— Qual a farinha boa que tu tem aí, Egídio?

— Tem uma copioba aqui da boa, torradinha. Quer quantos quilos?

Seu Egídio responde aos muitos clientes que aparecem, buscando farinha, feijão e outros insumos que vende no galpão de cereais do Centro de Abastecimento. Com voz grave e brilhante, demonstra ter muita disposição para o trabalho, mesmo estando aos 73 anos de idade.

Egídio

 

Natural de Candeal, encontrou em Feira de Santana a oportunidade de se desenvolver comercialmente, através da venda de farinha, trabalho que faz há cinquenta anos, ainda quando o atual Mercado de Arte Popular era um mercado comum. Também chegou a atuar na Marechal Deodoro, até que o Centro de Abastecimento foi fundado, e Egídio esteve entre os primeiros comerciantes do lugar: “Foi José Falcão que trouxe agente pra cá, isso lá em 1977!”, diz ele relembrando o início do Centro.

Perguntado sobre aposentadoria, responde imediatamente: “Não penso em parar não. Parado a gente fica muito amofinado depois de velho. E aqui não, você fica ligado!”. Logo após ele dá uma grande gargalhada, como quem brinca as necessidades da velhice.

Seu Egídio

 

Seu Egídio tem oito netos e cinco filhos, o mais velho com mais de 40 anos. A esposa tem 68, e também é natural de Candeal. Frequentador da Igreja Internacional da Graça, ele faz questão de exaltar o cuidado com a saúde e a vida ortodoxa que segue: “Nunca fui de bebida. Nunca fumei na minha vida… Graças a Deus. Ontem mesmo, peguei o resultado dos exames de próstata, que faço todo ano. Tem exame que faço de seis em seis meses… Tudo em cima. Eu me cuido bem! Não sinto nada!”.

Além da prevenção médica, faz exercícios físicos regulares. Como mora no bairro Jardim Cruzeiro, caminha e corre na Rua Andaraí.

Ao ser perguntado sobre como se diverte, Seu Egídio não sabe bem o que responder. Parece não fazer sentido para ele a existência de atividades feitas para a diversão, já que sorri, gargalha e descontrai ali, no cotidiano, orgulhoso de portar seus mais de 70 anos saudáveis, sem qualquer indício de vulnerabilidade.

Peço dois quilos de copioba e saio com a grande lição: o sorriso foi feito para o dia-a-dia.