Passadas as eleições municipais, sobram na Feira de Santana os burburinhos comuns à forma futebolesca com que nosso povo entende a “festa da democracia”. Piadas jocosas são direcionadas aos perdedores e comemorações festivas são promovidas por quem venceu. Na Câmara de Vereadores de Feira de Santana, o tom foi de agradecimento por parte de quem foi reeleito, e de lamento por quem não se reelegeu. De maneira geral, os lamentos foram ponderados, beirando a elegância. Falava-se em “respeito à democracia” e à “vontade do povo”. Perseverantes, os derrotados disseram que continuariam “realizando o trabalho em benefício da comunidade, mesmo sem mandato”.
Entre os vereadores que não conseguiram se reeleger, porém, um deles chama a atenção, por destoar desse discurso que alinhava aqueles que não tiveram sucesso nas urnas. Foi o vereador Antonio Rodrigues Pedreira, o Tonhe Branco, reconhecida liderança comunitária no bairro Aviário, que só contou 563 votos, muito abaixo dos 3.654 da eleição de 2012. Tonhe Branco mostrou-se pra lá de indignado, e denunciou sua insatisfação com diversos (f)atores da política feirense.
Embora tenha sido eleito pelo Partido Social Cristão (PSC), onde estão políticos como Jair Bolsonaro, Marco Feliciano e Irmão Lázaro, Tonhe acabou se candidatando em 2016 pelo Partido Humanista da Solidariedade (PHS), que nasceu de um rompimento de integrantes do PSC. Em seu discurso, o PHS foi o primeiro a ser criticado: “Eu vim para um partido tão maldito, partido esse que nem um copo de água a Tonhe Branco doou, esse PHS. Ingrato!”, diz ele usando a terceira pessoa, estratégia retórica eficiente para não soar como se estivesse falando dele mesmo.
Tonhe também mostrou-se traído por seus indicados para assumir cargos na Prefeitura: “Toda hora as pessoas me ligas. Pessoas que são ligado a mim, que tem cargo meu vinculado na Prefeitura dizendo para o povo que eu tou entre a vida e a morte no UTI do Clériston Andrade pela minha derrota. Mas eu sou vitorioso, hoje estou aqui. Não tomei remédio nenhum porque tenho um Deus que me segue”.
O Prefeito José Ronaldo de Carvalho não é poupado: “Eu me preocupei muito com o Prefeito José Ronaldo, enquanto o Prefeito não se preocupou com Tonhe Branco”, diz ele novamente usando a terceira pessoa.
A Câmara de Vereadores de Feira possui seis comissões, cada uma com três membros, possibilitando que dezoito vereadores assumam as vagas. A Mesa Diretora possui sete membros. De acordo com o site da Câmara de Vereadores, o vereador Antonio Rodrigues Pedreira não possui assento em nenhuma das comissões, muito menos na Mesa Diretora. Em 2015, entrevistado pela Assessoria de Comunicação da Câmara de Vereadores, Tonhe Branco denuncia que, embora crie projetos, eles não são aprovados:
Entre os projetos de Tonhe Branco, estão a instalação de portas giratórias com detector de metais em casas lotéricas de Feira, e a obrigatoriedade de contratação de músicos locais para as inaugurações de obras na cidade. Nenhuma das duas propostas foram aprovadas pelos colegas.
Ainda em seu discurso, Tonhe Branco elencou outros culpados por sua não reeleição: “Na eleição passada eu tive três mil, seiscentos e cinquenta e quatro votos, mas o César disse que tirava minha reeleição, juntamente com dois deputados. Esses dois deputados que não tem serviço prestado nenhum em Feira de Santana tiraram minha reeleição”.
Ele também alegou que algumas obras foram atrasadas com o propósito de prejudicar sua campanha: “Quero dizer como meu bairro foi humilhado e eu fui pisado e massacrado pelo poder público. As ruas que foram feitas três anos atrás, dentro do meu bairro, não foram inaugurada. O povo só pau em Tonhe Branco”.
De novo, “César”(?) é citado: “César, que disse que era meu amigo, chegou às mãe de família: ‘como é que você vai dar um voto a um vagabundo desse que é Tonhe Branco?”. Dando tapas na mesa da tribuna, e dirigindo-se ao vereador Pablo Roberto, ele diz: “tem gente que tão me acabando. Me acabaram em Facebook, Whatsapp. César postou um vídeo na rede social que vazou na internet. Foi o vídeo que tirou minha eleição!”.
Dirigindo-se ao Líder do Governo, vereador Zé Carneiro, Tonhe Branco brada indignado: “O que fizeram foi a crueldade, maldade, eu não achei nada de ninguém. Todo deputado que eu ia, nada! As pessoas que eu dou os título aqui e fui atrás de qualquer coisa, não achei nada”.
A esta altura do discurso, ele deixa os espectadores intrigados com o uso da palavra “título”, e repete: “Vou voltar a essa casa em 2020 mas mais nunca eu dou um título a homem nenhum. Que eles dá e eles não retribui com nosso apoio”.
Tonhe Branco também aponta o dedo para a ingratidão do eleitor: “Levei quinze ruas para o Limoeiro, o Limoeiro todo pavimentado, no lote ninguém pisa mais de lama, Tonhe Branco só teve quinze votos”.
No final de sua fala, Antonio Rodrigues Pedreira manda um recado àqueles que assumirão mandato em 2017, alguns deles presentes na galeria da Câmara: “Vocês vão ver como o sistema aqui funciona, que não é o que vocês dizia”, diz ele, sem a polidez dos que se conformaram com a derrota.
Assista aqui o discurso de Tonhe Branco (a partir de 1h52min).