Passando entre os jogadores de dominó que aproveitam a sombra da Praça da Matriz, vai passando Rogério Márcio, empurrando o carrinho amarelo de sorvete com uma habilidade ímpar para anunciar seu produto: a voz bem entonada como a de um locutor de rádio. Morador do bairro 35º BI, ele sai todo os dias de casa para pegar o carrinho no centro, e rodar pelo máximo de lugares possível oferecendo sorvete a quem encontra.

Funciona assim: ele vai à fábrica de sorvetes, pega o carrinho cheio e recebe a comissão por cada sorvete que vende. “Na média dá uns 20 reais por dia. Depende do dia”, diz ele.

 

Com 33 anos de idade, Rogério tem 3 filhos, e já trabalhou com locução promovendo produtos na frente de lojas de confecção, onde adquiriu a habilidade que usa na venda dos sorvetes. Perguntado se nunca pensou em trabalhar no rádio, ele desconversa, com timidez: “nunca pensei não, porque o estudo que eu tenho é pouco”.

A timidez, aliás, é um traço marcante no sorveteiro-locutor, que parece encontrar refúgio para a vergonha na necessidade de vender seus produtos, levando-o a cantar e abordar qualquer potencial cliente que passe.

Rogério Márcio diz que não tem muito tempo pra fazer outra coisa a não ser trabalhar (à noite, complementa a renda vendendo milho cozido). Mas quando pode, “gosto de bater um babinha”.