falei sobre a grana da cultura popular. Porque um bloco desse, no meu estilo, eu poderia ter uma verba do Governo do Estado, ou do Município. Uma verba que pudesse ser acompanhada. Não pode pegar o dinheiro do Estado e distribuir aleatoriamente. É um bloco sem fins lucrativos! Esse ano quase que eu não coloco. Correndo atrás, muita dificuldade, e você não pode forçar as empresas a ajudar. É uma luta, eu não tenho recursos!
No meu bloco vão quatro, cinco, seis sanfoneiros. E o pessoal vai pra tocar, às vezes só com a água e a cerveja. Vai o cara com o violão, com o bandolim, tudo quanto é instrumento. A mistura de ritmos. É a sinfônica Tracajá! E são todos abnegados, pessoas que vão ali para brincar, fazer algo diferente, com crianças, com velho, bloco aberto, sem corda.
Assim como tem o Bloco Tracajá poderia ter outros blocos. A Prefeitura até fez um grito de Micareta na São Domingos. Isso deveria ser alimentado em outros bairros, pra que as pessoas criassem, em seus bairros. Com fantasias, bonecos, bandinha. Mas hoje só tem pagodão, com gente dando tiro, porrada! É nesse sentido.
Feirenses: De onde vem esse “Tracajá”?
Tracajá: Isso é uma onda retada… Eu tinha um amigo aqui em Feira muito tirado, uma figura fantástica, que já faleceu, e foi passar um tempo em Manaus. Na época estava numa fase em que na Bacia Amazônica tinha tracajá demais. Virou praga, como se fosse pardal. E aí tudo quanto era coisa ruim, a gente chamava de tracajá. Ele me ensinou. “Ah… fulano é um tracajá!”, ou seja, aquilo que não presta.
Aí chegou um tempo em que vi duas matérias na Rede Globo falando da matança dos tracajás, que estavam quase entrando em extinção. De tanto nego matar. Aí pensei: tá na hora de levantar essa causa. Primeiro adotei o nome, e ficou Reginaldo Tracajá, depois decidi criar o Troféu Tracajá, para homenagear as pessoas que não participam desses grandes troféus que têm na cidade, muito bonitos, muito bem organizados. Mas ficam umas pessoas alijadas desse “glamour”, aí eu decidi criar uma coisa despojada, embora dentro de um espírito de respeitabilidade, óbvio.
“Perdemos as nossas praças. Praça para mim é um negócio importantíssimo. Adoro praça! É um local onde as pessoas se encontram, onde pode se desenvolver atividades culturais, fazer amizade.”
Aí criei o Troféu e criei o Bloco. Quem recebe o Troféu Tracajá hoje são as pessoas que têm relevantes serviços prestados à comunidade, não importa em que área. E já temos 12 anos nisso. É uma forma de homenagearmos as pessoas que não são homenageadas nas grandes festas glamurosas. Apesar de que a minha também é glamurosa. Como decidimos que seria a festa? “Vamos fazer em qualquer bar desse aí. O bar que a gente achar melhor vai ser”. Uma festa aberta, a gente manda confeccionar os troféus, convida as pessoas e cada um paga sua conta. Ninguém pede nada a ninguém! É muita música, brincadeira, e a gente termina passando uma tarde alegre, no mês de dezembro.
Feirenses: Olhando para trás, o que você acha que Feira de Santana perdeu?
Tracajá: Perdemos as nossas praças. Praça para mim é um negócio importantíssimo. Adoro praça! É um local onde as pessoas se encontram, onde pode se desenvolver atividades culturais, fazer amizade. A minha infância foi toda na praça. Praça da Matriz, Fróes da Mota, por ali. A gente vivia a praça! Hoje a praça é palco de vagabundagem. Palco de ponto de distribuição de droga. Palco de distribuição de coisa ruim. Acho que deveria ter um resgate das praças em Feira.
Também perdemos o respeito. As pessoas não têm mais respeito. Ninguém respeita ninguém. Me dá tristeza isso. Antigamente, nós éramos moleques, mas tínhamos respeito. Tínhamos a barreira dos pais, do cidadão. “Ah, que a cidade era menor”, mas não acho isso. Perdemos o respeito mesmo de um com o outro. Em todos os sentidos!
Feirenses: E atualmente, o que lhe agrada na cidade?
Tracajá: Feira é uma cidade fantástica, hospitaleira, com pessoas que têm o que oferecer em todos os sentidos. A gente tem um cara aqui em Feira apaixonado pela cidade, o José Carlos Pedreira, Zé Coió, que vive Feira de Santana intensamente, louco pela cidade. São essas pessoas que me fazem ficar em Feira.
O que me constrange um pouco na cidade é o trânsito desordenado, as vias sem trafegabilidade, a falta de espaço nos bairros. Mas isso pode-se dar jeito, é só querer.
Feirenses: Esse é um debate atual. Você enxerga soluções para a questão da mobilidade urbana em Feira?
Tracajá: Para ser sincero, eu não conheço o projeto do BRT. Não me envolvi com a discussão nem através da minha coluna, só estou acompanhando o que a moçada divulga. Mas eu acho que tanto a direita quanto a esquerda estão cometendo um pecado com Feira de Santana. Estão brincando com a cidade, na medida em que a Prefeitura não trouxe um técnico de viabilidade urbana para que viesse explicar o projeto. Um técnico de verdade! Com uma entrevista na televisão, uma coletiva. A esquerda também, que trouxesse um técnico que explicasse claramente porque o projeto está errado.
Fica a Prefeitura com um interlocutor que não é da área e a esquerda coloca uma pessoa que não transmite confiança, e aí dá esse imbróglio, e a população parada, sendo prejudicial aos comerciantes da Maria Quitéria, com a obra parada. A gente precisava de alguém que viesse não agradar o Prefeito ou a esquerda ou a direita, mas que desse satisfações e esclarecimentos técnicos. Isso me entristece na cidade.
“Nós ficamos aqui sem transporte dez dias. Não tinha plano B, plano C, plano D. É assim? Uma cidade do tamanho de Feira?”
Eu tenho um amigo, que é engenheiro de uma grande operadora de telefonia, alguém da área estratégica da empresa, que me disse que a Prefeitura de Feira solicitou que eles viessem para Feira de Santana dar uma olhada onde estavam fazendo as escavações da obra para implantação do BRT. Ele escalou dois engenheiros para vir a Feira, que começaram a discutir com um representante da Prefeitura e se assustaram quando viram que essa pessoa era um veterinário. Os engenheiros voltaram para Salvador, se reportaram a esse meu amigo, e disseram que um veterinário estava discutindo engenharia com eles. Ridicularizaram a situação, porque a cidade podia dar uma pane de telefonia se uma escavação errada acontecesse.
Qual a nossa responsabilidade com a cidade? Uma situação dessa tem que ter um técnico! Dizem que não tem que ser da área pra entender as coisas, mas é preciso ser técnico, ter experiência. Engenharia não se aprende na internet! Já pensou, se dá um pane? Tem que ter alguém que entenda.
Nós ficamos aqui sem transporte dez dias. Não tinha plano B, plano C, plano D. É assim? Uma cidade do tamanho de Feira?
Feirenses: Como você enxerga a política municipal em 2016?
Tracajá: O cenário político aqui é o mesmo. Repete José Ronaldo. Acho que ele não cansou ainda, devia botar alguém com sangue novo, mas acho que ele não vai querer ficar 2 anos sem mandato. Mas a eleição vai ser mais difícil com o veto de financiamento de campanha por empresa.
Aparentemente vamos ter muitos candidatos. Colbert disse que ia ser candidato, não sei se é para trabalhar o nome, o político tem muito isso. O importante é que seu nome esteja na boca do povo. O próprio Zé Ronaldo, não falou ainda, mas certamente é candidato à reeleição. Zé Neto, que seria um bom candidato. É um cara ótimo, mas tem uma resistência de algumas pessoas. Mas é um cara com uma responsabilidade grande com o Governo do Estado. É líder do Governo. Mas tem essa resistência.
O menino do PSOL, Jonathas, provavelmente sai. Não sei se está trabalhando o nome dele também para depois ser candidato a vereador. Se fosse para vereador teria uma eleição garantida, já que tem muitos votos dos jovens. Como prefeito não, seria só pra tirar votos de alguém do PT ou do PSB, porque quanto mais candidatos mais se consegue desbancar um pouco Zé Ronaldo. Mas com isso tudo, me parece que é Zé Ronaldo de novo. Esse é o quadro.
Fotos: Ena Lélis
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